O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Agosto de 1860.

(Idioma francês)

VARIEDADES.


Perguntas de um espírita de Sétif ao Sr. Oscar Comettant.

A carta seguinte nos foi enviada por um dos nossos assinantes de Sétif  †  (Argélia), onde há numerosos adeptos que recebem comunicações notáveis, com as quais já entretemos os nossos leitores.


Senhor,

O Sr. Dumas já vos falou de um fenômeno extraordinário que se passou há algum tempo com meu filho de dezesseis anos, portador de singular mediunidade. Cada vez que se faz uma evocação, ele adormece sem ser magnetizado e, em tal estado, responde a todas as perguntas que, por seu intermédio, são dirigidas ao Espírito. Ao despertar, não guarda nenhuma lembrança. Chega até mesmo a responder em latim, inglês e alemão, línguas das quais não tem nenhum conhecimento. É um fato que muitas pessoas puderam constatar e o afirmo sobre o que tenho de mais sagrado, mesmo ao Sr. Oscar Comettant. Tenho em mão um folhetim deste último, de 27 de outubro de 1859, em que está escrito: “Mas em que acreditais? Talvez me pergunte o Sr. Allan Kardec.” Eu, Senhor, não lhe perguntarei se crê em alguma coisa: primeiro, porque isto pouco me importa e, depois, porque há homens que em nada acreditam. O Sr. Oscar Comettant apoia-se na autoridade de Voltaire, que não acreditava naquilo que sua razão não podia compreender. Está errado porque, não obstante o imenso saber que Deus havia dado a Voltaire, há milhares de coisas hoje conhecidas e de que sua razão jamais suspeitou. Ora, ao negar um fato cuja realidade não se deseja constatar, pergunto, em consciência, de que lado está o absurdo. [v. Resposta ao Sr. Oscar Comettant.]

Dirijo-me diretamente ao Sr. Oscar Comettant e lhe digo: Admitamos não sejam os Espíritos que nos falam; mas, então, dai-nos uma explicação lógica do fato que citei. Se o negais a priori, eu vos chamo ao tribunal da razão, que invocais; se me surpreendeis em flagrante delito de mentira, concordo em pedir desculpas ou em passar por louco. Caso contrário, estou pronto a entrar em luta convosco, no terreno dos fatos. Mas, antes de entabular a discussão, perguntar-vos-ei:

1º Se acreditais no sonambulismo natural e se vistes indivíduos nesse estado?

2º Vistes sonâmbulos no momento em que escreviam?

3º Vistes sonâmbulos respondendo a perguntas mentais?

4º Vistes sonâmbulos respondendo em línguas que lhes são desconhecidas?

Preciso de um sim, ou um não, puro e simples, a todas essas perguntas. Se for sim, passaremos a outra coisa; se for não, encarrego-me de vos fazer ver e, então, podereis explicar-me a coisa à vossa maneira.

Aceitai, etc.

Courtois.


Faremos as seguintes reflexões, relativamente à carta acima. É provável que o Sr. Comettant não responda ao Sr. Courtois, como não o fez a outras pessoas que lhe escreveram sobre o mesmo assunto. Se ele estabelecesse uma polêmica, sem dúvida seria no terreno do sarcasmo, terreno sobre o qual sempre diz a última palavra e no qual nenhum homem sério gostaria de acompanhá-lo. Que o Sr. Courtois o deixe, pois, na momentânea quietude de sua incredulidade, já que ela lhe basta e ele se contenta em ser matéria. Desde que só tem anedotas a opor, é que nada tem de melhor a dizer. Ora, como as anedotas não são razões, aos olhos das pessoas sensatas é confessar-se vencido.

O Sr. Courtois labora em erro ao levar muito a sério as negações dos incrédulos. Os materialistas não acreditam sequer possuir uma alma e se reduzem ao modesto papel de fantoches. Como podem admitir Espíritos fora deles, quando não acreditam tê-los em si mesmos? Falar-lhes dos Espíritos e de suas manifestações é, pois, começar por onde se deveria terminar. Não admitindo a causa primeira, não podem admitir as consequências. Dir-se-á, por certo, que, se têm raciocínio, devem ceder à evidência. É verdade; mas é precisamente esse raciocínio que lhes falta; aliás, sabe-se muito bem, o pior cego é aquele que não quer ver. Deixemo-los, pois, em paz, porquanto suas negações não mais impedirão que a verdade se espalhe, como não impediram a água de correr.


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