O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Março de 1865.

(Idioma francês)

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS.


Um anjo do Céu na Terra. n

Eis o testemunho dado sobre esta obra na Sociedade Espírita de Paris,  †  por nosso colega Sr. Feyteau, advogado:


Sob esse título, o Sr. Benjamin Mossé escreveu um livro cheio de poesia, no qual, sob o duplo ponto de vista, a caridade é progressivamente ensinada pelos mais tocantes fatos. O assunto deste pequeno poema em prosa começa no Céu, desenvolve-se na Terra e termina no Céu, onde começou.

Os anjos, os arcanjos, os querubins e os serafins, todos os seres sagrados — são expressões do Sr. Mossé — estão reunidos e cantam louvores ao Altíssimo, que os reuniu para lhes dar a missão de ir entre as almas da Terra, a fim de as reconduzir ao caminho do bem, do qual as desviam incessantemente os apetites e as paixões terrenas.

Um desses anjos, o mais puro, foi o único a ficar depois da partida de todos os outros. Esse anjo é Zadécia. Prosternada aos pés do trono do Eterno, implora para si o favor de uma exceção à regra geral, imposta aos seus irmãos; dizia, suplicante: “Senhor, escuta a minha prece, antes que eu obedeça à tua voz! Vou descer à Terra, segundo a tua vontade. Deixo com pesar, já que ordenas, a felicidade com a qual nos inundas; vou falar disto aos habitantes da morada inferior; vou inspirar-lhes a esperança, para os sustentar em sua marcha penosa. Mas digna-te conceder às minhas súplicas a graça que te imploro! Permite, ó meu Deus, que afastada de teu palácio, jamais esqueça as suas delícias! Permite que o envoltório de que me vou revestir jamais sirva de obstáculo a meus voos para ti! Que eu fique sempre senhora de mim mesma; que nada de impuro jamais venha alterar minha nobreza! Permite, Senhor, que minha ausência da mansão bem-aventurada não tenha longa duração! Permite que minha missão seja cumprida prontamente; que eu aqueça à minha chama um coração generoso; que o cative com meus encantos esse coração já abençoado por tua mão; que meu amor o eleve, o aperfeiçoe, complete a sua virtude, a fim de que receba minhas inspirações, aceite a minha mensagem e se torne para a Humanidade uma consolação, uma luz, e que então eu possa, ó meu Deus, voltar à minha celeste morada, feliz por ter deixado na Terra um nobre continuador de minha missão, animado por meu olhar, adorando minha imagem e sempre se elevando para mim, a fim de haurir em meu seio a força de continuar sua obra, para cuja realização eu lhe prodigalizei o encorajamento de meu amor, até a hora em que, por tua vontade, ele vier encontrar-me e receber em meus braços, aos pés de teu trono, tuas bênçãos eternas.”

— “Exalto a tua prece, minha filha! respondeu-lhe a voz divina. Vai, vai sem temor, levar aos homens os tesouros de tua chama. O fogo que te anima nada perderá em santidade na Terra, onde tua passagem será rápida, onde uma alma digna de ti já tomou um invólucro terrestre para cumprir a grande missão que lhe queres confiar. Tão ardente quanto pura, ela se enobrecerá com teu amor; será santificada por tua presença, pelos laços que a unirão ao teu destino imortal. Nessa união que abençoo antecipadamente, essa alma receberá tua missão, da qual se resgatará como tu mesma. Então subirás novamente às regiões supremas, de onde velarás sobre teu esposo bem-amado da Terra, que se tornará, terminada sua tarefa, teu esposo bem-amado no Céu!”


A essas palavras, Zadécia desceu radiosa das moradas infinitas para o meio dos homens; osculou a fronte do menino que mais tarde deveria atrair a si pelo matrimônio; depois, submetendo-se às condições necessárias da existência terrestre, envolveu-se numa forma material, na qual devia brilhar a sua beleza e resplandecerem suas virtudes e seus encantos!

É nestas condições particularmente abençoadas que a alma de Zadécia empreende sua missão, cuja primeira fase é a sua encarnação na criatura que uma jovem mãe dolorosamente deu à luz. Na segunda fase de sua missão, Zadécia é um anjo de inocência, e sua beleza, que irradia como emanação divina, purifica tudo que dela se aproxima. Na terceira fase, Zadécia é o anjo de resignação pela paciência com que suporta os sofrimentos físicos. Na quarta, é anjo de piedade pelos exemplos de caridade e abnegação que dá. Na quinta, é o anjo do amor, pela afeição simpática que se desenvolve entre ela e o jovem Azariel. Na sexta, é o anjo do amor conjugal por sua união com Azariel. Na sétima, é o anjo do amor maternal. A oitava fase, enfim, é a sua volta ao Céu, deixando na Terra o esposo e a filha, para continuar sua obra de santificação.

Indubitavelmente, esses diferentes quadros contêm exemplos edificantes e são de leitura atraente; mas o triunfo por demais previsto de Zadécia sobre todas as provas a que está submetida em sua encarnação lhe tira esse caráter de ensinamento útil, que não pode resultar realmente senão dos esforços da luta. Esta situação em que se acha Zadécia, ao deixar o Céu, de conservar a pureza e a incorruptibilidade dos anjos, quase não desperta interesse por ela além da atração que deu o autor pela forma e expressão dos pensamentos, nas etapas de sua viagem à Terra. Por isso, depois de ter lido este livro e lhe concedendo o justo tributo de elogios que merecem o estilo e o conjunto verdadeiramente harmonioso do enredo, é de lamentar que o autor pareça estranho aos princípios reais da natureza dos Espíritos, e jamais ter pensado em se dar conta da influência que eles exercem sobre as diversas condições sociais da Humanidade, pelo melhoramento progressivo que desenvolvem em suas várias encarnações.

Há uma preocupação natural em o homem sério, seja porque aos múltiplos clarões da filosofia ele perscrute as peripécias da vida humana, seja porque com o archote das religiões sonde as misteriosas profundezas da morte: chegar a uma conclusão que o esclareça sobre seu verdadeiro destino, mostrando-lhe a via que deve seguir. Sem dúvida esta via nem sempre é a verdadeira, mas cada um segue o sulco traçado pela charrua da vontade no campo do pensamento, segundo tenha empregado bons ou maus princípios. Para uns, sistemas preconcebidos lhes tomam lugar de verdades; deles fazem uma lei, consumindo-se em discussões para a impor e fazê-la prevalecer. Para outros, é o próprio Deus que têm a pretensão de traduzir, interpretar e comentar de tantas maneiras e em tantos debates tumultuosos, quando não sangrentos, que os textos sagrados da palavra divina ficam enterrados nos escombros de suas disputas.

Se o livro do Sr. Mossé não revela a preocupação que aí gostaríamos de ver sobre a natureza dos Espíritos, pelo menos não revela nenhuma das que a excluem ou a combatem. Diremos mesmo que mais se aproxima, do que dela se afasta, e que, com mais um passo, marchariam em uníssono, porque tendem para um fim comum: a prática da caridade como condição da vida bem-aventurada. É, pois, um bom livro que o Espiritismo deve acolher, como um aliado, que pode tornar seu irmão. [Vide na Revista de novembro de 1868 o artigo sobre outro livro de Benjamin Mossé: Do pecado original segundo o Judaísmo.]


Feyteau, advogado.


Allan Kardec.



[1] Por Benjamin Mossé, rabino de Avignon.  †  Um vol. in-12; preço: 3 fr. 50. – Avignon, Livraria Bonnet Filho. [Un ange du ciel sur la terre — Google Books.]


Paris. – Typ. de COSSON ET Ce, rue du Four-Saint-Germain,  †  43.


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