O jornal Mahouna de 26 de junho de 1868 publicou a carta seguinte, que reproduzimos com prazer, dirigindo ao autor nossas mais sinceras felicitações.
“Senhor diretor,
“Acabo de ler um artigo no Indépendent, de Constantina, † de 20 do corrente, apreciando o papel pouco delicado que teria representado um certo Sr. Home, segundo esse jornal (na Inglaterra), começando por estas linhas: “Os espíritas, sucessores dos feiticeiros da Idade Média, não se limitam mais a indicar aos imbecis, seus adeptos, tesouros ocultos: arranjam-se para os descobrir em seu proveito.” Segue a apreciação, etc.
“Permiti-me, senhor redator, servir-me do vosso honrado jornal para protestar energicamente contra o autor dessas linhas tão pouco literárias e tão ofensivas para os adeptos dessas novas ideias, ideias certamente muito desconhecidas, já que são tão falsamente apreciadas.
“O Espiritismo sucede aos feiticeiros, como a astronomia sucedeu aos astrólogos. Quer dizer que esta ciência, hoje tão espalhada, que esclareceu o homem, dando-lhe a conhecer as imensidades siderais, que as religiões primitivas tinham conformado ao seu ideal e para servir aos seus interesses, esposou todas as elucubrações fantásticas e grosseiras dos astrólogos de outrora? Por certo não o pensais.
“Do mesmo modo, o Espiritismo, tão caluniado pelos que não o conhecem, vem destruir os erros dos feiticeiros e revelar uma ciência nova à Humanidade. Vem explicar esses fenômenos até agora incompreendidos, que a ignorância popular atribuía ao milagre.
“Longe de esposar as superstições de uma outra época, que os feiticeiros, os mágicos, etc., toda uma multidão de párias rebeldes à civilização, empregando esses meios a fim de explorar a ignorância e especular com os vícios, ele vem, digo eu, destruí-los e, ao mesmo tempo, trazer ao serviço do homem uma força imensa, muito superior a todas as trazidas pelos filósofos antigos e modernos.
“Esta força é: conhecimento do passado e do futuro reservado ao homem, respondendo a estas perguntas: De onde venho? Para onde vou?
“Esta dúvida terrível, que pesava sobre a consciência humana, o Espiritismo vem explicar, não só teoricamente e por abstração, mas materialmente, isto é, por provas acessíveis aos nossos sentidos, e fora de todo aforismo e sentença teológica.
“As antigas opiniões, muitas vezes nascidas da ignorância e da fantasia, desaparecem pouco a pouco para dar lugar a convicções novas, fundadas na observação, e cuja realidade é das mais manifestas; o traço dos velhos preconceitos se apaga, e o homem mais refletido, estudando com mais atenção esses fenômenos reputados sobrenaturais, neles encontrou o produto de uma vontade, manifestando-se fora dele.
“Em razão dessa manifestação, o Universo aparece, para o espírita, como um mecanismo conduzido por um número infinito de inteligências, um imenso governo em que cada ser inteligente tem a sua parte de ação sob o olhar de Deus, quer no estado de homem, quer no de alma ou Espírito. Para ele a morte não é um espantalho, que faz tremer, nem o nada; não é senão o ponto extremo de uma fase do ser e o começo de uma outra, isto é, muito simplesmente uma transformação.
“Paro aqui, pois não tenho a pretensão de dar um curso de Espiritismo e, ainda mesmo, a de convencer o meu adversário. Mas não posso deixar ofenderem uma doutrina que proclama como princípio a liberdade de consciência e as máximas do mais depurado Cristianismo, sem protestar com toda a minha alma.
“O Espiritismo tem por inimigos os que não o estudaram, nem na sua parte filosófica, nem na sua parte experimental; é por isso que o primeiro que aparece, sem se dar ao trabalho de esclarecer-se, arroga-se o direito, a priori, de o tratar de absurdo.
“Mas, infelizmente para o homem, sempre foi assim, cada vez que surgiu uma nova ideia. Aí está a História para o provar.
“Estando o Espiritismo de acordo com as ciências de nossa época (Vide A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo), seus mais autorizados representantes e todos os escritos saídos de seu seio declararam que ele estava pronto para aceitar todas as ideias baseadas nas verdades científicas e rejeitar todas as que fossem reconhecidas como eivadas de erro; numa palavra, ele quer marchar à frente do progresso humano.
“Os adeptos desta doutrina, em vez de ocultar-se na sombra e de se reunir nas catacumbas, procedem de modo inteiramente diverso. É em plena luz e publicamente que emitem suas ideias e se exercitam na prática de seus princípios. Na França a opinião espírita está representada por cinco revistas ou jornais; na Inglaterra, na Alemanha, na Itália e na Rússia, por quinze folhas hebdomadárias; nos Estados Unidos da América, esse país de liberdade e de progresso em todos os gêneros, por numerosos jornais ou revistas, e os adeptos do Espiritismo nesse país já se contam por milhões, adeptos que o autor do artigo do Indépendent, involuntariamente e sem reflexão, trata de imbecis.
“Nossa época, tão distanciada dos atos de intolerância religiosa, que se ri das disputas teológicas e dos raios do Vaticano, deveria inspirar melhor o respeito às opiniões contrárias.
“Aceitai, etc.”
Jules Monico.
O mesmo jornal, de 17 de julho, contém outro artigo do Sr. Monico, que anuncia dever publicar uma série em resposta a alguns ataques dos antagonistas do Espiritismo. Aí vemos igualmente o anúncio, como estando no prelo, de uma brochura do mesmo autor, intitulada: Liberdade de consciência, e que deve aparecer na primeira quinzena do mês de agosto. Preço: 1 franco.