O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IV — Junho de 1861.

(Idioma francês)

Conversas familiares de além-túmulo.


Sra. Anaïs Gourdon.

(Sumário)

Jovem mulher, notável pela doçura de caráter e pelas mais eminentes qualidades morais, falecida em 1860. Evocada a pedido de seu pai e de seu marido. Pertencia a uma família de trabalhadores das minas de carvão nos arredores de Saint-Étienne,  †  circunstância importante para melhor apreciar a sua evocação.


1. Evocação.

Resposta. – Eis-me aqui.


2. Vosso marido e vosso pai pediram-me que vos chamasse e se sentirão felizes em obter uma comunicação vossa.

Resposta. – Também estou muito feliz em poder dá-la.


3. Por que fostes subtraída tão cedo à afeição de vossa família?

Resposta. – Porque terminavam as minhas provas terrestres.


4. Ides vê-los algumas vezes?

Resposta. – Oh! estou incessantemente junto deles.


5. Sois feliz como Espírito?

Resposta. – Sou feliz; espero, aguardo, amo; os céus não constituem terror para mim e espero, confiante e com amor, que as brancas asas me conduzam.


6. Que entendeis por essas asas?

Resposta. – Entendo tornar-me Espírito puro e resplandecer como os mensageiros celestes, que me deslumbram.


Observação. – As asas dos anjos, arcanjos e serafins, que são Espíritos puros, não passam, evidentemente, de um atributo imaginado pelos homens para descrever a rapidez com a qual se transportam, uma vez que a sua natureza etérea os dispensa de qualquer sustentáculo para percorrer os espaços. Contudo, podem aparecer aos homens com esse acessório e, assim, corresponderem ao pensamento destes, do mesmo modo que outros Espíritos tomam a aparência que tinham na Terra, para se fazerem mais bem conhecidos.


7. Vedes vosso cunhado, morto há algum tempo e que evocamos o ano passado?

Resposta. – Eu o vi entre os Espíritos, quando cheguei. Agora não o vejo mais.


8. Por que não o vedes mais?

Resposta. – Nada sei quanto a isto.


9. Vossos parentes podem fazer algo que vos seja agradável?

Resposta. – Podem; esses entes queridos não devem mais me entristecer com a visão de seus pesares, pois sabem que não estou perdida para eles. Que meu pensamento lhes seja suave, leve e perfumado em sua lembrança. Transitei na vida como uma flor, e nada de triste deve subsistir de minha rápida passagem.


10. Como se explica que a vossa linguagem seja tão poética e tão pouco relacionada com a posição que tínheis na Terra?

Resposta. – Porque é minha alma que fala. Sim, eu tinha conhecimentos adquiridos, e muitas vezes Deus permite que Espíritos delicados se encarnem entre os homens mais rudes para lhes fazer pressentir as delicadezas que atingirão e que mais tarde compreenderão.


Observação. – Sem esta explicação, tão lógica e tão conforme à solicitude de Deus para com as suas criaturas, dificilmente nos daríamos conta do que, à primeira vista, poderia parecer uma anomalia. Com efeito, que de mais gracioso e mais poético que a linguagem do Espírito dessa jovem senhora, educada em meio aos mais rudes trabalhos? A contrapartida se vê muitas vezes; são Espíritos inferiores, encarnados entre homens mais adiantados, mas com objetivo oposto. É em vista de seu próprio adiantamento que Deus os põe em contato com um mundo esclarecido e, algumas vezes, também, para servirem de prova a esse mesmo mundo. Que outra filosofia pode resolver tais problemas?


11. Evocação do Sr. Gourdon, filho mais velho, já evocado em 1860.

Resposta. – Eis-me aqui.


12. Lembrai-vos de que já fostes chamado por mim?

Resposta. – Sim, perfeitamente.


13. Como é que vossa cunhada não vos vê mais?

Resposta. – Ela se elevou.


Observação. – A esta pergunta ela havia respondido: “Nada sei quanto a isto”; sem dúvida por modéstia. Agora tudo se explica: de uma natureza superior, pertence a uma ordem mais elevada, enquanto ele ainda está retido na Terra. Seguem caminhos diferentes.


14. Quais têm sido vossas ocupações desde aquela época?

Resposta. – Avancei na via dos conhecimentos, ouvindo as instruções dos nossos guias.


15. Poderíeis dar uma comunicação para o vosso pai, que ficará muito feliz?

Resposta. – Caro pai, não creias perdidos os teus filhos e não sofras ante a visão dos nossos lugares vazios. Eu também te espero, sem nenhuma impaciência, porque sei que os dias que passam são outros tantos degraus subidos, a nos aproximarem um do outro. Sê grave e recolhido, mas não triste, porquanto a tristeza é uma censura muda, dirigida a Deus, que quer ser louvado em suas obras. Aliás, por que sofrer nesta vida triste, onde tudo se apaga, exceto o bem ou o mal que realizamos? Caro pai, coragem e confiança!


Observação. – A primeira evocação deste rapaz era marcada pelos mesmos sentimentos de piedade filial e de elevação. Tinha sido imensa consolação para os pais, que não podiam suportar sua perda. Compreende-se que a mesma coisa deveria ocorrer com a jovem senhora.



[Esta comunicação encontra-se também no livro O Céu e Inferno.]


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