Dize qual o teu regime, ó pobre sensitiva?
A abóbora indagava a uma pequena flor,
Por que manter-te assim qual se não fosses viva? Falo-te com muita dor,
A sensibilidade estiola-te; e enfraquece;
Bem antes morrerás do fim desta estação; Quando, fugindo o sol no horizonte escurece
Murcharem-se verás tuas folhas então: Um fatal estremecimento
O teu caule percorre ante a brisa a roçar; Fazendo a crise então chegar; A vida então é-te um tormento.
E por que tanta pena e tal solicitude?
Seja pois meu exemplo uma terna quietude. O que se passa em mim, pois não,
Causar-me não me custa a mais leve emoção;
De bem me sustentar faço minha virtude, Que importa, pois, em meu temperamento,
Os mistérios do céu? – Do dia o esplendor,
Da noite a escuridão, a umidade, o calor Tudo convém ao meu intento.
Minha forma redonda às vezes, é verdade,
Induz o observador satírico e cruel
Em murmúrio dizer: “A abóbora é nulidade!” Porém tal trato não me é fel;
Sobre o meu leito nutro-me e, em riso, me rolo
Para inveja causar, pousando sobre o solo, Meu grosso ventre e amplidão.
Os gostos, diz a flor, bem diferentes são;
Tu queres consagrar-te ao gozo, à vida em féria, Ao bem-estar só da matéria;
Creio fazer melhor, vejas bem, neste instante, Em abreviar minha existência, Me consagrando à excelência,
Do sentimento bom, da inteligência, Terei vivido assim bastante.
Dombre, (de Marmande.) |