O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Dezembro de 1865.

(Idioma francês)

Como o Espiritismo vem sem ser procurado.

Jovem camponesa médium inconsciente.

(Sumário)


1. — É um fato constatado pela experiência que os Espíritos agem sobre as pessoas mais estranhas às ideias espíritas, mau grado seu. Já citamos vários exemplos nesta revista. Não conhecemos um só gênero de mediunidade que não se tenha revelado espontaneamente, mesmo o da escrita. Como explicariam o fato seguinte os que atribuem essas manifestações ao efeito da imaginação ou da fraude?

Neste tempo de epidemia moral, a cidadezinha de E…, no Departamento do Aube,  †  tinha sido favorecida para ser preservada do flagelo do Espiritismo. O próprio nome dessa obra satânica jamais havia ferido o ouvido de seus tranquilos habitantes, graças, sem dúvida, ao cura do lugar, que julgara por bem não pregar contra. Mas quem conta sem seu hóspede, conta duas vezes; não contaram com os Espíritos, que não precisam de permissão. Ora, eis o que aconteceu há cerca de quatro meses.

Naquele vilarejo há uma mocinha de dezessete anos, quase iletrada, filha de um pobre e honesto cultivador; diariamente ela vai trabalhar nos campos. Voltando certo dia à sua choupana foi tomada de completa perturbação; depois, teve a ideia de escrever, ela que não escrevia desde que saíra da escola. Escrever o quê? Não sabia nada, mas queria escrever. Outra ideia não menos bizarra veio-lhe à mente, a de procurar um lápis, embora soubesse perfeitamente que não havia nenhum em sua cabana, e nem mesmo uma folha de papel.

Enquanto procurava dar-se conta da incoerência de suas ideias, esforçando-se por afastá-las, avistou na lareira um tição carbonizado; sentiu uma atração irresistível para o pegar, mas, guiada por uma força invisível, avançou para a parede caiada. De repente seu braço ergueu-se maquinalmente e traçou na parede, em caracteres bem legíveis, esta frase: “Arranja papel e penas para corresponder-te com os Espíritos.”

E, coisa singular, embora jamais tivesse ouvido falar de manifestação de Espíritos, não ficou surpresa com o que acabava de se passar. Preveniu seu pai, que falou do caso a um amigo, humilde camponês como ele, mas dotado de grande perspicácia. Este veio com prudência constatar o fato; depois, como espírita experiente, embora tão ignorante do assunto quanto a moça, fez perguntas ao Espírito que se tinha manifestado e que assina o nome de um general russo. Este último os convidou a se dirigirem aos espíritas de Troyes para ter instruções mais completas, o que fizeram. Desde então a jovem é médium escrevente e, além disso, obtém efeitos físicos muito notáveis. Formou-se um grupo espírita no vilarejo, e eis como o Espiritismo vem, gostem ou não, sem ser solicitado.

A carta de nosso correspondente, relatando este fato, termina dizendo: “Não se diria que, quanto mais os trocistas se empenham em enganar-se a si próprios, a Providência, como se os quisesse confundir, faz jorrar diariamente manifestações que desafiam todas as negações e todas as interpretações da incredulidade?”


2. — A propósito, a Sociedade de Paris  †  recebeu a seguinte comunicação:


(Sociedade de Paris, 27 de novembro de 1865. – Médium: Sr. Morin.)

O poder de Deus é infinito, e ele se serve de todos os meios para fazer triunfar uma doutrina que está em tudo. Passou-se aqui um duplo fenômeno, cuja explicação tentarei vos dar.

A jovem camponesa foi subitamente envolvida por um fluído poderoso que a obrigou a abandonar momentaneamente suas ocupações diárias. Antes da manifestação do fenômeno, houve a preparação da paciente, que foi magnetizada e levada, pela vontade do Espírito, a procurar um instrumento que sabia não existir na casa. Quando se curvava sobre a lareira para retirar o carvão, que devia substituir o lápis ausente, apenas realizava um movimento que lhe era imprimido pelo Espírito. Nem era o seu instinto, nem a sua inteligência, que agia, mas o próprio Espírito, que se servia da jovem como de um instrumento apropriado ao seu fluido. Até aí ela não era, propriamente falando, médium; só depois do primeiro aviso ela escreveu e realmente se tornou médium, não sendo mais dominada pelo Espírito que a forçava a agir. A partir desse momento a mediunidade tornou-se semimecânica, isto é, ela sabia e compreendia o que escrevia, mas não podia explicá-lo verbalmente. Depois os efeitos físicos se manifestaram com tal força que toda ideia de embuste devia ser excluída. Nada tinha vindo demonstrar essa aptidão para os efeitos físicos, antes dos primeiros fenômenos. Se esses efeitos tivessem sido os primeiros a revelar a mediunidade, poderiam ter sido desnaturados pela superstição. O homem que, como um espírita consumado, fazia as perguntas ao Espírito, era, ele próprio, conduzido por uma força da mesma natureza que a que impelia o médium a escrever. Esta força, cuja origem ele não podia compreender, dobrava o seu poder evocativo, unindo o seu desejo de saber à lembrança das baladas supersticiosas, que faziam falar e aparecer a alma dos mortos. Só um estudo sério dos princípios da doutrina pode fazer que esses novos adeptos compreendam o lado real, positivo e natural da coisa, afastando o que aí pudessem ver de sobrenatural e de maravilhoso.

Eis, pois, os dois principais atores desses fatos que, mau grado seu, representaram o seu papel. No que se passou, serviram de instrumentos tanto mais potentes quanto eram ignorantes e sem ideias preconcebidas.

Como vedes, meus amigos, tudo concorre para fazer resplandecer a luz, e os mais iletrados podem dar lições aos mais sábios.


(O guia do médium.)


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