Ao que parece, Saumur † é fecunda em maravilhas ovíparas. Lembram-se de que em setembro último, uma galinha, nativa dessa cidade e domiciliada na Rua da Visitação, punha ovos miraculosos, sobre cuja casca viam-se, em relevo e claramente desenhados, objetos de santidade e inscrições. Isto fez grande sensação em certos meios, e excitou a verve trocista dos incrédulos. O Echo saumurois, entre outros, divertiu-se bastante com a coisa. A multidão dirigiu-se ao local; a autoridade comoveu-se e sugeriram que um agente de polícia tomasse conta da galinha, para esperar o acontecimento. Não repetiremos o espirituoso relato, nem a menos judiciosa explicação, dadas pelo Sauveur des peuples, n de Bordeaux, de 18 de setembro de 1864, ao qual remetemos nossos leitores para os detalhes circunstanciados do caso.
Ultimamente, um dos nossos assinantes de Saumur nos remeteu um outro ovo fenomenal, originário da mesma cidade, pedindo que examinássemos bem a fanfarrice que ele apresenta, conquanto não houvesse desenhos, nem inscrições. Não que ele acreditasse num prodígio, mas, ao contrário, para ter nossa opinião, a fim de a contrapor às pessoas muito crédulas em matéria de milagres, porque parece que, depois do que se havia passado, esse ovo também tinha produzido uma certa sensação no público. Não sabemos se é da mesma galinha. Eis do que se trata:
O ovo apresenta na ponta uma excrescência, em forma de cordão grosso, enrolado sobre si mesmo, da mesma natureza que a casca e aderente em toda a sua extensão, que é de 6 a 7 centímetros. Basta conhecer a formação dos ovos para se dar conta desse fenômeno. Sabe-se que o ovo é formado, inicialmente, de uma simples membrana, semelhante a uma bexiga, na qual se desenvolvem a clara e a gema, germe e alimento do futuro pinto. Por vezes alguns são postos neste estado. Antes da postura, essa película se cobre de uma camada de carbonato de cálcio, que forma a casca. No caso de que se trata, não sendo o conteúdo suficiente para encher a membrana vesicular, resultou que a parte vazia, formando o gargalo da bexiga, ficou contraída, rebatendo-se e se enrodilhando sobre o próprio corpo do ovo. O depósito calcário, formado depois, endureceu-o todo, o que deu origem a essa excrescência anormal. Se toda a capacidade se tivesse enchido, o ovo teria sido monstruoso para um ovo de galinha, porque teria cerca de 10 centímetros em seu maior diâmetro, ao passo que tem uma dimensão ordinária.
Que relação pode ter tudo isto com o Espiritismo? Absolutamente nenhuma. Se dele falamos, é porque seus detratores quiseram associar seu nome no primeiro caso, não sabemos bem a que título, a não ser, conforme seu hábito, o de procurar todas as ocasiões de o ridicularizar, mesmo nas coisas que lhe são mais estranhas. Quisemos provar uma vez mais que os espíritas não são tão crédulos quanto dizem. Desde que um fenômeno insólito se apresente, eles procuram antes de tudo a explicação no mundo tangível, e não envolvem os Espíritos em tudo quanto é extraordinário, porque sabem em que limites e segundo que leis sua ação se exerce.
[1]
[Le
Sauveur des peuples, journal du spiritisme… — 1864 — Google Books.]