Venho vos falar hoje das deserdadas, tão numerosas ainda, mas cujo número, reconhecemos com satisfação, está bem reduzido, considerando-se o que existia há algumas vintenas de anos.
Essas deserdadas são nossas mães, nossas filhas, nossas irmãs. Outrora elas se ocupavam dos trabalhos penosos. Bestas de carga, máquinas de procriar, vencidas e postas na lista negra como uma coisa, pareciam encarnar por seus sofrimentos todas as brutalidades do dono, todas as potências da força sobre a fraqueza.
A Idade Média ainda nos traz à memória o seu passado doloroso e sua contínua submissão.
Hoje, porém, elas são respeitadas e amadas, pois a instrução se espalhou e o homem começa a apreciar em seu justo valor a companheira que o ajuda a atravessar as provas da vida com tanta solicitude e cuidados ternos e delicados.
Sim, a despeito da educação irritante que nossas mães e nossas irmãs recebem, malgrado essa inoculação de pensamentos opostos aos do homem, a mulher se modifica profundamente. Embora obedeça a um preconceito arraigado a hábitos seculares; posto suas crenças não sejam as nossas e muitas vezes a pátria, o futuro, o progresso e a liberdade para elas sejam letra morta; apesar dessa educação enervante, tudo se transforma à nossa volta. O nosso íntimo se acalma e a nova geração, graças às disposições maternas, será mais forte, mais decidida, amante das artes, da indústria, da paz, da fraternidade e da solidariedade.
Que em vossas cidades se abram cursos, reuniões, obras inteligentes, pois as salas são muito pequenas. Nossas companheiras têm sede de literatura, de ciências, de astronomia; gostam da palavra vibrante e forte dos conferencistas, palavra muitas vezes inspirada, que não cai num terreno estéril, sabei-o bem, porque as crianças recolhem os frutos desses belas e reconfortantes saraus.
Finalmente a hora da redenção chegou para elas. Mães! elas devem reviver em seus filhos; devem dar conta de suas obras à sociedade e, como valentes, querem saber e não ser estranhas a nada; são nossos iguais e nos devem completar. Peçamos para elas o apoio três vezes santo de todos os conhecimentos humanos postos ao seu alcance.
Quem poderia, pois, melhor compreender o Espiritismo que as mulheres? Para o homem, elas têm a prova íntima de sua força, de seu direito; o que era um pressentimento torna-se uma realidade; para ele, elas aprendem o objetivo de suas longas etapas através da Humanidade e, à vista da sanção espírita, são as boas operárias da obra nova. A família é o futuro, e nossas mães transformarão esta bem-amada família num foco de união, de amor, de benevolência e de perdão. Através da família, haverá uma profunda revolução no mundo do pensamento, e os deserdados cumprirão a obra final para grande proveito da Humanidade.
Bernard.