O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Revista espírita — Ano X — Fevereiro de 1867.

(Idioma francês)

O abade Lacordaire e as mesas girantes.

(Sumário)


1. — Extraído de uma carta do abade Lacordaire à Sra. Swetchine [Correspondance du R. P. Lacordaire et de Madame Swetchine - Google Books.], datada de Flavigny,  †  29 de junho de 1853, tirada de sua correspondência, publicada em 1865.  n

“Vistes girar e ouvistes falar das mesas? – Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito simples, mas ouvi e as fiz falar. Elas me disseram coisas deveras notáveis sobre o passado e o presente. Por mais extraordinário que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito vulgar e muito pobre. Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses processos, como se fazia mistério da Química; a justiça, por meio de execuções terríveis, reprimia na sombra essas estranhas práticas. Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular. Talvez, também, por essa divulgação, Deus queira proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das forças materiais, a fim de que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: o mundo dos corpos e o mundo dos Espíritos.

“É provável que esse desenvolvimento paralelo vá crescendo até o fim do mundo, o que trará um dia o reino do anticristo, onde se verá, de um lado e do outro, para o bem e para o mal, o emprego de armas sobrenaturais e de prodígios pavorosos. Disto não concluo que o Anticristo esteja próximo, porque as operações que testemunhamos nada têm, salvo a publicidade, de mais extraordinário do que o que se via outrora. Os pobres incrédulos devem estar bastante inquietos com sua razão; mas têm o recurso de tudo crer para escapar à verdadeira fé e não falharão. Ó profundeza dos desígnios de Deus!”


2. — O abade Lacordaire escrevia isto em 1853, isto é, quase no começo das manifestações, numa época em que esses fenômenos eram muito mais objeto de curiosidade do que assuntos de meditações sérias. Embora eles não se tivessem constituído, então, nem em ciência, nem em corpo de doutrina, o abade lhe tinha entrevisto o alcance e, longe de os considerar como coisa efêmera, previa o seu desenvolvimento no futuro. Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o ter aplaudido como homem de grande senso e de progresso. Pode-se, pois, ter o senso comum e crer nos Espíritos.

As mesas girantes, diz ele, são “um fenômeno muito vulgar e muito pobre.” Com efeito, bem pobre quanto ao meio de comunicação com os Espíritos, porque se não se tivessem tido outros, o Espiritismo quase não teria avançado; então se conheciam apenas os médiuns escreventes e não se suspeitava o que iria sair desse meio, aparentemente tão pueril. Quanto ao reino do Anticristo, Lacordaire parece não se assustar muito, porque não o vê chegar tão cedo. Para ele essas manifestações são providenciais; devem perturbar e confundir os incrédulos; nelas admira a profundeza dos julgamentos de Deus; elas não são, pois, obra do diabo, que deve impelir a renegar Deus, e não a reconhecer o seu poder.


3. — O extrato acima da correspondência de Lacordaire foi lido na Sociedade de Paris,  †  na sessão de 18 de janeiro. Nessa mesma sessão o Sr. Morin, um dos médiuns escreventes habituais, adormeceu espontaneamente sob a ação magnética dos Espíritos; era a terceira vez que nele se produzia este fenômeno, pois habitualmente só adormece pela magnetização ordinária. Durante o sono falou sobre diferentes assuntos e de vários Espíritos presentes, cujo pensamento nos transmitiu. Entre outras coisas disse o seguinte:


“Um Espírito que todos conheceis, e que também reconheço; um Espírito de grande reputação na Terra, elevado na escala intelectual dos mundos está aqui. Espírita antes do Espiritismo, eu o vi ensinando a doutrina, não mais como encarnado, mas como Espírito. Vi-o pregando com a mesma eloquência, com o mesmo sentimento de convicção íntima que quando vivo, o que por certo não teria ousado pregar abertamente do púlpito, mas aquilo a que conduziam os seus ensinos. Vi-o pregar a doutrina aos seus, à sua família, a todos os seus amigos. Vi-o exaltar-se, embora em estado espiritual, quando encontrava um cérebro refratário ou uma resistência obstinada às inspirações que soprava; sempre vivo e impetuoso, querendo fazer penetrar a convicção nas inteligências, como se faz penetrar na rocha viva o cinzel impelido por vigorosa martelada. Mas este não entra tão depressa; entretanto, sua eloquência converteu mais de um. Este Espírito é o do abade Lacordaire.

“Ele pede uma coisa, não por espírito de orgulho, não por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Se peço esta inserção, diz ele, é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos; o segundo, porque a publicação desse primeira citação fará descobrir em meus escritos outras passagens que vos serão assinaladas, como concordes com os princípios do Espiritismo.”



[1] [Correspondance du R.P. Lacordaire et de Madame Swetchine, p. 523  - Google Books.]


Abrir