O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Abril de 1865.

(Idioma francês)

Manifestações espontâneas de Marselha.

(Sumário)

1. — Neste momento as manifestações de Poitiers  †  têm a sua contrapartida em Marselha.  †  Deve-se concluir que os assim chamados brincalhões, que perturbaram a primeira cidade, sem serem descobertos, transportaram-se para a segunda, onde também não o são? É de convir que são mistificadores muito hábeis, para assim frustrar as investigações da polícia e de todos quantos estão interessados em descobri-los.


A Gazette du Midi, de 5 de março, dá a respeito esta breve notícia:

“Durante o dia de sexta-feira, o bairro Chave estava em alvoroço, e no boulevard deste nome  †  numerosos grupos estacionavam perto da casa 80. Corria o rumor de que naquela casa passavam-se cenas estranhas, que tinham posto em fuga os moradores do imóvel enfeitiçado. Diziam que fantasmas passeiam por ali; a certa hora são ouvidos ruídos estranhos e mãos invisíveis fazem móveis, louças e objetos de cozinha se entrechocarem. Foi necessária a intervenção da polícia para manter a ordem no seio desses grupos, que aumentavam a cada instante. A propósito, o que há de razoável para dizer, parece, é que a casa de que se trata talvez não ofereça toda a solidez requerida, sobre um terreno minado pelas águas. Alguns estalos ouvidos, transformados pelo medo em jogos de bruxaria, terão gerado rumores que não tardarão a dissipar-se.”


Cauvière.


2. — Eis o relato circunstanciado que nos é transmitido pelo Dr. Chavaux, de Marselha, em data de 14 de março:

“Há cerca de quinze dias, tive a honra de vos dar alguns detalhes sobre as manifestações que, há mais de um mês, se produzem na casa nº 80 do Boulevard Chave. Não vos dizia senão o que tinha ouvido dizer; hoje venho dizer o que eu mesmo vi e ouvi.

“Tendo obtido permissão de visitar a casa, dirigi-me sexta-feira, 10 de março, ao apartamento do primeiro andar, ocupado pela Sra. A… e suas duas filhas, uma de oito anos e outra de dezesseis. A uma hora em ponto houve uma forte detonação na mesma casa, seguida de nove outras, no espaço de três quartos de hora. À segunda detonação, que me pareceu partir do interior do quarto onde estávamos, vi formar-se um leve vapor, depois um cheiro muito pronunciado de pólvora se fez sentir. Tendo entrado a Sra. R… no momento da oitava detonação, disse que havia um cheiro de pólvora. Isto me agradou, porque provava que a minha imaginação não era responsável por nada.

“Segunda-feira, 13, fui novamente à casa, às oito e meia da noite. Às nove horas ouviu-se a primeira detonação e, no espaço de uma hora, trinta e oito. Disse a Sra. C…: “Se esses ruídos são produzidos por Espíritos, que façam ainda dois, totalizando quarenta.” No mesmo instante foram ouvidas duas detonações, uma após a outra, com um barulho assustador. Entreolhamo-nos com surpresa e mesmo com pavor. A Sra. C… disse ainda: “Começo a compreender que há Espíritos neste caso; para me convencer completamente, gostaria que os Espíritos batessem ainda dez vezes, o que perfará cinquenta.” As dez detonações ocorreram em menos de quinze minutos.

“Algumas vezes esses ruídos têm a força de um tiro de canhão de pequeno calibre, dado numa casa; as portas e janelas são abaladas, bem como as paredes e o soalho; os objetos pendurados às paredes são vivamente agitados. Dir-se-ia que a casa, abalada de todos os lados, fosse cair; mas não há nada. Depois do tiro não há a menor fenda; nada está danificado e tudo volta à calma ordinária. Esses disparos ora se dão a intervalos de um a cinco minutos, ora se sucedem até seis vezes, golpe sobre golpe. A polícia fez uma batida, mas nada descobriu.

“Eis, caro mestre, toda a verdade e a mais exata verdade.

“Aceitai, etc.”

Chavaux; D.M.P.,

24, rue du Petit Saint Jean.


3. — Uma outra carta, de 17 de março, contém o seguinte:


“Ontem passamos parte da noite na casa do Boulevard Chave. A reunião era composta de sete pessoas. As detonações começaram às onze horas e, no intervalo de dez minutos, contamos vinte e duas. Podemos compará-los às de um canhão pequeno; podiam-se ouvi-las a uma grande distância da casa. Essa casa encontra-se em excelentes condições de solidez, contrariamente ao que diz a Gazette du Midi.

“Disseram-me que ontem à noite ocorreram quatro detonações numa outra casa da mesma avenida, e que eram mais fortes que as primeiras.

“Recebei, etc.”

Carrier.


4. — Dirão que a causa é inteiramente natural: vê-se fumaça, sente-se o cheiro de pólvora, e não adivinhais o meio empregado pelos mistificadores? – Parece-nos que mistificadores que se ser-vem da pólvora para produzir, durante mais de um mês, semelhantes detonações no próprio apartamento onde se encontram as testemunhas, que têm a complacência de as repetir conforme o desejo que lhes é expresso, não devem estar nem muito longe, nem muito escondidos. Por que, então, não foram descobertos? – Mas, então, de onde vem esse cheiro de pólvora? –  Isto é outra questão, que será tratada a seu tempo. Enquanto se espera, os ruídos são um fato e o fato tem uma causa. Vós os atribuís à malevolência? Então procurai os mal-intencionados.


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