O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IX — Outubro de 1866.

(Idioma francês)

O zuavo curador do Campo de Châlons.

[Continuação. Revista de novembro de 1866.]

7. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PROPAGAÇÃO DA MEDIUNIDADE CURADORA.

(Vide o artigo do mês anterior sobre o zuavo curador.)

Antes de mais, devemos fazer algumas retificações em nosso relatório das curas do Sr. Jacob. Sabemos por este último que a cura da menina, chegada a Ferté-sous Jouarre,  †  não se deu em praça pública; é certo que foi lá que a viu, mas a cura ocorreu em casa de seus pais, onde a fez entrar. Isto em nada altera o resultado; mas esta circunstância dá à ação um caráter menos excêntrico.

Por seu lado, o Sr. Boivinet nos escreve: A respeito da proporção dos doentes curados, eu quis dizer que sobre 4.000, um quarto não experimentou resultados, e que do resto, ou 3.000, um quarto foi curado e três quartos aliviados. De uma outra passagem do artigo poder-se-ia pensar que eu tenha atestado a cura de membros anquilosados; eu quis dizer que o Sr. Jacob tinha endireitado membros enrijecidos, rígidos como se estivessem anquilosados, nada mais, o que não quer dizer que ele não tenha curado anquiloses;  †  apenas o ignoro. Quanto aos membros enrijecidos por dores, paralisando em parte a faculdade do movimento, constatei em último lugar três casos de cura instantânea; no dia seguinte um dos doentes estava completamente curado; o outro tinha liberdade de movimento, persistindo uma dor residual com a qual, dizia-me ele, acomodar-se-ia para sempre de boa vontade. Não revi o terceiro doente.”

Teria sido deveras surpreendente que o diabo não tivesse vindo meter-se neste negócio. Outra pessoa nos escreve de uma das localidades onde se espalhou o ruído das curas do Sr. Jacob: “Aqui, grande emoção na comuna e no presbitério. A serva do Sr. cura, tendo encontrado duas vezes o Sr. Jacob na única rua da região, está convicta de que ele é o diabo e que a persegue. A pobre mulher refugiou-se numa casa onde quase teve um ataque de nervos. É verdade que o traje vermelho do zuavo pode tê-la feito crer que ele saía do inferno. Parece que se prepara aqui uma cruzada contra o diabo, para dissuadir os doentes de se fazerem curar por ele”

Quem pôde meter na cabeça dessa mulher que o Sr. Jacob é o diabo em pessoa e que as curas são uma velhacaria de sua parte? Não disseram aos pobres de certa cidade que não deviam receber o pão e as esmolas dos espíritas, porque era uma sedução de Satã? e, alhures, que mais valia ser ateu do que voltar a Deus pela influência do Espiritismo, porque ainda aí era uma astúcia do demônio? Em todo o caso, atribuindo tantas coisas boas ao diabo, fazem tudo o que é necessário para o reabilitar na opinião. O que é mais estranho é que de semelhantes ideias ainda se alimentem populações a algumas léguas de Paris. Assim, que reação quando a luz se fizer nos cérebros fanatizados! É preciso convir que há gente muito desajeitada.


8. — Voltemos ao nosso assunto: as considerações gerais sobre a mediunidade curadora.

Dissemos, e nunca seria demais repetir, que há uma diferença radical entre os médiuns curadores e os que obtêm prescrições médicas da parte dos Espíritos. Estes não diferem em nada dos médiuns escreventes ordinários, a não ser pela especialidade das comunicações. Os primeiros curam só pela ação fluídica, em mais ou menos tempo, às vezes instantaneamente, sem o emprego de qualquer remédio. O poder curativo está todo inteiro no fluido depurado a que servem de condutores. A teoria deste fenômeno foi suficientemente explicada para provar que entra na ordem das leis naturais, e que nada tem de miraculoso. É o produto de uma aptidão especial, tão independente da vontade quanto todas as outras faculdades mediúnicas; não é um talento que se possa adquirir; não se faz um médium curador como se faz um médico. A aptidão para curar é inerente ao médium, mas o exercício da faculdade não tem lugar senão com o concurso dos Espíritos; donde se segue que se os Espíritos não querem, ou não querem mais se servir dele, é como um instrumento sem músico, e nada obtém. Pode, pois, perder instantaneamente a sua faculdade, o que exclui a possibilidade de dela fazer uma profissão.

Outro ponto a considerar, é que sendo esta faculdade fundada em leis naturais, tem limites traçados por essas mesmas leis. Compreende-se que a ação fluídica possa dar sensibilidade a um órgão existente, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à percepção, cicatrizar uma ferida, porque, então, o fluido se torna um verdadeiro agente terapêutico; mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a destruição de um órgão, o que seria verdadeiro milagre. Assim, a vista poderá ser restituída a um cego por amaurose,  †  oftalmia, belida ou catarata,  †  mas não aos que tiverem os olhos furados. Há, pois, doenças incuráveis por natureza, e seria ilusão crer que a mediunidade curadora fosse livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades.

Além disso, é preciso levar em conta a variedade de nuanças apresentada por esta faculdade, que está longe de ser uniforme em todos que a possuem. Ela se apresenta sob aspectos muito diversos. Em razão do grau de desenvolvimento do poder, a ação é mais ou menos rápida, extensa ou circunscrita. Em dadas circunstâncias, tal médium triunfa sobre determinadas doenças em certas pessoas, mas falha por completo em casos aparentemente idênticos. Parece mesmo que nalguns a faculdade curadora se estende aos animais.

Neste fenômeno se opera uma verdadeira reação química, análoga à produzida pelos medicamentos. Atuando o fluido como agente terapêutico, sua ação varia segundo as propriedades que recebe das qualidades do fluido pessoal do médium. Ora, em razão do temperamento e da constituição deste último, o fluido está impregnado de elementos diversos, que lhe dão propriedades especiais. Pode ser, para nos servirmos de comparações materiais, mais ou menos carregado de eletricidade animal, de princípios ácidos ou alcalinos, ferruginosos, sulfurosos, dissolventes, adstringentes, cáusticos, etc. Daí resulta uma ação diferente, conforme a natureza da desordem orgânica; esta ação pode, pois, ser enérgica, muito poderosa em certos casos e nula em outros. É assim que os médiuns curadores podem ter especialidades: este curará as dores ou endireitará um membro, mas não dará a vista a um cego, e reciprocamente. Só a experiência pode dar a conhecer a especialidade e a extensão da aptidão; mas, em princípio, pode-se dizer que não há médiuns curadores universais, em virtude de não haver homens perfeitos na Terra, e cujo poder seja ilimitado.

A ação é completamente diferente na obsessão, e a faculdade de curar não implica na de libertar os obsidiados. O fluido curador age, de certo modo, materialmente sobre os órgãos afetados, ao passo que, na obsessão, é preciso agir moralmente sobre o Espírito obsessor; há que se ter autoridade sobre ele, para o fazer largar a presa. São, pois, duas aptidões distintas, que nem sempre se encontram na mesma pessoa. O concurso do fluido curador torna-se necessário quando, o que é bastante frequente, a obsessão se complica com afecções orgânicas. Pode, pois, haver médiuns curadores impotentes para a obsessão, e reciprocamente.

A mediunidade curadora não vem suplantar a Medicina e os médicos; vem, simplesmente, provar a estes últimos que há coisas que eles não sabem e os convidar a estudá-las; que a Natureza tem leis e recursos que eles ignoram; que o elemento espiritual, que eles desconhecem, não é uma quimera e que, quando o levarem em conta, abrirão novos horizontes à Ciência e triunfarão mais amiúde do que agora. Se esta faculdade fosse privilégio de um indivíduo, passaria despercebida; considerá-la-iam como uma exceção, um efeito do acaso, esta suprema explicação que nada explica, e a má vontade poderia facilmente abafar a verdade. Mas quando virem os fatos se multiplicando, serão forçados a reconhecer que não se podem produzir senão em virtude de uma lei; que se homens ignorantes levam a melhor onde os sábios fracassam, é que estes não sabem tudo. Isto em nada prejudica a Ciência, que será sempre a alavanca e a resultante do progresso intelectual. Só o amor-próprio dos que a circunscrevem nos limites de seu saber e da materialidade pode sofrer com isto.

De todas as faculdades mediúnicas, a mediunidade curadora vulgarizada é a que está chamada a produzir mais sensações, porque em toda parte há doentes, e em grande número, e não é a curiosidade que os atrai, mas a necessidade imperiosa de alívio. Mais que qualquer outra, ela triunfará sobre a incredulidade, tanto quanto sobre o fanatismo, que vê em toda parte a intervenção do diabo. A multiplicidade dos fatos forçosamente conduzirá ao estudo da causa natural e, daí, à destruição das ideias supersticiosas de feitiçaria, de poder oculto; de amuletos, etc.: Se se considerar o efeito produzido nos arredores do campo de Châlons por um só indivíduo, a multidão de pessoas sofredoras vindas num raio de dez léguas, pode julgar-se o que isto seria se dez, vinte, cem indivíduos aparecessem nas mesmas condições, quer na França, quer em países estrangeiros. Se disserdes a esses doentes que são joguete de uma ilusão, eles vos responderão mostrando a perna endireitada; que são vítimas de charlatães? dirão que nada pagaram e que não lhe venderam nenhuma droga; que abusaram de sua confiança? dirão que nada lhe prometeram.

É também a faculdade que mais escapa à acusação de charlatanice e de fraude; afronta a zombaria, porque nada há de visível num doente curado que a Ciência havia abandonado. O charlatanismo pode simular mais ou menos grosseiramente a maioria dos efeitos mediúnicos, e a incredulidade nele sempre procura os seus cordões. n Mas onde encontrará os cordões da mediunidade curadora? Podem ser dados golpes de habilidade para os efeitos mediúnicos, e os efeitos mais reais, aos olhos de certa gente, podem passar por golpes de mestre, mas que daria quem tomasse indevidamente a qualidade de médium curador? De duas, uma: cura ou não cura. Não há simulacro que possa suprir uma cura.

Ademais, a mediunidade curadora escapa completamente à lei sobre o exercício ilegal da Medicina, visto não prescrever nenhum tratamento. Com que penalidade se poderia atingir aquele que cura somente pela sua influência, secundada pela prece que, além disso, nada pede como preço de seus serviços? Ora, a prece não é uma substância farmacêutica. Em vossa opinião é uma parvoíce; seja. Mas se a cura está no fim dessa tolice, que direis vós? Uma tolice que cura vale bem os remédios que não curam. Puderam proibir o Sr. Jacob de receber doentes no campo e de ir à casa deles, e ele se submeteu dizendo que só retomaria o exercício de sua faculdade quando a interdição fosse levantada oficialmente, porque, sendo militar, quis mostrar-se escrupuloso observador da disciplina, por mais dura que fosse. Nisto agiu sabiamente, pois provou que o Espiritismo não leva à insubordinação; mas aqui é um caso excepcional. Desde que esta faculdade não é privilégio de um indivíduo, por que meio poderiam impedi-la de propagar-se? Se ela se propaga, queiram ou não, terão de aceitá-la com todas as suas consequências.

Como a mediunidade curadora depende de uma disposição orgânica, muitas pessoas a possuem, ao menos em germe, mas fica em estado latente por falta de exercício e de desenvolvimento. É uma faculdade que muitos ambicionam, e com razão. Se todos os que desejam possuí-la a pedissem com fervor e perseverança pela prece, e com fim exclusivamente humanitário, é provável que, desse concurso, saísse mais de um verdadeiro médium curador.

Não é de admirar ver pessoas favorecidas com esse dom precioso e que, à primeira vista, não parecem dignas desse favor. É que a assistência dos bons Espíritos é dispensada a todo o mundo, para abrir a todos a via do bem; mas cessa se não se souber tornar-se digno dela, melhorando-se. O mesmo se dá com os dons da fortuna, que nem sempre vem ao mais merecedor; é, então, uma prova para o uso que dela se faz: felizes os que saírem vitoriosos.

Pela natureza de seus efeitos, a mediunidade curadora exige imperiosamente o concurso de Espíritos depurados, que não poderiam ser substituídos por Espíritos inferiores, enquanto há efeitos mediúnicos para a produção dos quais a elevação dos Espíritos não é uma condição necessária e que, por esta razão, são obtidos mais ou menos em qualquer circunstância. Certos Espíritos até, menos escrupulosos que outros quanto a estas condições, preferem os médiuns em que encontram simpatia. Mas pela obra se reconhece o obreiro.

Há, pois, para o médium curador necessidade absoluta de atrair o concurso dos Espíritos superiores, se quiser conservar e desenvolver sua faculdade, senão, em vez de crescer, ela declina e desaparece pelo afastamento dos bons Espíritos. A primeira condição para isto é trabalhar em sua própria depuração, a fim de não alterar os fluidos salutares que está encarregado de transmitir. Esta condição não poderia ser preenchida sem o mais completo desinteresse material e moral. O primeiro é mais fácil; o segundo é mais raro, porque o orgulho e o egoísmo são os sentimentos mais difíceis de extirpar e porque várias causas contribuem para os superexcitar nos médiuns. Desde que um deles se revele com faculdades um pouco transcendentes – falamos aqui dos médiuns em geral, escreventes, videntes e outros – é procurado, adulado e alguns sucumbem à tentação da vaidade. Sem tardança, esquecendo que sem os Espíritos nada seria, considera-se como indispensável e o único intérprete da verdade; denigre os outros médiuns e se julga acima de conselhos. O médium que assim se encontra está perdido, porque os Espíritos se encarregam de lhe provar que podem passar sem ele, fazendo surgir outros médiuns mais bem assistidos. Comparando a série das comunicações de um mesmo médium, pode-se julgar facilmente se ele cresce ou degenera. Quantos vimos, oh! de todos os gêneros, cair triste e deploravelmente no terreno escorregadio do orgulho e da vaidade! Pode-se, pois, esperar ver surgir uma multidão de médiuns curadores. Nesse número, vários deles permanecerão como frutos secos e se eclipsarão, depois de terem brilhado passageiramente, enquanto outros continuarão a elevar-se.


9. — Eis um exemplo disto, que há seis meses nos assinalava um de nossos correspondentes. Num Departamento do Sul, um médium que se tinha revelado como curador, havia operado várias curas notáveis e sobre ele repousavam grandes esperanças. Sua faculdade apresentava particularidades que deram, num grupo, a ideia de fazer um estudo a respeito. Eis a resposta que obtiveram dos Espíritos, e que nos foi transmitida na ocasião. Ela pode servir de instrução a todos.

“X… realmente possui a faculdade de médium curador notavelmente desenvolvida. Infelizmente, como muitos outros, ele exagera muito o seu alcance. É um excelente rapaz, cheio de boas intenções, mas que um orgulho desmesurado e uma visão extremamente curta dos homens e das coisas farão periclitar prontamente. Seu poder fluídico, que é considerável, bem utilizado e secundado pela influência moral, poderia produzir excelentes resultados. Sabeis por que muitos de seus doentes só experimentam um bem-estar momentâneo, que desaparece quando ele não mais está lá? É que ele age somente por sua presença, mas nada deixa ao Espírito para triunfar dos sofrimentos do corpo.

“Quando parte, nada resta dele, nem mesmo o pensamento que segue o doente, no qual não pensa mais, ao passo que a ação mental poderia, em sua ausência, continuar a ação direta. Ele acredita em seu poder fluídico, que é real, mas cuja ação não é persistente, porque não é corroborada pela influência moral. Quando tem sucesso, fica mais satisfeito por ser notado do que por ter curado; e, contudo, é sinceramente desinteressado, pois coraria se recebesse a menor remuneração. Embora não seja rico, jamais pensou em fazer disto um recurso. O que deseja é que falem dele. Falta-lhe também a afabilidade de coração, que atrai. Os que vêm a ele ficam chocados por suas maneiras, que não geram simpatia, resultando uma falta de harmonia que prejudica a assimilação dos fluidos. Longe de acalmar e apaziguar as más paixões, ele as excita, crendo fazer o que é preciso para as destruir, e isto pela falta de raciocínio. É um instrumento desafinado; por vezes dá sons harmoniosos e bons, mas o conjunto só pode ser mau, ou, pelo menos, improdutivo. Também não é útil à causa quanto o poderia; a maior parte das vezes a prejudica, porque, por seu caráter, faz apreciar muito mal os resultados. É desses que pregam com violência uma doutrina de doçura e de paz.”

P. – Então pensais que ele perderá o seu poder curador?

Resposta. – Estou persuadido disto, a menos que ele entrasse no bom caminho, o que, infelizmente, não o creio capaz. Os conselhos seriam supérfluos, porque está convicto de saber mais que todo o mundo. Talvez parecesse escutá-los, mas não os seguiria. Assim, perde duplamente o benefício de uma excelente faculdade.

O acontecimento justificou a previsão. Mais tarde soubemos que esse médium, depois de uma série de insucessos que seu amor-próprio teve de sofrer, tinha renunciado a novas tentativas de curas.


10. — O poder de curar é independente da vontade do médium; é um fato constatado pela experiência. O que depende dele são as qualidades que podem tornar esse poder frutuoso e durável. Essas qualidades são, sobretudo, o devotamento, a abnegação e a humildade. O egoísmo, o orgulho e a cupidez são pontos de parada, contra os quais se quebra a mais bela faculdade.

O verdadeiro médium curador, o que compreende a santidade de sua missão, é movido pelo único desejo do bem; não vê no dom que possui senão um meio de tornar-se útil aos semelhantes, e não um degrau para elevar-se acima dos outros e pôr-se em evidência. É humilde de coração, isto é, nele a humildade e a modéstia são sinceras, reais, sem pensamento dissimulado, e não em palavras, que muitas vezes desmentem os atos. A humildade por vezes é um manto, sob o qual se abriga o orgulho, mas que não poderia iludir ninguém. Não procura o brilho, nem a fama, nem o ruído de seu nome, nem a satisfação de sua vaidade; não há, em suas maneiras, nem jactância, nem bazófia; não exibe as curas que realiza, ao passo que o orgulhoso as enumera com complacência, muitas vezes as amplifica, e acaba por se convencer de que fez tudo o que diz.

Feliz pelo bem que faz, não o é menos pelo que outros podem fazer; não se julgando o primeiro nem o último capaz, não inveja nem denigre nenhum médium. Para ele, os que possuem a mesma faculdade são irmãos que concorrem para o mesmo objetivo: ele diz que quanto mais os houver, maior será o bem.

Sua confiança em suas próprias forças não vai até a presunção de se julgar infalível e, ainda menos, universal; sabe que outros podem tanto ou mais que ele; sua fé é mais em Deus do que em si mesmo, pois sabe que tudo pode por ele, e nada sem ele. Eis por que nada promete, a não ser sob a reserva da permissão de Deus.

À influência material, junta a influência moral, auxiliar poderoso que dobra sua força. Por sua palavra benevolente, encoraja, levanta o moral, faz nascer a esperança e a confiança em Deus. Já é uma parte da cura, porque é uma consolação que predispõe a receber o eflúvio benéfico ou, melhor dizendo, o pensamento benevolente que é, por si só, um eflúvio salutar. Sem a influência moral, o médium só tem em si a ação fluídica, material e, de certo modo, brutal, insuficiente em muitos casos.

Enfim, para aqueles que possuem as qualidades do coração, o doente é atraído por uma simpatia que predispõe à assimilação dos fluidos, enquanto o orgulho e a falta de benevolência chocam e fazem experimentar um sentimento de repulsa, que paralisa essa assimilação.

Tal é o médium curador estimado pelos bons Espíritos. Tal é, também, a medida que pode servir para julgar o valor intrínseco dos que se revelarem e a extensão dos serviços que poderão prestar à causa do Espiritismo. Isto não significa que não se encontrem médiuns senão nestas condições, e que aquele que não reunisse todas as qualidades não possa momentaneamente prestar serviços parciais, sendo, pois, um erro o repelir. O mal é para ele, porque, quanto mais se afasta do modelo, menos pode esperar ver sua faculdade desenvolver-se e mais perto se acha de seu declínio. Os bons Espíritos só se ligam aos que se mostram dignos de sua proteção, e a queda do orgulhoso, mais cedo ou mais tarde, é a sua punição. O desinteresse é incompleto sem o desinteresse moral.



[1] N. do T.: Grifa nosso. Alusão aos cordões “invisíveis” manipulados pelos irmãos Davenport em suas mágicas, com vistas a simular alguns fenômenos mediúnicos em suas apresentações teatrais.


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