O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Novembro de 1865.

(Idioma francês)

POESIA ESPÍRITA.


Um fenômeno.

(Fábula.)

Por uma noite assim dessas primaveris,

Em que brilham nos céus as estrelas gentis,

E que bons burgueses da cidade

Falavam, caminhando e com tranquilidade,

Por espaçosas avenidas.

Cada qual a seu turno as vistas estendidas

Do solo aos campos celestiais,

   Sem dúvida pensais

Que os assuntos de seus discursos

Eram sobre o poder eternal, sem magia,

E que os corpos submetem às leis sãs harmonia?

   Não: eles davam outros cursos

Aos pensamentos seus; da bolsa à cotação,

Das colheitas ao preço, eram toda a atenção

   Em que se nutria sua alma,

   Quando um deles disse, sem calma,

Qual sob ação de súbito estupor:

“Que vejo? Pode ser? uma estrela em fulgor?

   Ora se eleva… ora descendo!”

   E esfregando os olhos: “Que digo,

Uma estrela… Pois creio, em minha fé, comigo,

Salvo que seja um sonho e nele esteja crendo;

Uma, duas ou três, quatro estrelas nos céus

   Movem-se e dançam em silêncio;

   Mistério estranho, a noite vence-o

Com prazer ocultando-o nos seus véus!”

E dos burgueses a alma atônita acompanha

   Suas fases fenomenais,

Que em vão, para o explicar, se afadiga demais;

   Aí só do acaso a artimanha.

Marcham, e entre os cordéis que lhes tocam na fronte

A sustentar pelo ar a cada papagaio

   Quando de uma luz de ensaio

   Ao sopro de uma brisa insonte;

E da criançada, autora enfim desse esplendor,

   Perto dela riam com amor.


Que disseram depois dessa dupla surpresa,

   Logo após seus desencantos?

   Que pelos céus tais fogos tantos

Mero artifício são, obra se singeleza,

Para tolos levar a tão grandes espantos.

O horizonte também em púrpura se inflama,

E envolve a noite então de luz misteriosa;

   Qual se de um meteoro a chama

Na escuridão dos céus resplandece radiosa;

Que uma estrela cadente em seus vivos anéis

   Queira os campos do éter rasgar,

Estes burgueses bons, de olhos e braços no ar,

   Vão tentar achar seus cordéis.


Se a verdade tem sempre alguma imitação,

Cabe-nos distinguir, e por comparação,

   Toda a verdade da intrujice.

O ceticismo vão leva à charlatanice

Ante fatos que são da lei eterna até.

E para julgar bem qualquer causa ou efeito.

   Possa um cético ser aceito:

   Se com modéstia, – e boa-fé.


C. Dombre, de Marmande.  † 


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