Um dos nossos correspondentes houve por bem nos enviar os extratos seguintes do preâmbulo da História da Revolução Francesa, de Louis Blanc. n Como estão inteiramente conformes aos princípios da filosofia espírita, julgamos um dever comunicá-los aos nossos leitores.
“Mas que! mesmo quando se debate a pura soberania da ideia, vê-se sangue! sempre sangue! Qual é pois esta lei que, em todo grande progresso tem como consequência algum grande desastre? Semelhantes à charrua, as revoluções não fecundam o solo senão dilacerando-o; por quê? Donde vem que o tempo é apenas a destruição que se prolonga e se renova? Donde vem à morte esse poder de fazer germinar a vida, quando, numa sociedade que se desmorona, milhares de indivíduos perecem esmagados sob os seus escombros? Que importa? dizemos nós. A espécie avança lentamente. Mas é justo que raças inteiras sejam atormentadas e aniquiladas, a fim de que um dia, mais tarde, num dado tempo, raças diferentes venham desfrutar dos trabalhos realizados e dos males sofridos? Esta imensa e arbitrária imolação dos seres de ontem pelos de hoje e os de hoje pelos de amanhã não é capaz de sublevar a consciência em suas mais íntimas profundezas? E aos infelizes que caem, degolados perante o altar do progresso, o progresso não parecerá um ídolo sinistro, uma execrável e falsa divindade?
“Há que convir que estas seriam questões terríveis, se, para as resolver, não existissem estas duas crenças: Solidariedade das raças, imortalidade do gênero humano. Porque, quando se admite que tudo se transforma e que nada se destrói; quando se crê na impotência da morte; quando se está convencido de que as gerações sucessivas são modos variáveis de uma mesma vida universal que, em se melhorando, continua; quando, enfim, se adota esta admirável definição que o gênio de Pascal deixou escapar: “A Humanidade é um homem que vive sempre e que aprende incessantemente”, então o espetáculo de tantas catástrofes acumuladas perde o que tinha de aflitivo para a consciência; não se duvida mais da sabedoria das leis gerais, da eterna justiça; e, sem empalidecer, sem se humilhar, seguem-se os períodos desta longa e dolorosa gestação da verdade, que se chama História.”
[A. DESLIENS.]
[1] [l’Histoire de la Révolution française, par Louis Blanc – Google books.]