O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VII — Fevereiro de 1864.

(Idioma francês)

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS.


A lenda do homem eterno.

Pelo Sr. Armand Durantin.  n

O Espiritismo conquistou o seu lugar entre as crenças; se para alguns escritores é motivo de chacota, é de notar que entre os próprios que outrora o ridicularizavam, a zombaria baixou de tom diante do ascendente da opinião das massas, limitando-se a citar, sem comentários, ou com restrições mais comedidas, os fatos que a ele se referem. Outros, sem nele crer positivamente, e mesmo sem o conhecer a fundo, julgam a ideia muito importante para a transformarem em assunto de trabalhos de imaginação e de fantasia. Tal é, ao que nos parece, o caso da obra de que falamos. É um simples romance, baseado na crença espírita, apresentada do ponto de vista sério, mas ao qual podemos censurar alguns erros, oriundos, sem dúvida, de um estudo incompleto da matéria. O autor que quiser fantasiar um assunto histórico deve, antes de tudo, bem se penetrar da verdade do fato, a fim de não ficar à margem da história. Assim deverão fazer todos os escritores que quiserem tirar proveito da ideia espírita, seja para não serem acusados de ignorância do que falam, seja para conquistarem a simpatia dos adeptos, hoje bastante numerosos para pesar na balança da opinião e concorrer para o sucesso de toda obra que, direta ou indiretamente, diga respeito às suas crenças.

Feita esta reserva do ponto de vista da perfeita ortodoxia, a obra em questão não será menos lida com muito interesse pelos partidários, como pelos adversários do Espiritismo, e agradecemos ao autor a graciosa homenagem que houve por bem fazer-nos de seu livro, chamado a popularizar a ideia nova. Citaremos as passagens seguintes, que tratam mais especialmente da doutrina.


“À época em que o Sr. Boursonne (uma das principais personagens do romance) tinha perdido a esposa, uma doutrina mística espalhava-se secretamente, lentamente, propagando-se na sombra. Contava ainda poucos adeptos, mas não aspirava nada menos a substituir os vários cultos cristãos. Para tornar-se uma religião poderosa só lhe falta a perseguição.

“Esta religião é o Espiritismo, tão eloquentemente exposto pelo Sr. Allan Kardec em sua notável obra O Livro dos Espíritos. Um de seus mais convictos adeptos era o Conde de Boursonne.

“Acrescentarei apenas algumas palavras sobre essa doutrina, a fim de que os incrédulos compreendam que o misterioso poder do conde era absolutamente natural.

“Os espíritas reconhecem Deus e a imortalidade da alma. Creem que a Terra lhes é um lugar de transição e de provação. Segundo eles, a alma é inicialmente colocada por Deus num planeta de ordem inferior. Aí fica encerrada num corpo mais ou menos grosseiro, até tornar-se bastante depurada para emigrar para um mundo superior. É assim que, após longas migrações e numerosas provações, as almas chegam, enfim, à perfeição e são admitidas no seio de Deus. Depende, pois, do homem abreviar suas peregrinações e chegar mais prontamente junto do Senhor, melhorando rapidamente.

É uma crença do Espiritismo, crença tocante, que as almas mais perfeitas podem entreter-se com os Espíritos. Assim, segundo os espíritas, podemos conversar com os seres amados que perdemos, se nossa alma for bastante aperfeiçoada par os ouvir e saber-se fazer escutar.

“São, pois, as almas melhoradas, os homens mais perfeitos entre nós, que podem servir de intermediários entre o vulgo e os Espíritos; esses agentes, tão ridicularizados pelo cepticismo, tão admirados e invejados pelos crentes, chamam-se, em linguagem espírita, médiuns.

“Explicado isto uma vez por todas, notemos de passagem que a Doutrina Espírita conta hoje os seus adeptos aos milhares, sobretudo nas grandes cidades, e que o Conde de Boursonne era um dos médiuns mais poderosos.”

Temos aqui um primeiro erro grave. Se fosse preciso ser perfeito para comunicar-se com os Espíritos, muito poucos desfrutariam desse privilégio. Os Espíritos se manifestam mesmo àqueles que deixam muito a desejar, precisamente para os levar, por seus conselhos, a melhorar-se, conforme estas palavras do Cristo: “Não são os sadios que precisam de médico.” A mediunidade é uma faculdade inerente ao organismo, mais ou menos desenvolvida, conforme os indivíduos, que pode ser dada ao mais indigno, como ao mais digno, arriscando-se o primeiro a ser punido se não a aproveita ou dela abusa. A superioridade moral do médium assegura-lhe a simpatia dos bons Espíritos e o torna apto a receber instruções de ordem mais elevada; mas a facilidade de comunicar-se com os seres do mundo invisível, seja diretamente, seja por terceiros, é dada a cada um, visando o seu avanço. Eis o que o autor teria sabido se tivesse feito um estudo mais profundo da ciência espírita.

“A ciência moderna provou que tudo se encadeia. Assim, na ordem material, entre o infusório, último dos animais, e o homem, que é sua expressão mais elevada, existe uma cadeia de criaturas, melhoradas sucessivamente, como provam à saciedade as descobertas geológicas. Ora, os espíritas se perguntam por que não existiria a mesma harmonia no mundo espiritual; por que uma lacuna entre Deus e o homem, como o Sr. Le Verrier  †  se perguntou como podia faltar um planeta em dado lugar do céu, considerando-se as leis harmoniosas que regem o nosso mundo incompreensível e ainda desconhecido.

“Foi guiado pelo mesmo raciocínio que levou o eminente diretor do Observatório de Paris  †  à sua maravilhosa dedução, que os espíritas chegaram a reconhecer seres imateriais entre o homem e Deus, antes de haverem tido a prova palpável, adquirida mais tarde.

Aqui, igualmente, há outro erro capital. O Espiritismo foi conduzido às suas teorias pela observação dos fatos, e não por um sistema preconcebido. O raciocínio de que fala o autor era racional, sem dúvida, mas não foi assim que as coisas se passaram. Os espíritas concluíram pela existência dos Espíritos porque estes se manifestaram espontaneamente; eles indicaram a lei que rege as relações entre o mundo visível e o invisível, porque observaram essas relações; admitiram a hierarquia progressiva dos Espíritos porque estes se lhes mostraram em todos os graus de adiantamento; adotaram o princípio da pluralidade das existências não só porque os Espíritos lho ensinavam, mas porque esse princípio resulta, como lei da Natureza, da observação dos fatos que temos sob os olhos. Em síntese, o Espiritismo nada admitiu a título de hipótese prévia; tudo em sua doutrina é o resultado da experiência. Eis tudo que temos repetido muitas vezes em nossas obras.



[1] Um vol. in-12. Preço: 3 francos. Casa Dentu e na Livraria Central, boulevard des Italiens,  †  nº 24.  [La légende de l’homme éternel — Google Books.]


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