O sacrifício da carne foi severamente condenado pelos grandes filósofos da antiguidade. O Espírito elevado revolta-se à ideia do sangue e, sobretudo, à ideia de que o sangue é agradável à Divindade. E notai bem que aqui não se trata absolutamente de sacrifícios humanos, mas tão só de animais oferecidos em holocausto. Quando o Cristo veio anunciar a Boa Nova, não ordenou o sacrifício do sangue: ocupou-se unicamente do Espírito. Os grandes sábios da antiguidade igualmente tinham horror a estas espécies de sacrifícios e eles próprios só se alimentavam de frutos e raízes. Na Terra os encarnados têm uma missão a cumprir; têm um Espírito, que deve ser nutrido pelo Espírito, e um corpo, que deve ser alimentado pela matéria; mas a natureza da matéria influi sobre a espessura do corpo e, em consequência, sobre as manifestações do Espírito, o que é facilmente compreensível. Os temperamentos bastante fortes para viver como os anacoretas fazem bem, porque o esquecimento da carne leva mais facilmente à meditação e à prece. Mas para viver assim, em geral seria necessária uma natureza mais espiritualizada que a vossa, o que é impossível com as condições terrestres. E como, antes de tudo, a Natureza jamais age com disparate, é impossível ao homem submeter-se impunemente a essas privações. Pode ser-se bom cristão e bom espírita e comer a seu gosto, contanto que seja razoável. É uma questão um tanto leviana para os nossos estudos, mas não menos útil e proveitosa.
Lamennais. n
Allan Kardec.
Paris. — Typ. de Cosson et Ce rue du Four-Saint-Germain, 43. †
[1] [v.
Lamennais.]