O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano XI — Abril de 1868.

(Idioma francês)

O Espiritismo em Cadiz, em 1853 e 1868.

Temos dito em várias ocasiões que o Espiritismo conta numerosos adeptos na Espanha, o que prova que a restrição das ideias não as impede de produzir-se. Desde muito tempo já sabíamos que Cadiz  †  era a sede de um importante centro espírita. Um dos membros dessa sociedade, tendo vindo a Paris o ano passado, deu-nos a respeito detalhes circunstanciados de alto interesse, e que depois nos lembrou em sua correspondência. Só a abundância das matérias nos impediu de os publicar mais cedo.

Os espíritas de Cadiz, reivindicando para a sua cidade a honra de ter sido uma das primeiras, se não a primeira na Europa, a possuir uma reunião espírita constituída, e recebendo comunicações regulares dos Espíritos, pela escrita e pela tiptologia, sobre assuntos de moral e de filosofia. Com efeito, esta pretensão é justificada pela publicação, em 1854, de um livro impresso em língua espanhola. Contém de início um prefácio explicativo sobre a descoberta das mesas falantes e a maneira de as utilizar; depois a relação de respostas a perguntas dirigidas aos Espíritos numa série de sessões realizadas desde 1853. O procedimento consistia numa mesinha de três pés e de um alfabeto dividido em três séries, correspondendo cada uma a um dos pés da mesinha. Sem dúvida as respostas são muito elementares, comparativamente ao que hoje se obtém, e nem todas são de uma exatidão irreprochável, mas na maioria concordam com o ensinamento atual. Citaremos apenas algumas delas, para mostrar que na época, aliás quase por toda parte, em que não se ocupavam das mesas girantes senão como objeto de distração, em Cadiz já pensavam em utilizar o fenômeno para instruções sérias.


(8 de novembro de 1853) – Aqui está presente um Espírito? – Sim. – Como te chamas? – Eqe. – Em que parte do mundo habitaste? – Na América do Norte. – Eras homem ou mulher? – Mulher. – Dize-nos o teu nome em inglês. – Akka. – Como traduzes belo em inglês? – Fine. – Por que vieste aqui? – Para fazer o bem. – A ti ou a nós? – A todos. – Então podes dar-nos esse bem? – Posso; tudo está no trabalho. – Como alcançaremos o bem? – Emancipando a mulher; tudo depende dela.


(11 de novembro). O Espírito Eqe. – Há um outro modo de comunicação com os Espíritos? – Sim, pelo pensamento. – De que maneira? – Lê o teu. – E como poderíamos nos entender com o pensamento dos Espíritos? – Pela concentração. – Há um meio de chegar a isto facilmente? – Sim, a felicidade. – Como se obtém a felicidade? – Amando-vos uns aos outros.


(25 de novembro). Anna Ruiz. – Para onde vai nossa alma ao se separar do corpo? – Ela não deixa a Terra. – Queres dizer o corpo? – Não, a alma. – Tens os mesmos gozos na outra vida que nesta aqui? – Os mesmos e melhores: trabalhamos em todo o Universo.


(26 de novembro). Odiuz. – Os Espíritos revestem uma forma? – Sim. – Qual? – A forma humana. Há dois corpos: um material, outro de luz. – O corpo de luz é o Espírito? – Não; é uma agregação de éter; fluidos leves formam o corpo de luz. – Que é um Espírito? – Um homem em estado de essência. – Qual é o seu destino? – Organizar o movimento material cósmico; cooperar com Deus para a ordem e nas leis dos mundos no Universo.


(30 de novembro). Um Espírito espontaneamente. A ordem distribui as harmonias. Esta lei vos diz que cada globo do sistema solar é habitado por uma humanidade como a vossa; cada membro dessa humanidade é um ser completo na classe que ocupa; possui uma cabeça, um tronco e membros. Cada um tem a sua destinação marcada, coletiva ou terrestre, visível ou invisível. O Sol, como os planetas e seus satélites, tem seus habitantes com um destino complexo. Cada uma das humanidades que povoam esses diversos globos tem sua dupla existência, visível e invisível, e uma palavra espiritual apropriada a cada um desses estados.


(1º de dezembro). Odiuz. Lede João e tereis a significação da palavra verbo. Sabereis o que é o verbo da humanidade solar; cada humanidade tem a sua Providência, seu homem-Deus; a luz do homem-Deus solar é a Providência antropomórfica de todos os globos do sistema solar.


(8 de dezembro). – Há analogia entre a luz material e a luz espiritual? – O Sol ilumina, os planetas refletem sua luz. A inteligência solar ilumina as inteligências planetárias e estas as de seus satélites. A luz inteligente emana do cérebro da humanidade solar, que é a centelha inteligente, como o Sol é a centelha material de todos os astros. Há também analogia no modo de expansão da luz inteligente em cada humanidade que a recebe do foco principal para a comunicar aos seus membros.

Há unidade de sistema entre o mundo material e o mundo espiritual.

Nós temos a Natureza que reflete as leis que precederam a criação. A seguir vem o Espírito humano que analisa a Natureza para descobrir estas leis, interpretá-las e compreendê-las. Esta análise é para a luz espiritual o que é a refração para a luz física, porque a Humanidade inteira forma um prisma intelectual, no qual a luz divina única se refrata de mil maneiras diferentes.


(4 de janeiro de 1854). – Por que nem sempre os Espíritos vêm ao nosso apelo? – Porque são muito ocupados. – Por que alguns Espíritos que se apresentaram até agora responderam por enigmas ou absurdos? – Porque eram Espíritos ignorantes e levianos. – Como os distinguir dos Espíritos sérios? – Por suas respostas. – Podem os Espíritos tornar-se visíveis? – Algumas vezes. – Em que caso? – Quando se trata de humilhar o fanatismo. – Sob que forma o Espírito se apresentou ao arcebispo de Paris? – Forma humana. – Qual a verdadeira religião? – Amar-vos uns aos outros.


O extrato seguinte, de uma carta do nosso correspondente, datada de 17 de agosto de 1867, dará uma ideia do espírito que preside à Sociedade Espírita atual de Cadiz:

“Desde onze anos estamos em comunicação com Espíritos da vida superior e, nesse espaço de tempo, eles nos fizeram importantes revelações sobre a moral, a vida espiritual e outros assuntos de interesse do progresso.

“Reunimo-nos cinco vezes por semana. O Espírito presidente de nossa Sociedade, ao qual os outros Espíritos concedem uma certa supremacia, chama-se Pastoret. Temos na Sra. J… um excelente médium vidente e falante. Ela se comunica por meio de uma mesinha de três pés, que não lhe serve senão para estabelecer a corrente fluídica, e vê as palavras escritas numa espécie de fita fluídica, que passa incessantemente diante de seus olhos, e nela lê como num livro. Esse meio de comunicação, aliado à benevolência dos Espíritos que vêm às nossas sessões, permite-nos apresentar as nossas observações e estabelecer discussões quase familiares com esses mesmos Espíritos.

“Cada noite a sessão é aberta com a presença do Espírito do doutor Gardoqui, que conhecemos e que, em vida, exercia a Medicina em Cadiz. Depois de dar conselhos aos nossos irmãos presentes, vai visitar os doentes que lhe recomendamos; indica os remédios necessários, e quase sempre com sucesso.

“Depois da visita do médico vem o Espírito familiar do círculo, que nos traz outros Espíritos, ora superiores para nos instruir, ora inferiores, a fim de que os auxiliemos com os nossos conselhos e os nossos encorajamentos. Por indicação dos nossos guias, realizamos periodicamente missões de caridade em favor dos pobres.

“Além do ridículo, contra o qual vós outros, franceses, tendes de lutar tanto quanto nós, lutamos contra a intolerância. Contudo não desanimamos, porque a força de convicção que Deus nos dá é mais poderosa que os obstáculos.

“Terminamos cada sessão pela seguinte prece:

“Pai universal! Senhor todo-poderoso! dirigimo-nos a ti, porque te reconhecemos como o Deus único e eterno. Pai! desejamos não incorrer na tua censura, mas, ao contrário, avançar a nossa purificação para nos aproximarmos de ti, único bem verdadeiro, suprema felicidade prometida aos que retornam junto a ti.

“Senhor! lembramos-te continuamente os nossos pecados, a fim de que no-los perdoes, após a expiação que merecem. Quanto já não devemos à tua imensa bondade! Sede misericordioso para conosco.

“Pai eterno, tu me deste a vida e, com a vida, a inteligência para te conhecer, um coração para te amar e para amar os meus semelhantes. Minha inteligência crescerá quando eu pensar em ti e quando me elevar a ti.

“Pai universal de todos os seres, grande arquiteto do Universo, água benta com que estancamos a sede do amor divino, nem o curso do tempo, nem a diferença das inteligências impedem de te reconhecer, porque teu grande poder e teu grande amor se veem por toda parte.

“Pai! nós nos confiamos à tua misericórdia e, como prova de nossa sinceridade, nós te ofertamos as nossas vidas, os nossos bens, tudo quanto nos deste. Nada possuímos que não venha de ti; pomos tudo à disposição dos nossos irmãos necessitados, para que aproveitem o fruto da nossa inteligência e do nosso trabalho.

“Somos teus filhos, Senhor! e solicitamos de tua infinita bondade um raio de luz para nos conduzir no caminho que nos mostraste, até que cheguemos ao complemento de nossa felicidade.

“Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. Perdoa as nossas ofensas como perdoamos os que nos ofenderam, agora e sempre, até na hora de nossa morte.

“Nós te dirigimos as nossas preces, Pai infinitamente bom, por todos os nossos irmãos que sofrem na Terra e no espaço. Nosso pensamento é para eles e a nossa confiança está em ti.”


Que os espíritas de Cadiz recebam, por nosso intermédio, os sinceros cumprimentos de seus irmãos de todos os países. A iniciativa que tomaram, na extremidade da Europa e numa terra refratária, sem relações com os outros centros, sem outro guia além de suas próprias inspirações, quando o Espiritismo, quase por toda parte, ainda estava na infância, é uma prova a mais de que o movimento regenerador recebe seu impulso de mais alto que a Terra e que seu foco está em toda parte; que, assim, é temerário e presunçoso esperar sufocá-lo comprimindo-o num ponto, pois que, em falta de uma saída, há mil outros pelos quais será feita a luz. Para que servem as barreiras contra aquilo que vem do alto? De que serve esmagar alguns indivíduos, quando há milhões disseminados sobre toda a Terra, que recebem a luz e a espalham? Querer aniquilar o que está fora do poder do homem, não é representar o papel dos gigantes que queriam escalar o céu?


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