O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano II — Março de 1859.

(Idioma francês)

Médiuns interesseiros.

(Sumário)

1. — Em nosso artigo sobre os escolhos dos médiuns colocamos a cupidez no rol dos defeitos que podem dar guarida aos Espíritos imperfeitos. Alguns desenvolvimentos sobre esse assunto não serão inúteis. É preciso colocar na linha de frente dos médiuns interesseiros aqueles que poderiam fazer de sua faculdade uma profissão, dando o que se denomina de consultas ou sessões remuneradas. Não os conhecemos, pelo menos na França, mas como tudo pode tornar-se objeto de exploração, nada haveria de surpreendente em que um dia quisessem explorar os Espíritos. Resta saber como eles enfrentariam o fato, caso se tentasse introduzir uma tal especulação. Mesmo parcialmente iniciado no Espiritismo, compreende-se quanto seria aviltante semelhante especulação; entretanto, quem quer que conheça um pouco as difíceis situações enfrentadas pelos Espíritos para se comunicarem conosco, sabe quão pouco é necessário para os afastar, assim como conhece sua repulsa por tudo quanto represente interesse egoísta; por isso, jamais poderão admitir que os Espíritos superiores se submetam ao capricho do primeiro que os venha evocar, em tal ou qual hora; o simples bom-senso repele essa suposição. Não seria também uma profanação evocar o pai, a mãe, o filho ou um amigo por semelhante meio? Sem dúvida pode-se obter comunicações deste modo, mas só Deus sabe de que procedência! Os Espíritos levianos, mentirosos, travessos, zombadores e toda a corja de Espíritos inferiores vêm sempre; estão sempre dispostos a responder a tudo. Outro dia São Luís nos dizia, na Sociedade: Evocai um rochedo e ele vos responderá. Aquele que deseja comunicações sérias deve, antes de tudo, instruir-se sobre a natureza das simpatias do médium com os seres de além-túmulo. Ora, aquelas que são dadas mediante pagamento não podem inspirar senão uma confiança bem medíocre.

Médiuns interesseiros não são unicamente os que poderiam exigir uma retribuição material; o interesse nem sempre se traduz na esperança de um ganho material mas, também, nas ambições de qualquer natureza, sobre as quais pode fundar-se a esperança pessoal; é ainda uma anomalia de que os Espíritos zombeteiros sabem muito bem aproveitar, e com uma destreza e uma desfaçatez verdadeiramente notáveis, embalando enganadoras ilusões aqueles que assim se colocam sob sua dependência. Em resumo, a mediunidade é uma faculdade dada para o bem e os bons Espíritos se afastam de quem quer que pretenda transformá-la em trampolim para alcançar seja o que for que não corresponda aos desígnios da Providência. O egoísmo é a chaga da sociedade; os bons Espíritos o combatem e, portanto, não se deve imaginar que se sirvam dele. Isto é tão racional que seria inútil insistir mais sobre esse ponto.


2. — Os médiuns de efeitos físicos não estão na mesma categoria. Sendo tais efeitos produzidos por Espíritos inferiores, pouco escrupulosos quanto aos sentimentos morais, um médium dessa natureza que quisesse explorar a sua faculdade poderia encontrar quem o assistisse sem muita repugnância. Mas também aí se apresenta um outro inconveniente. O médium de efeitos físicos, assim como o de comunicações inteligentes, não recebeu essa faculdade para seu bel-prazer; ela lhe foi dada com a condição de usá-la adequadamente: se abusar, poderá ser retirada ou trazer-lhe prejuízos porque, definitivamente, os Espíritos inferiores estão às ordens dos Espíritos superiores. Os inferiores adoram mistificar, mas não gostam de ser mistificados. Se de boa vontade se prestam às brincadeiras e às questões curiosas, assim como os demais não gostam de ser explorados, provando a todo instante que têm vontade própria e agindo como e quando melhor lhes pareça; isto faz com que o médium de efeitos físicos esteja ainda menos seguro da realidade das manifestações que o médium escrevente. Pretender produzi-los a dia e hora marcados seria dar provas da mais profunda ignorância. Que fazer, então, para ganhar o seu dinheiro? Simular os fenômenos; é o que poderá acontecer não apenas aos que disso fizerem uma profissão declarada, como também às pessoas aparentemente simples, que se limitam a receber uma retribuição qualquer dos visitantes. Se o Espírito nada produz, o próprio médium supre a sua deficiência: a imaginação é tão fecunda quando se trata de ganhar dinheiro…! É uma tese que desenvolvemos em artigo especial, visando a prevenir a fraude.

De tudo quando precede, concluímos que a maior garantia contra o charlatanismo é o mais absoluto desinteresse, por isso que não há charlatães desinteressados; se isso nem sempre assegura a excelência das comunicações inteligentes, retira aos maus Espíritos um poderoso meio de ação e fecha a boca de certos detratores.


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