O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VII — Junho de 1864.

(Idioma francês)

ALGUMAS REFUTAÇÕES.


Conspirações contra a fé.

A História haverá de registrar a lógica singular dos contraditores do Espiritismo, da qual vamos dar algumas amostras.

Do Departamento do Haute-Marne  †  remetem-nos a pastoral do Sr. Bispo de Langres,  †  onde se nota a seguinte passagem:

“…E eis que os homens que se dizem amigos da Humanidade, da liberdade e do progresso, mas que, na realidade, a sociedade deve contar no número de seus mais perigosos inimigos, se esforçam, por todos os meios, para arrancar (a fé) do coração das populações cristãs. Porque, caríssimos irmãos, é nosso dever vos advertir, nós que somos encarregados de velar pela guarda de vossas almas, a fim de que os nossos avisos vos tornem prudentes e precavidos: Talvez jamais se tenha visto uma conspiração mais odiosa, mais vasta, mais perigosa e mais hábil, isto é, organizada de modo mais infernal contra a fé católica que a que hoje existe. Conspiração das sociedades secretas, que trabalham na sombra para aniquilar o catolicismo, como se isto fosse possível; conspiração do protestantismo que, por uma propaganda ativa, busca insinuar-se por toda parte; conspiração dos filósofos racionalistas e anticristãos, que rejeitam, sem razão e contra toda razão, o sobrenatural e a religião revelada, e que se esforçam por fazer prevalecer no mundo letrado sua falsa e funesta doutrina; conspiração das sociedades espíritas que, pela prática supersticiosa da evocação dos Espíritos, entregam-se e incitam os outros a se consagrarem à pérfida maldade do espírito de mentira e de erro; conspiração de uma literatura ímpia ou corruptora; conspiração dos maus jornais e dos maus livros, que se propagam de modo assustador, à sombra de uma tolerância ou de uma liberdade louvada como progresso do século, como conquista do que chamam espírito moderno, e que não é senão um incitamento ao gênio do mal, um justo motivo de dor para uma nação católica, uma armadilha e um perigo muito evidente para todos os fiéis, seja qual for a classe a que pertençam, não suficientemente instruídos na religião, cujo número infelizmente é grande; conspiração, enfim, desse materialismo prático que não vê, não busca, não persegue senão o que diz respeito ao corpo e ao bem-estar físico; que não mais se ocupa da alma e de seu destino, como se não o houvesse, e cujo exemplo pernicioso seduz e arrasta facilmente as massas. Tais são, em resumo, caríssimos irmãos, os perigos que hoje corre a fé… etc.”

Estamos perfeitamente de acordo com o Sr. Bispo no que toca as funestas consequências do materialismo; mas é surpreendente vê-lo confundir na mesma reprovação o materialismo, que nega a alma, o futuro, Deus e a Providência, com o Espiritismo, que vem combatê-lo e dele triunfa pelas provas materiais que dá da existência da alma, precisamente com o auxílio dessas mesmas evocações pretensamente supersticiosas. Será porque leva vantagem onde a Igreja é impotente? Partilharia o Sr. bispo da opinião de certo eclesiástico que dizia do púlpito: “Prefiro vos saber fora da Igreja a nela vos ver entrar pelo Espiritismo!” [Pastoral do Sr. bispo de Argel contra o Espiritismo.] E deste outro que dizia: “Prefiro um ateu, que em nada crê, a um espírita, que crê em Deus e na alma.” É uma opinião como outra qualquer e gostos não se discutem. Seja qual for a do Sr. bispo sobre este ponto, estimaríamos muito que ele respondesse às duas questões seguintes: “Como é que a Igreja, auxiliada pelos poderosos meios de ensino de que dispõe para fazer brilhar a verdade aos olhos de todos, não tem sido capaz de deter o materialismo, ao passo que o Espiritismo, nascido ontem, diariamente converte incrédulos endurecidos? — O meio pelo qual se atinge um objetivo é mais mau do que aquele com cujo auxílio não se o alcança?”

O Sr. bispo enumera uma série de conspirações, que se erguem ameaçadoras contra a religião; por certo não refletiu que, por esse quadro pouco tranquilizador para os fiéis, vai precisamente contra seu objetivo e pode até provocar nestes últimos deploráveis reflexões. A ouvi-lo, em pouco tempo os conspiradores seriam mais numerosos.

Ora, o que aconteceria num Estado se toda a nação conspirasse? Se a religião se vê atacada por tão numerosas coortes, isto não provaria em favor das simpatias que ela encontra. Dizer que a fé ortodoxa está ameaçada é confessar a fraqueza de seus argumentos. Se ela é fundada na verdade absoluta, não pode temer nenhum argumento contrário. Em tal caso, soar o alarme é completa falta de habilidade.


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