O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Revista espírita — Ano II — Abril de 1859.

(Idioma francês)

Conversas familiares de além-túmulo.


Sr. Girard de Codemberg.

Antigo aluno da Escola Politécnica, membro de várias sociedades científicas, autor de um livro intitulado: Le Monde spirituel, ou science chrétienne de communiquer intimement avec les puissances célestes et les âmes heureusesn Falecido em novembro de 1858. Evocado na Sociedade a 14 de janeiro seguinte.


1. Evocação.

Resposta. – Eis-me aqui. Que quereis?


2. Compareceis de boa vontade ao nosso apelo?

Resposta. – Sim.


3. Podereis dizer-nos o que pensais atualmente do livro que publicastes?

Resposta. – Cometi alguns erros, mas nele há coisas boas e sou levado a crer que vós mesmos concordaríeis com o que ali eu disse, sem qualquer receio de lisonjear-me.


4. Dizeis principalmente que tivestes comunicações com a mãe do Cristo. Vedes agora se era realmente ela?

Resposta. – Não; não era ela, mas um Espírito que tomava seu nome.


5. Com que objetivo esse Espírito lhe tomava o nome?

Resposta. – Ele me via seguir o caminho do erro e aproveitava para me comprometer ainda mais. Era um Espírito perturbador, um ser leviano, mais propenso ao mal que ao bem. Sentia-se feliz por ver a minha falsa alegria. Eu era o seu joguete, como muitas vezes vós outros o sois de vossos semelhantes.


6. Dotado de inteligência superior, como não percebestes o ridículo de certas comunicações?

Resposta. – Eu estava fascinado e julgava bom tudo quanto me diziam.


7. Não julgais que essa obra possa fazer o mal, no sentido de prestar-se ao ridículo em relação às comunicações de além-túmulo?

Resposta. – Nesse sentido, sim. Mas eu disse também que há coisas boas e verdadeiras que, sob um outro ponto de vista, impressiona os olhos das massas. Mesmo naquilo que nos parece mau, muitas vezes encontramos uma boa semente.


8. Sois mais feliz agora do que quando vivíeis?

Resposta. – Sim, mas tenho muita necessidade de esclarecer-me, porque ainda me acho no nevoeiro que se segue à morte. Estou como o escolar que começa a soletrar.


9. Quando vivo conhecestes O Livro dos Espíritos?

Resposta. – Jamais lhe havia prestado atenção. Tinha ideias preconcebidas; nisso eu pecava, pois nunca estudaremos e nos aprofundaremos bastante em todas as coisas. Mas o orgulho está sempre em ação, criando-nos ilusões. Aliás, isso é bem próprio dos ignorantes: não querem estudar senão aquilo que preferem e só dão ouvidos aos que os lisonjeiam.


10. Mas não éreis um ignorante; não o provam vossos títulos?

Resposta. – O que é o sábio da Terra diante da ciência do Céu? Aliás, não há sempre a influência de certos Espíritos, interessados em afastar-nos da luz?


Observação. – Isso corrobora o que já foi dito: certos Espíritos inspiram o afastamento das pessoas que poderiam dar conselhos úteis e frustrar as suas maquinações. Essa influência jamais será a de um bom Espírito.


11. E agora, que pensais do livro?

Resposta. – Não o poderia dizer sem elogiar. Ora, nós não elogiamos, como bem o sabeis.


12. Vossa opinião sobre a natureza das penas futuras modificou-se?

Resposta. – Sim. Eu acreditava nas penas materiais; agora creio nas penas morais.


13. Podemos fazer algo que vos seja agradável?

Resposta. – Sempre. Fazei cada um de vós, esta noite, uma prece em minha intenção. Serei reconhecido; não o esqueçais.


Observação. – O livro do Sr. de Codemberg provocou uma certa sensação e, devemos acrescentar, uma sensação penosa entre os partidários esclarecidos do Espiritismo, por causa da extravagância de certas comunicações que se prestam bastante ao ridículo. Sua intenção era louvável, pois era um homem sincero. Ele é um exemplo do domínio que certos Espíritos podem exercer, adulando e exagerando as ideias e os preconceitos daqueles que não avaliam com muita severidade os prós e os contras das comunicações espíritas. Mostra-nos, sobretudo, o perigo de os espalhar muito levianamente no público, visto poderem tornar-se motivo de repulsa, fortalecendo certas pessoas na incredulidade e fazendo, assim, mais mal do que bem, já que fornecem armas aos inimigos da causa. Nunca seríamos bastante cautelosos a esse respeito. [v. outra evocação de Girard de Codemberg.]



[1] O Mundo espiritual, ou ciência cristã de comunicar-se intimamente com as potências celestes e com as almas felizes. [Le Monde spirituel, ou science chrétienne de communiquer intimement avec les puissances célestes et les âmes heureuses — Google Books.]


Abrir