Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.
Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.
A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.
O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.
Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.
(Um filósofo do outro mundo.)