Ouvistes o ruído confuso do mar, retumbando quando o vento norte infla as ondas e elas se quebram, rugindo suas lâminas de prata sobre a praia? Ouvistes o fragor sonoro do raio nas nuvens sombrias ou o murmúrio da floresta ao sopro do vento do entardecer? Ouvistes nos recônditos da alma essa múltipla harmonia, que não fala aos sentidos senão para os atravessar e chegar até o ser pensante e amante? Se, pois, nem ouvistes nem compreendestes estas mudas palavras, não sois filhos da revelação e ainda não credes. A esses direi: “Saí da cidade nessa hora silenciosa, em que os raios estrelados descem do céu e, colhendo em vós mesmos os pensamentos íntimos, contemplai o espetáculo que vos cerca e chegareis antes da aurora a partilhar a fé dos vossos irmãos.” Aos que já creem na grande voz da Natureza, direi: “Filhos da nova aliança, é a voz do Criador e do conservador dos seres que fala no tumulto das ondas, no ribombar do trovão; é a voz de Deus que fala no sopro dos ventos. Amigos, escutai ainda, escutai algumas vezes, escutai muito tempo, escutai sempre, e o Senhor vos receberá de braços abertos.” Ó vós, que já ouvistes a sua potente voz aqui na Terra, vós a compreendereis melhor no outro mundo.
Galileu. n
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[v. Galileu.]