Porventura houve uma época em que existiram mais poetas, mais pintores, escultores, literatos e artistas de todos os gêneros? uma época em que a poesia, a pintura, a escultura, seja qual for a arte, tenha sido acolhida com mais desdém? Tudo está no marasmo! e nada, a não ser o que se liga à fúria positivista do século, tem chance de ser apreciado favoravelmente.
Sem dúvida ainda há alguns amigos do belo, do grande, do verdadeiro; mas, ao lado, quantos profanadores, quer entre os executantes, quer entre os amadores! Não há mais pintores; só há amadores! Não é a glória que se persegue! ela vem a passos muito lentos para a nossa geração apressada. Ver a fama e a auréola do talento, coroar uma existência em seu declínio, o que é isto? Uma quimera, boa ao menos para os artistas do passado. Então se tinha tempo de viver; hoje, apenas o de gozar! É preciso, pois, chegar, e prontamente, à fortuna; é preciso fazer um nome por uma feitura original, pela intriga, por todos os meios mais ou menos confessáveis com que a civilização cumula os povos que tocam um progresso imenso para frente ou uma decadência sem remissão.
Que importa se a celebridade conquistada desaparece com tanta rapidez quanto a existência do efêmero! Que importa a brevidade do brilho!… É uma eternidade se esse tempo bastou para adquirir a fortuna, a chave dos prazeres e do dolce far niente!
É a luta corajosa com a provação que faz o talento; a luta com a fortuna o enerva e mata!
Tudo cai, tudo periclita, porque não há mais crença!
Pensais que o pintor creia em si mesmo? Sim, por vezes chega a isso; mas, em geral, não crê senão cegamente, senão no entusiasmo do público, e o aproveita até que um novo capricho venha transportar alhures a torrente de favores que nele penetrava!
Como fazer quadros religiosos ou mitológicos que sensibilizam e comovem, quando desapareceram as crenças nas ideias que eles representam?
Tem-se talento, esculpe-se o mármore, dá-se-lhe a forma humana; mas é sempre uma pedra fria e insensível: não há vida! Belas formas, mas não a centelha que cria a imortalidade!
Os mestres da antiguidade fizeram deuses, porque acreditavam nesses desuses. Nossos escultores atuais, que neles não creem, fazem apenas homens. Mas, venha a fé, ainda que ilógica e sem um objetivo sério, e gerará obras-primas; se a razão os guiar, não haverá limites que ela não possa atingir! Campos imensos, completamente inexplorados, abrem-se à juventude atual, a todos quantos um poderoso sentimento de convicção impele para um caminho, seja ele qual for. Literatura, arquitetura, pintura, história, tudo receberá do aguilhão espírita o novo batismo de fogo, necessário para dar vitalidade à sociedade expirante; porque, no coração de todos os que o aceitarem, será posto um ardente amor pela Humanidade e uma fé inquebrantável em seu destino.
Um artista, Ducornet. n
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[v. Louis Joseph César Ducornet.]