O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A caminho da Luz — Emmanuel


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A Grécia e a Missão de Sócrates

(Sumário)

1. Nas vésperas da maioridade terrestre.


1 Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, uma numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa maturação do pensamento terrestre.

2 As cidades populosas do globo enchem-se, então, de homens cultos e generosos, de filósofos e de artistas, que renovam, para melhor, todas as tendências da Humanidade.

3 Grandes mestres do cérebro e do coração formam escolas numerosas na Grécia, que assumia a direção intelectual do orbe inteiro. 4 A maioria desses pensadores, que eram os enviados do Cristo às coletividades terrestres, traz do círculo retraído e isolado dos templos os ensinamentos dos grandes iniciados para as praças públicas, pregando a verdade às multidões.

 5 Assim como a organização do homem físico exigira as mais amplas experiências da natureza, antes de se fixarem os seus caracteres biológicos definitivos, a lição de Jesus, que representa o roteiro seguro para a edificação do homem espiritual, deveria ser precedida pelas experiências mais vastas no campo social.

6 É por essa razão que observamos, nos cinco séculos anteriores à vinda do Cordeiro, uma aglomeração de inúmeras escolas políticas, religiosas e filosóficas dos mais diversos matizes, em todos os ambientes do mundo.


 2. Atenas e Esparta.


1 Muitas teorias científicas, que provocam o sensacionalismo dos vossos dias, como inovações ultramodernas, foram conhecidas da Grécia, em cujos mestres têm os seus legítimos fundamentos.

2 Em matéria de doutrinas sociais, grandes experimentos foram realizados, divulgando-se a mais farta colheita de ensinamentos;  3 e quando meditamos no conflito moderno entre os Estados totalitários, fascistas ou comunistas e as repúblicas democráticas, devemos volver os olhos ao passado, revendo Atenas e Esparta como dois símbolos políticos que nos fazem pensar na plena atualidade da Grécia antiga.

4 Os espartanos, sob o regime atribuído a Licurgo, nome que constitui apenas uma representação simbólica dos generais da época, vivendo a existência absoluta do Estado, não expressaram a mesma fisionomia da Alemanha e da Rússia atuais? 5 A legislação de Esparta, proibia o comércio, condenava a cultura; cerceando o gosto pessoal em face das bagatelas encantadoras da vida e do sentimento, decretou medidas de isolamento, maltratando os estrangeiros, instituiu a uniformidade dos vestuários, incumbiu-se da educação das crianças através dos órgãos do Estado, mas não cultivava a parte intelectual, abalando todo o edifício sagrado da família e criando, muitas vezes, o regime do roubo e da delação, em detrimento das mais nobres finalidades da vida.

6 Por essa razão, Esparta passou à história como um simples povo de soldados espalhando a destruição e os flagelos da guerra, sem nenhuma significação construtiva para a Humanidade.

7 Atenas, ao contrário, é o berço da verdadeira democracia. Povo que amou profundamente a liberdade, sua dedicação à cultura e às artes iniciou as outras nações no culto da vida, da criação e da beleza. 8 Seus legisladores, que, como Sólon, eram filósofos e poetas, reformaram todos os sistemas sociais conhecidos até então, protegendo as classes pobres e desvalidas, estabelecendo uma linha harmônica entre todos os departamentos da sociedade, acolhendo os estrangeiros, protegendo o trabalho, fomentando o comércio, as indústrias, a agricultura.

9 Lá começou o verdadeiro regime de consulta à vontade do povo, que decidia, em assembleias numerosas, todos os problemas da cidade venerável. 10 E é bem fácil reconhecer aí o início das democracias modernas, que agora se organizam, nas transições do século XX, para a repressão de todas as doutrinas nefastas da força e da violência.


 3. Experiências necessárias.


1 Semelhantes experiências, no campo sociológico, foram incentivadas e acompanhadas de perto pelos prepostos de Jesus, respeitadas as grandes leis da liberdade individual e coletiva.

2 O mundo precisava conhecer a boa e a má semente, nas grandes transformações da sua existência. A exemplificação do Cristo necessitava de uma elevada compreensão no seio da cultura e da experiência de todos os séculos transcorridos e, embora as lutas renovadoras que a antecederam, no orbe, há dois milênios que o Evangelho do Mestre espera a floração do perfeito entendimento dos homens.


 4. A Grécia.


1 Ao influxo do coração misericordioso do Cristo, toda a Grécia se povoa de artistas e pensadores eminentes, no quadro das filosofias e das ciências. Aí que vamos encontrar as escolas Itálica e Eleática, à frente do fervoroso idealismo de Pitágoras e Xenófanes, sem esquecermos, igualmente, as escolas Jônica e Atomística com Tales e Demócrito, nas expressões do mais avançado materialismo.

2 O século de Péricles, chegando a um apogeu de beleza e de cultura com os elevados princípios recebidos da civilização egípcia, espalha os mais soberbos clarões espirituais nos horizontes da Terra. Poucas fases da evolução europeia se aproximaram desse século maravilhoso.

3 O Salvador contempla, das Alturas, essa época de elevadas conquistas morais, cheio de amor e de esperança. 4 O planeta terrestre aproximava-se da sua maioridade espiritual quando, então, poderia Ele nutrir o coração humano com a sementeira bendita da sua palavra. 5 Envia, então, às sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos, nas figuras de Ésquilo, Eurípedes, Heródoto e Tucídides, e por fim a extraordinária personalidade de Sócrates, no intuito de realizar o coroamento do esforço decidido de tantos mensageiros.


 5. Sócrates.


1 É por isso que, de todas as grandes figuras daqueles tempos longínquos, somos compelidos a destacar a grandiosa figura de Sócrates, na Atenas antiga.

2 Superior a Anaxágoras, seu mestre, como também imperfeitamente interpretado pelos seus três discípulos mais famosos, o grande filósofo está aureolado pelas mais divinas claridades espirituais, no curso de todos os séculos planetários. 3 Sua existência, em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo.  4 Sua palavra confunde todos os espíritos mesquinhos da época e faz desabrochar florações novas de sentimento e cultura na alma sedenta da mocidade. 5 Nas praças públicas, ensina à infância e à juventude o formoso ideal da fraternidade e da prática do bem, lançando as sementes generosas da solidariedade dos pósteros.

6 Mas Atenas, como cérebro do mundo de então, apesar do seu vasto progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro de Jesus.

7 Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilando-lhes o veneno da liberdade nos corações.

8 Preso e humilhado, seu espírito generoso não se acovarda diante das provas rudes que lhe extravasam do cálice de amarguras.  9 Consciente de sua missão, recusa-se a fugir do próprio cárcere, cujas portas se lhe abrem às ocultas pela generosidade de alguns juízes.

10 Os enviados do Plano Invisível cercam-lhe o coração magnânimo e esclarecido, nas horas mais ásperas e agudas da provação;  11 e quando Xantipa, sua esposa, vem às grades da prisão, comunicar-lhe a nefanda condenação à morte pela cicuta, ei-la exclamando no auge da angústia e desesperação:

— “Sócrates, Sócrates, os juízes te condenaram à morte…”

— “Que tem isso? — responde resignadamente o filósofo — eles também estão condenados pela Natureza.”

— “Mas essa condenação é injusta…” — soluça ainda a esposa desconsolada.

E ele a esclarece com um olhar de paciência e de carinho:

— “E querias que ela fosse justa?”

12 Senhor do seu valoroso e resignado heroísmo, Sócrates abandona a Terra, alçando-se de novo aos páramos constelados, onde o aguardava a bênção de Jesus.


 6. Os discípulos.


1 O grande filósofo que ensinara à Grécia as mais belas virtudes, como precursor dos princípios cristãos, deixou vários discípulos, dos quais se destacaram Antístenes, Xenofonte e Platão.  2 Falaremos, apenas, deste último, para esclarecer que nenhum deles soube assimilar perfeitamente a estrutura moral do mestre inesquecível. 3 A História louva os discursos de Platão, mas nem sempre compreendeu que ele misturou a filosofia pura do mestre com a ganga das paixões terrestres, enveredando algumas vezes por complicados caminhos políticos. 4 Não soube, como também muitos dos seus companheiros, conservar-se ao nível de alta superioridade espiritual, chegando mesmo a justificar o direito tirânico dos senhores sobre os escravos, sem uma visão ampla da fraternidade humana e da família universal.

5 Contudo, não deixou de cultivar alguns dos princípios cristãos legados pelo grande mentor, antecipando-se ao apostolado do Evangelho, antes de entregar a sua tarefa doutrinária a Aristóteles, que ia também trabalhar pelo advento do Cristianismo.


 7. Provação coletiva da Grécia.


1 A condenação de Sócrates foi uma dessas causas transcendentes de dolorosas e amargas provações coletivas, para todos os espíritos que participaram delas, na medida justa das responsabilidades pessoais entre si.

2 E é em razão disso que, mais tarde, vemos o povo nobre e culto de Atenas fornecendo escravos valorosos e sábios aos espíritos agressivos e enérgicos de Roma. Eles iam nas galeras suntuosas, humilhados e oprimidos, sem embargo das suas elevadas noções da vida, do amor, da liberdade e da justiça.

3 É verdade que iam instaurar um novo período de progresso espiritual para as coletividades romanas, com os seus luminosos ensinamentos, mas o processo evolutivo poderia ladear outros caminhos, longe do morticínio e da escravidão. 4 Todavia, sobre a fronte de muitos gregos ilustres, pairava o sanguinolento labéu daquela injusta condenação, labéu ignominioso que a Grécia deveria lavar com as lágrimas dolorosas da compunção e do cativeiro.


Emmanuel


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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