Eis um homem que chega ao fim de sua carreira. Em algumas horas não será mais deste mundo. Neste momento supremo, tem consciência do resultado, do produto liquido da vida? Vê o seu resumo como num espelho? Pode fazer uma ideia dele? Não, certamente. Contudo, esse produto líquido, esse resumo existe em algum lugar. Está na alma de uma maneira latente, sem que ela possa discerni-lo. Discerni-lo-á aos olhos de todos; então o resumo de todo o passado, tomando vida ao mesmo tempo, reconhecer-se-á realmente. Aqui só nos conhecemos por parcelas; a luz de um dia é apagada pelas trevas de um outro dia; a alma encerra e guarda em seu tesouro uma porção de impressões, de percepções, de desejos que esquecemos.
Nossa memória está bem longe de ser proporcionada à capacidade de nossa alma;
e tantas coisas que agiram sobre a nossa alma, das quais perdemos a
lembrança, são para nós como se jamais tivessem existido. Entretanto,
tiveram seu efeito, e seu efeito permanece; a alma guarda a sua impressão,
que se acha no resumo final, que será a nossa vida futura. (Extraído
dos Pensées genevoises, de François Roget. (Magasin
pittoresque - Google Books, 1861, página 222).
[1] Nota da Editora: Ver “Nota explicativa”, p. 527.