O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IX — Fevereiro de 1866.

(Idioma francês)

Como ouvimos falar do Espiritismo.

“O artigo sobre o Espiritismo, publicado em nosso número de 31 de dezembro [o artigo anterior], provocou numerosas perguntas, com o fito de saber se nos propomos tratar posteriormente desta questão e se nos transformamos em seu porta-voz. A fim de evitar qualquer equívoco, torna-se necessária uma explicação categórica. Eis nossa resposta:


“O Discussion é um jornal aberto a todas as ideias progressistas. Ora, o progresso não pode ser feito senão pelas ideias novas que, de vez em quando, vêm mudar o curso das ideias preconceituosas. Repeli-las porque destroem aquelas em que fomos acalentados, é, aos nossos olhos, faltar à lógica. Sem nos tornarmos apologistas de todas as elucubrações do espírito humano, o que não seria mais racional, consideramos como um dever de imparcialidade pôr o público em condições de as julgar. Para tanto, basta apresentá-las tais quais são, sem tomar, prematuramente, partido pró ou contra; porque, se forem falsas, não será a nossa adesão que as tornará justas, e se forem justas, nossa desaprovação não as tornará falsas. Em tudo, é a opinião pública e o futuro que se pronunciam em última instância. Contudo, para apreciar o lado forte e o fraco de uma ideia, é preciso conhecê-la em sua essência, e não tal qual a apresentam os interessados em combatê-la, no mais das vezes truncada e desfigurada. Se, pois, expusermos os princípios de uma teoria nova, não queremos que os seus autores ou os seus partidários possam censurar-nos por lhes fazermos dizer o contrário do que dizem. Agir assim não é assumir a sua responsabilidade: é dizer o que é e reservar a opinião de todo o mundo. Destacamos a ideia em toda a sua verdade. Se for boa, fará o seu caminho e nós lhe teremos aberto a porta; se for má, teremos fornecido os meios para ser julgada com conhecimento de causa.

“É assim que procederemos em relação ao Espiritismo. Seja qual for a maneira de ver a seu respeito, ninguém pode esconder a extensão que ele tomou em alguns anos. Pelo número e pela qualidade de seus partidários conquistou lugar entre as opiniões aceitas. As tempestades que provoca, a obstinação com que o combatem em certo meio, são, para os menos clarividentes, o indício de que ele encerra algo de grave, já que causa perturbação em tanta gente. Que pensem dele o que quiserem; é, incontestavelmente, uma das grandes questões na ordem do dia. Assim, não seríamos consequentes com o nosso programa se o passássemos em silêncio. Nossos leitores têm o direito de pedir que lhes informemos o que é essa doutrina, que provoca tão grande celeuma; é nosso interesse satisfazê-los, e nosso dever fazê-lo com imparcialidade. Pouco lhes importa nossa opinião pessoal sobre a coisa; o que esperam de nós é um relato exato dos fatos e das atitudes de seus partidários, sobre os quais possam formar sua própria opinião. Como procederemos? É muito simples: iremos à própria fonte; faremos pelo Espiritismo o que fazemos pelas questões de política, de finanças, de ciência, de arte ou de literatura; ou seja, para isto encarregaremos homens especiais. As questões de Espiritismo serão, pois, tratadas por espíritas, como as de arquitetura por arquitetos, a fim de que não nos qualifiquem de cegos discorrendo sobre as cores e que não nos apliquem estas palavras de Fígaro: n “Precisavam de um calculista e tomaram um dançarino”.

“Em suma, o Discussion não se arvora como órgão, nem como apóstolo do Espiritismo; abre a ele as suas colunas, como a todas as ideias novas, sem pretender impor essa opinião aos seus leitores, sempre livres de a controlar, de a aceitar ou de a rejeitar. Deixa aos seus redatores especiais inteira liberdade de discutir os princípios, cuja responsabilidade só eles assumem. Mas o que repelirá sempre, no interesse de sua própria dignidade, é a polêmica agressiva e pessoal.”



[1] [Figaro, que disse ter por prenome “anônimo” (O Casamento de Figaro Acto III Cena 15) é um personagem inventado por Beaumarchais no final do século XVIII e que, como herói, está incluído em três de suas peças: O Barbeiro de Sevilha, As Bodas de Fígaro e A Mãe Culpada.]


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