O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Dezembro de 1862.

(Idioma francês)

O Espiritismo em Rochefort.

Episódio da viagem do Sr. Allan Kardec.
(Sumário)

1. — Rochefort  †  não é ainda um foco de Espiritismo, embora tenha alguns adeptos fervorosos e numerosos simpatizantes das novas ideias. Mas lá, menos que alhures, há coragem de opinião e muitos crentes se mantêm à margem. No dia em que ousarem mostrar-se ficaremos surpreendidos ao vê-los tão numerosos. Como apenas íamos ver algumas pessoas isoladas, esperávamos ali demorar poucas horas. Mas um passageiro, que se achava na mesma viatura, havendo nos reconhecido por um retrato que vira em Marennes,  †  preveniu os seus amigos da nossa chegada. Então recebemos com insistência um amável convite, da parte de vários espíritas, que nos desejavam conhecer e receber instruções. Adiada nossa partida para o dia seguinte, tivemos a satisfação de passar a noite numa reunião de espíritas sinceros e dedicados.

Durante a reunião recebemos outro convite, em termos não menos obsequiosos, em nome de um alto funcionário e de várias notabilidades da cidade, manifestando o desejo de uma reunião na noite seguinte, o que ocasionou novo adiamento de nossa partida. Não teríamos mencionado tais detalhes se não fossem necessários às explicações que julgamos um dever dar a seguir, a propósito de um jornal da localidade.


2. — Nesta última reunião fizemos, ao início da sessão, a seguinte alocução:

“Senhores,

“Embora não tivesse a intenção de passar senão algumas horas em Rochefort, o desejo que me manifestastes para esta reunião e, sobretudo, a maneira por que o convite foi feito, era muito lisonjeiro para que eu não o aceitasse. Ignoro se todas as pessoas que me honram em assistir a esta reunião são iniciadas na ciência espírita; suponho que muitos ainda são noviços na matéria; poder-se-ia até mesmo encontrar alguns que são hostis. Ora, em consequência da falsa ideia que fazem do Espiritismo aqueles que não o conhecem, ou só o conhecem imperfeitamente, poderia o resultado desta sessão causar algumas decepções aos que não encontrassem aquilo que esperavam. Devo, pois, explicar claramente a sua finalidade, para que não haja equívocos.

“Antes de tudo, devo informar quanto ao objetivo que me proponho nessas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar. Enganar-se-ia quem pensasse que vou pregar a doutrina aos incrédulos. O Espiritismo é toda uma ciência que reclama estudos sérios, como as outras ciências, e requer numerosas observações. Para expô-la minuciosamente seria necessário dar um curso regular, e um curso de Espiritismo não pode ser dado em uma ou duas aulas, como não o poderia u.m curso de física ou de astronomia. Para os que lhes não conhecem as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, ou seja, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, em sua maior parte, recaem sobre os princípios mais elementares. Eis por que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, aos que precisam de ensino complementar, e não de á-bê-cê. Jamais vou dar o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir a experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos. Os que esperassem ver aqui coisa semelhante estariam completamente equivocados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão.

“A reunião desta noite é, de certo modo, excepcional e fora de meus hábitos. Pelos motivos que acabo de expor, não posso ter a pretensão de convencer os que rejeitassem as bases mesmas dos meus princípios. Só uma coisa desejo: é que, em falta de convicção, preservem a ideia de que o Espiritismo é uma coisa séria e digna de atenção, pois atrai o cuidado dos homens mais esclarecidos de todos os países. Que não o aceitem cegamente e sem exame, é compreensível; mas seria presunção contestar uma opinião que conta seus mais numerosos partidários na fina flor da sociedade. As pessoas sensatas dizem: Há tantas coisas novas que nos vêm surpreender e que, um século atrás, pareceriam absurdas; todos os dias presenciamos a descoberta de novas leis, a revelação de novas forças da Natureza que seria ilógico admitir que a Natureza houvesse dito a última palavra. Assim, antes de negar, é prudente estudar e observar. Para julgar uma coisa é preciso conhecê-la. A crítica só é permitida ao que fala do que sabe. Que diriam de um homem que, não sabendo música, criticasse uma ópera? daquele que, ignorando as primeiras noções de literatura, criticasse uma obra literária? Pois bem! dá-se o mesmo com a maioria dos detratores do Espiritismo: julgam com dados incompletos, muitas vezes, até, por ouvir dizer. Assim, todas as suas objeções denotam ignorância absoluta da coisa. Só lhes poderíamos responder: estudai antes de julgar.

“Como tive a honra de vos dizer, seria materialmente impossível, senhores, expor minuciosamente todos os princípios da ciência espírita. Quanto a satisfazer à curiosidade de quem quer que seja, há entre vós quem me conheça bastante para saber que jamais representei esse papel. Mas, na impossibilidade de vos expor as coisas em detalhes, talvez seja útil vos dar a conhecer o fim e as tendências. É o que me proponho fazer. Depois julgareis se o objetivo é sério e se é permitido zombar. Peço, pois, permissão para ler algumas passagens do discurso que pronunciei nas grandes reuniões de Lyon  †  e Bordeaux.  †  Para os que não têm do Espiritismo senão uma ideia incompleta, sem dúvida a questão principal é hipotética, pois me dirijo a adeptos já instruídos; todavia, até que as circunstâncias vos tenham transformado a hipótese em verdade, podeis ver as suas consequências, assim como a natureza das instruções que dou, e por aí julgar o caráter das reuniões a que assisto.

“Posso, contudo, dizer do Espiritismo que nele nada é hipotético: de todos os princípios formulados em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, nenhum é produto de um sistema ou de uma opinião pessoal. Todos, sem exceção, são fruto da experiência e da observação; eu não poderia reivindicar um só como produto de minha iniciativa. Aquelas obras contêm o que aprendi, e não o que criei. Ora, o que aprendi, outros podem aprender, mas, como eu, devem trabalhar. Apenas lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas.”

Depois desse preâmbulo lemos alguns trechos do discurso pronunciado em Lyon e Bordeaux, dando, em seguida, algumas explicações, forçosamente muito sumárias, sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, entre outras sobre a natureza dos Espíritos e os meios por que se comunicam, destacando, sobretudo, a influência moral que resulta das manifestações pela certeza da vida futura, e os efeitos desta certeza sobre a conduta na vida presente.

Pelo preâmbulo era impossível estabelecer a situação de maneira mais clara e melhor precisar o objetivo a que nos propúnhamos, a fim de evitar qualquer equívoco. Tivemos de tomar tal precaução, pois sabíamos que a assembleia estava longe de ser homogênea e inteiramente simpática. Isto naturalmente não satisfez aos que aguardavam uma sessão do gênero das do Sr. Home. De forma polida, um dos assistentes chegou mesmo a declarar que não era exatamente o que ele esperava, no que acreditamos sem esforço, porquanto, em vez de exibir coisas curiosas, vínhamos falar de moral. Ele pediu com tanta insistência que déssemos provas da existência dos Espíritos que fomos forçados a lhe dizer que não os tínhamos no bolso para lhos mostrar. Creio que por pouco nos teria dito: “Procurai bem!”


3. — Sob o pseudônimo de Tony, um jornalista que assistia à reunião julgou por bem noticiar o ocorrido no Spectateur, jornal hebdomadário de teatros, número de 12 de outubro. Começa assim:

Atraído pelo anúncio de um sarau espírita, apressei-me em ir ouvir um dos hierofantes  †  mais autorizados desta ciência… assim classificam os adeptos o Espiritismo. Repleto, o auditório esperava com certa ansiedade a exposição meticulosa das bases desta ciência… pois há ciência. O Sr. Allan Kardec, autor de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns iria iniciar-nos em terríveis segredos! Movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível e que nada tinha de hostil, esperávamos sair da sessão com uma certa convicção se o professor, homem de habilidade incontestável, se tivesse dado ao trabalho de expor sua doutrina. O Sr. Allan Kardec pensou de maneira diferente, o que é lamentável. Não lhe pediam que evocasse Espíritos, mas, pelo menos, que desse explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos.


Este começo caracteriza perfeitamente alguns ouvintes, que se julgavam espectadores. A palavra atraído diz mais que o resto. O que queriam eram explicações claras para facilitar a experimentação dos profanos. Em outras palavras, uma receita para que cada um, ao chegar em casa, pudesse divertir-se a evocar Espíritos.

Segue-se uma tirada sobre a base da doutrina: a caridade e outras máximas que, diz ele, vêm diretamente do Cristianismo e nada ensinam de novo. Se um dia aquele senhor se der ao trabalho de ler, saberá que o Espiritismo jamais pretendeu trazer aos homens outra moral senão a do Cristo e que não se dirige aos que a praticam em sua pureza. Mas como há muitos que não creem em Deus, nem na alma, nem nos ensinamentos do Cristo, ou, pelo menos, duvidam, e cuja moral se resume na expressão cada um por si, o Espiritismo, ao provar a existência da alma e da vida futura, vem dar uma sanção prática, uma necessidade a essa moral.

Queremos mesmo acreditar que o Sr. Tony dele não precise, que tenha uma fé viva, uma religião sincera, pois toma a defesa do Cristianismo contra o Espiritismo, apesar de algumas más línguas o acusarem de ser um pouco materialista. Queremos mesmo acreditar que ele pratique a caridade como verdadeiro cristão; que, a exemplo do Cristo, seja brando e humilde; que não tenha orgulho, nem vaidade, nem ambição; que seja bom e indulgente para com todos, mesmo para com seus inimigos; numa palavra, que tenha todas as virtudes do divino modelo e, ao menos, que não aborreça os outros por isso. Prossegue ele:

Tem o Espiritismo a pretensão de evocar os Espíritos. É verdade que os Espíritos não se submetem a caprichos e exigências. Se necessário, podem revestir um corpo reconhecível, inclusive roupas e só entram em relação com os médiuns sob a condição de serem envolvidos numa camada de fluidos da mesma natureza… e por que não de natureza contrária, como na eletricidade? A ciência do Espiritismo não o explica.

Lede e vereis.

Não sei se os adeptos se retiraram satisfeitos. Mas, com toda a certeza os ignorantes, sinceramente desejosos de instruir-se, nada lucraram com essa sessão, a não ser que o Espiritismo não se demonstra. É culpa do professor ou o Espiritismo só desvenda os seus arcanos aos fiéis? Não vo-lo diremos… e com razão!


Tony.


4.Conclusão – O Espiritismo não se demonstra. O Sr. Tony deveria ter explicado claramente, já que gosta tanto de explicações claras, a razão pela qual o Espiritismo é demonstrado a milhões de homens que nem são tolos nem ignorantes. Que se dê ao trabalho de estudar e saberá se, como diz, está com tanto desejo de instruir-se. Mas, desde que se julgou no dever de dar explicações ao público de uma reunião que nada tinha de pública, como se fizesse a apreciação crítica de um espetáculo aonde se vai atraído pelos cartazes, deveria, para ser imparcial, ter-se referido às palavras que dissemos no início.

Seja como for, estamos muito satisfeitos com a urbanidade que presidiu à reunião e aproveitamos o ensejo para dirigir ao eminente funcionário, Sr. La Maison, os nossos agradecimentos pela acolhida cheia de benevolência e de cordialidade e a iniciativa de pôr o salão à nossa disposição. Pareceu-nos útil demonstrar-lhe, assim como à elite reunida em sua casa, as tendências morais do Espiritismo e a natureza do ensino que ministramos nos centros visitados.

O Sr. Tony ignora se os adeptos ficaram satisfeitos. Em seu ponto de vista, evidentemente, a sessão não deu resultado. Quanto a nós, preferimos ter deixado em alguns ouvintes a impressão de um moralista enfadonho à ideia de um produtor de espetáculos. Um fato indubitável é que nem todos partilharam de sua opinião. Sem falar dos adeptos que lá se encontravam, e dos quais recebemos calorosos testemunhos de simpatia, citaremos dois senhores que, ao fim da sessão, perguntaram se as instruções que tínhamos lido seriam publicadas, acrescentando que haviam feito do Espiritismo uma ideia completamente falsa, mas, agora, o viam sob outro prisma, compreendiam o lado sério e útil e se propunham estudá-lo profundamente. Tivéssemos obtido somente esse resultado e nos daríamos por satisfeito. É pouco, dirá o Sr. Tony Seja. Mas ele ignora que dois grãos que frutificam se multiplicam. Aliás, não sabemos se todos os que semeamos nessa circunstância estarão perdidos e se o vento provocado pelo Sr. Tony não terá levado alguns a uma terra fértil.

O Sr. Florentin Blanchard, livreiro de Marennes, sentiu-se no dever de responder ao artigo do Sr. Tony, por uma carta que foi inserida nas Tablettes des deux Charentes, edição de 25 de outubro.


5. — Responde o Sr. Tony, assim concluindo:

“O Espiritismo superexcita o espírito dos crédulos, agrava o estado das mulheres dotadas de grande irritabilidade nervosa, enlouquece-as ou as mata, caso persistam em suas aberrações.

“O Espiritismo é uma doença e, como tal, deve ser combatido. Além disso, entra no quadro das coisas… malsãs, estudadas pela higiene pública e moral.”

Aqui surpreendemos o Sr. Tony em flagrante delito de contradição. No primeiro artigo, acima referido, disse que vinha à sessão “movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível e que nada tinha de hostil.” Como compreender que não fosse hostil a uma coisa que diz ser uma doença, uma coisa malsã, etc.?

Mais adiante diz que esperava explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos. Como podia desejar iniciar-se, ele e os profanos, na experimentação de uma coisa que, diz, pode enlouquecer e matar? Por que veio? Por que não convenceu os amigos a que não viessem assistir ao ensino de uma coisa tão perigosa? Por que lamenta não tenha o ensino correspondido à sua expectativa, nem sido tão completo quanto desejava? Desde que, em sua opinião, esta coisa é tão perniciosa, em vez de nos censurar por termos sido pouco explícitos, deveria ter-nos parabenizado.

Outra contradição. Já que veio à reunião para saber o que é, o que quer e o que pode o Espiritismo; uma vez que nos censura por não o termos instruído, é que não o conhecia. Ora, desde que não o estudou, como sabe que é tão perigoso? Então julgou sem conhecimento. Assim, estribado na própria autoridade, decide que uma coisa é má, malsã e pode matar, quando acaba de declarar que não sabe o que ela é. Isto é linguagem de um homem sério? Há críticas que se refutam a si mesmas de tal maneira que basta assinalá-las, sendo supérfluo ligar-lhes importância. Em outras circunstâncias, uma alegação como a de matar poderia ensejar uma ação judicial por calúnia, pois a acusação é de extrema gravidade contra nós e contra uma classe hoje imensamente numerosa de homens honradíssimos.

Isto não é tudo. O segundo artigo foi seguido de vários outros, nos quais desenvolve sua tese.

Ora, eis o que se lê no Spectateur de 26 de outubro, por ocasião da primeira carta do Sr. Blanchard:

A redação do Spectateur recebeu de Marennes, assinada por Florentin Blanchard, uma carta em resposta ao nosso primeiro artigo do dia 12, quando este já estava composto. A redação lamenta que a exiguidade de seu formato não lhe permita abrir suas colunas para uma controvérsia sobre o Espiritismo. A pedido expresso do Spectateur, as Tablettes publicaram a carta in-extenso.

Reservamo-nos o direito de responder oportunamente e procuraremos não ceder, como seu autor, às inspirações de um Espírito inconveniente.


Tony.


Depois de uma segunda carta do Sr. Blanchard, desta vez publicada no Spectateur, lê-se:

Concedemos-vos hospitalidade com prazer, Sr. Florentin Blanchard, mas seria bom que não abusasse. Vossa carta de hoje me acusa de não ter estudado o Espiritismo. Como sabeis? Por certo não quereis discutir senão com iluminados e, a esse título, não sou a pessoa mais indicada. De acordo?

Por que não respondeis, senhor, a algumas proposições que terminam minha última carta… em vez de me acusar vagamente? Esta correspondência prolongada não oferece interesse; permiti-me, pois, não a continuar.

Em breve retomarei minha série de artigos sobre o Espiritismo, mas só ocasionalmente, pois o pequeno formato do Spectateur não permite a publicação de longos estudos sobre este assunto pitoresco.

Por mais que façais, senhor, não levaremos os espíritas a sério nem poderemos considerar o Espiritismo como uma ciência.


Tony.


6. — Assim, está muito claro que o Sr. Tony quer atacar o Espiritismo, arrastá-lo na lama, qualificá-lo de malsão, dizer que mata, sem, contudo, dizer quantas pessoas matou. Mas não quer controvérsia. Seu jornal é bastante grande para os seus ataques, mas muito pequeno para as réplicas. Falar sozinho é mais cômodo. Ele esqueceu que, em razão da natureza e do caráter de seus ataques a lei poderia obrigá-lo à inserção de uma resposta de dupla extensão, em que pese a exiguidade de seu jornal.

Ao relatar as particularidades de nossa estada em Rochefort, quisemos mostrar que não buscamos nem solicitamos aquela reunião e, consequentemente, não atraímos ninguém para nos ouvir. Também tivemos o cuidado de dizer sem rodeios, logo de início, qual era a nossa intenção. Os que se sentissem desapontados tinham liberdade de retirar-se. Agora nós nos congratulamos pela circunstância fortuita, ou, melhor, providencial, que nos levou a ficar, pois provocou uma polêmica que apenas serve à causa do Espiritismo, dando-o a conhecer pelo que ele é: uma coisa moral, e não pelo que não quer ser: um espetáculo para satisfação dos curiosos; e por dar à crítica, uma vez mais, ocasião de mostrar a lógica de seus argumentos.

Agora, Sr. Tony, mais duas palavras, por favor. Para adiantar publicamente coisas como as que escrevestes, é preciso estar bem seguro dos fatos e deveis empenhar-vos em as provar. É muito cômodo discutir sozinho. No entanto, não pretendo estabelecer convosco nenhuma polêmica. Não tenho tempo para isto e, por outro lado, vossa folha é muito pequena para admitir a crítica e a refutação. Além disso – seja dito sem vos ofender – sua influência não se estende muito longe. Ofereço-vos coisa melhor: vinde a Paris,  †  ante a Sociedade que presido, isto é, perante cento e cinquenta pessoas, sustentar e provar o que adiantais. Se tendes certeza de estar com a verdade, nada deveis recear e eu vos prometo, sob palavra de honra, que, através da Revista Espírita, vossos argumentos e os efeitos que tiverdes produzido irão da China ao México, passando por todas as capitais da Europa.

E notai, senhor, que vos faço uma boa proposta. Não, certamente, na expectativa de vos converter, já que ficareis inteiramente livre para conservar vossas convicções. É para oferecer às vossas ideias contra o Espiritismo ocasião para uma grande publicidade. Para que saibais com quem ireis lidar, dir-vos-ei que a Sociedade se compõe de advogados, negociantes, artistas, homens de letras, cientistas, médicos, capitalistas, bons burgueses, oficiais, artesãos, príncipes, etc., tudo entremeado de um certo número de senhoras, o que vos garante uma apresentação irrepreensível quanto à urbanidade; mas todos impregnados até a medula dos ossos, como os cinco ou seis' milhões de adeptos, desta coisa malsã que estudam a higiene pública e a moral, e que desejareis ardentemente curar.


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