1. — Num grupo espírita de Marselha, † a Sra. T…, um dos médiuns, escreveu espontaneamente a seguinte comunicação:
Escutai um infeliz que foi arrancado violentamente do meio de sua família, e que não sabe onde está… Em meio às trevas em que me encontro, pude seguir o raio luminoso de um Espírito, ao que me dizem; mas não creio nos Espíritos. Sei bem que é uma fábula, inventada por cabeças malucas e crédulas… De minha parte não compreendo mais nada… Vejo-me duplo; um corpo mutilado jaz ao meu lado e, contudo, estou vivo… Vejo os meus que se desolam, sem contar meus companheiros de infortúnio, que não veem tão claramente como eu; assim, aproveitei a luz que aqui me conduziu, para vir colher ensinamentos junto de vós.
Parece-me que não é a primeira vez que vos vejo. Minhas ideias ainda estão confusas… Permitam-me que eu volte outra vez, quando estiver melhor habituado à minha posição atual… Dá no mesmo, eu me vou com pesar; encontrava-me em meu centro… mas sinto que é preciso obedecer; este Espírito me parece bom, mas severo. Vou esforçar-me para conquistar as suas boas graças, a fim de falar mais vezes convosco.
Um operário do curso Lieutaud.
No desmoronamento de uma ponte, ocorrido poucos dias antes, seis operários tinham morrido. Foi um deles que se manifestou.
2. — Depois desta comunicação, o guia do médium ditou-lhe o seguinte:
Cara irmã, este desditoso Espírito foi conduzido a ti para exercitares a caridade. Como nós a praticamos para com os encarnados, a vossa deve exercer-se para com os desencarnados.
Embora esse infeliz seja sustentado por seu anjo-da-guarda, este deve ficar-lhe invisível, até que se reconheça bem na sua situação. Para isto, cara irmã, toma-o sob tua proteção, que, reconheço, ainda é fraca; mas, apoiado na tua fé, em breve esse Espírito verá luzir a aurora de um novo dia, e o que recusou reconhecer depois de sua catástrofe logo se tornará para ele um motivo de paz e de alegria. Tua tarefa não será muito difícil, porque ele tem o essencial para te compreender: a bondade do coração.
Escuta, cara irmã, os impulsos do teu coração, e sairás vitoriosa da prova que tua nova missão te impõe.
Sustentai-vos mutuamente, caros irmãos e bem-amadas irmãs, e a nova Jerusalém, que estais prestes a atingir, vos será aberta com cantos de triunfo, porque o cortejo que vos seguirá vos tornará vitoriosos. Mas para bem combater os obstáculos exteriores é preciso, antes de tudo, ter vencido a si mesmo. Deveis manter uma disciplina severa para o vosso coração; a menor infração deve ser reprimida, sem buscar atenuar a falta, sem o que jamais sereis vencedores dos outros. Entre vós, é preciso que rivalizeis em virtudes e vigilância.
Coragem, amigos; não estais sós. Sois sustentados e protegidos pelos combatentes espirituais, que esperam em vós, e invocam sobre vós a bênção do Altíssimo.
Vosso Guia.
3. — Como se vê, este fato tem alguma analogia de situação com o precedente. É também um Espírito que não se reconhece, que não compreende sua situação. Mas é fácil ver qual dos dois sairá primeiro da incerteza. Pela linguagem de um, se reconhece o sábio orgulhoso, que filosofou sobre sua incredulidade, que, parece, nem sempre fez de sua inteligência e saber o melhor uso possível. O outro é uma natureza inculta, mas boa, à qual, sem dúvida, só faltou boa direção. Nele a incredulidade não era um sistema, mas consequência da falta de ensinamento conveniente. Aquele que, em vida, pudesse ter tido compaixão do outro, em breve poderia tê-lo visto numa posição mais feliz que ele. Praza a Deus colocá-los em presença um do outro, para sua mútua instrução; é possível que o sábio se sentisse feliz em receber lições do ignorante.