O Figaro de 5 de abril de 1868, o mesmo jornal que, dois dias antes, publicava esta definição de imortalidade: “Conto de enfermeiros, para tranquilizar seus clientes”; e a carta referida no artigo precedente [Exéquias da senhora Victor Hugo], continha o seguinte artigo:
“O compositor E… acredita firmemente na migração das almas. Ele conta, de boa vontade, que em séculos anteriores foi escravo grego, depois histrião e compositor italiano célebre, mas invejoso, impedindo os seus confrades de produzir…
“— Hoje sou punido por isto, acrescenta ele com filosofia; é a minha vez de ser sacrificado e me ver barrados os caminhos!
“Esta maneira de consolar bem vale uma outra.”
Esta ideia é puro Espiritismo, porque não só é o princípio da pluralidade das existências, mas o da expiação do passado, pela pena de talião, nas existências sucessivas, segundo a máxima: “Sempre se é punido por onde se pecou.” Esse compositor assim explica as suas tribulações; consola-se pelo pensamento de que não tem senão o que merece; a consequência deste pensamento é que, para não o merecer novamente, é de seu próprio interesse buscar melhorar-se; isto não é melhor do que queimar o cérebro, o que logicamente o conduziria ao pensamento do nada?
Esta crença é, pois, uma causa poderosa e muito natural de moralização; é surpreendente pela atualidade e pelo fato material das misérias que se suporta e que, por não se poder explicá-las, são levadas à conta de fatalidade ou de injustiça de Deus. Ela é compreensível para todo o mundo, para a criança e para o homem mais iletrado, porque nem é abstrata, nem metafísica. Não há ninguém que não compreenda que já se possa ter vivido, e que se já viveu, pode viver ainda. Considerando-se que não é o corpo que pode reviver, é a sanção mais patente da existência da alma, de sua individualidade e de sua imortalidade.
É, pois, para a popularizar que devem tender os esforços de todos os que se ocupam seriamente do melhoramento das massas; é para eles uma poderosa alavanca, com a qual farão mais do que pela ideia dos diabos e do inferno, de que hoje se riem.
Como ela está na ordem do dia, germina de todos os lados e sua lógica o faz aceitar facilmente, muito naturalmente ela abre aos espíritas ,ama porta para a propagação da doutrina. Que se liguem, pois, a essa ideia, da qual ninguém ri, que é aceita pelos mais sérios pensadores e farão mais prosélitos por esta via do que pela das manifestações materiais. Desde que é hoje a corda sensível, é esta que se deve atacar; e quando tiver vibrado, o resto virá por si mesmo. Não faleis, pois, àqueles a quem apavora a simples palavra Espiritismo; falai da pluralidade das existências, dos numerosos escritores que preconizam esta ideia; falai também sobretudo aos aflitos, como o faz o Sr. Victor Hugo, da presença, em torno de nós, dos seres queridos que perdemos; eles vos compreenderão e, mais tarde, ficarão muito surpreendidos de ser espíritas sem o haver suspeitado.