O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

O Livro dos Espíritos — Livro II — Leis morais.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Capítulo VII.


VI. Lei de sociedade.

Necessidade da vida social. — Vida de isolamento. — Voto de silêncio. — Condições de melhoria social. — Caráter das leis humanas. (Questões 380 a 390 a.)


380. A vida social está na Natureza? [Questão 766.]
“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade.”


Deus não teria dado inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação. A vida social é, assim, uma lei da Natureza.



381. O isolamento absoluto é contrário à lei da Natureza? [Questão 767.]
“Sim, pois os homens buscam instintivamente a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente.”


381 a. Ao buscar a sociedade, o homem não faz mais que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento um objetivo providencial de ordem mais geral? [Questão 768.]
“O homem tem que progredir. Sozinho, isso não lhe é possível, por não dispor de todas as faculdades; falta-lhe o contato com os outros homens. No isolamento ele se embrutece e definha.”


Nenhum homem dispõe de faculdades completas. Mediante a união social eles se completam mutuamente, para assegurarem seu bem-estar e progredirem. É por isso que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não isolados.


382. Concebe-se que, como princípio geral, a vida social esteja na Natureza. Mas, como todos os gostos também estão na Natureza, por que o gosto do isolamento absoluto seria condenável, se nele o homem encontra satisfação? [Questão 769.]
“Satisfação egoísta. Também há homens que encontram satisfação na embriaguez. Aprovas isso? Não pode agradar a Deus uma vida pela qual o homem se condena a não ser útil a ninguém.”


383. Que se deve pensar dos que vivem em absoluta reclusão, para fugirem ao contato pernicioso do mundo? [Questão 770.]
“Duplo egoísmo.”


383 a. Mas, não será meritório esse retraimento se tiver por fim uma expiação, impondo-se aquele que o busca dolorosa privação? [Questão 770 a.]
“A melhor expiação consiste em se fazer maior soma de bem que de mal. Evitando um mal, o homem cai em outro, pois esquece a lei de amor e de caridade.”


384. Que pensar dos que fogem do mundo para se dedicarem a socorrer os infelizes? [Questão 771.]
“Esses se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos prazeres materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho.”


384 a. E dos que buscam no retraimento a tranquilidade que certos trabalhos reclamam? [Questão 771 a.]
“Isso não é o retraimento absoluto do egoísta. Tais homens não se isolam da sociedade, visto que trabalham para ela.”


385. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antiguidade? [Questão 772.]
“Perguntai antes, a vós mesmos, se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem. Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou. Entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio te recolhes, teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, estão bem-intencionados os que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude. Enganam-se, no entanto, pois não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.”


O voto de silêncio absoluto, do mesmo modo que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem facultar ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.


386. A sociedade poderia reger-se unicamente pelas leis naturais, sem o concurso das leis humanas? [Questão 794.]
“Poderia, se todos as compreendessem bem e quisessem praticá-las; então, elas bastariam. Mas a sociedade tem suas exigências e precisa de leis especiais.”


386 a. Qual a causa da imperfeição das leis humanas? 122 [Questão 795.]
“O egoísmo e o orgulho. Nas épocas de barbárie, eram os mais fortes que faziam as leis, e eles as fizeram para si. Contudo, à proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, foi preciso modificá-las.”


A civilização criou necessidades novas para o homem e essas necessidades são relativas à posição social que ele ocupe. Foi preciso regular os direitos e deveres dessa posição, por meio de leis humanas. Mas, influenciado pelas paixões, muitas vezes o homem tem criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos suprimem de seus códigos à medida que progridem.


387. Certamente, a instabilidade das leis humanas está ligada à sua imperfeição. Chegará o momento em que serão menos variáveis?
“Sim; essa hora não se acha tão longe quanto pensas; o homem marcha a passos de gigante, pelo progresso que se faz todos os dias nas ideias. As leis humanas serão mais estáveis à medida que se aproximarem da verdadeira justiça, isto é, quando forem feitas para todos, sem distinção de seitas, de classes, nem de raças.” [Questão 795.]


387 a. Dizeis que marchamos a passos de gigante para um estado mais perfeito; contudo, é muito grande a perversidade do homem. Não parece que ele vai de marcha à ré, em vez de avançar, ao menos do ponto de vista moral?
“Enganas-te; observa bem o conjunto e verás que ele avança, visto que compreende melhor o que é mal, e cada dia que passa vai reprimindo os abusos. É preciso que o mal chegue ao excesso para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas.” [Questão 784.]


388. No estado atual da sociedade, a severidade das leis penais não constitui uma necessidade? [Questão 796.]
“Uma sociedade depravada certamente precisa de leis mais severas. Infelizmente, essas leis não atacam as paixões que constituem a raiz do mal. Só a educação poderá reformar os homens, que assim não precisarão mais de leis tão rigorosas.”


389. Ao tornar rude o caráter, a infelicidade não desenvolve os maus instintos? “Desenvolve alguns instintos maus, assim como o excesso de prazeres desenvolve outros; mas quando o homem é feliz, sem dúvida cuida menos do mal.”


389 a. Por que, então, se veem homens a cometer crimes, embora nada lhes falte e tenham todas as satisfações da vida material?
“Efeito da má-educação, que desenvolve e mantém neles instintos maus, sobretudo o orgulho e o egoísmo. Ademais, falamos da Humanidade em geral: é a regra; os indivíduos são as exceções.”


390. O meio em que certos homens se acham colocados não constitui para eles a fonte principal de muitos vícios e crimes? [Questão 644.]
“Sim, mas ainda aí há uma prova que o Espírito escolheu, quando em liberdade. Ele quis expor-se à tentação para ter o mérito da resistência.”


390 a. Quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível? [Questão 645.]
“Arrastamento, sim; irresistível, não; porque mesmo dentro dessa atmosfera de vício podes encontrar, algumas vezes, grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a missão de exercer boa influência sobre seus semelhantes.”



[122] N. T.: Na edição definitiva de 1860, Kardec substituiu o termo “imperfeição” por “instabilidade”, mais adequado e que se aplica melhor ao contexto da frase.


Abrir