I. Filho querido de uma terra amada,
Lembro-me sempre de você aqui.
Sob outros céus, alma regenerada
Amor, beleza e mocidade vi
Da vida, enfim, no seu topo me inundo,
Eterno globo de reencarnações;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.
II. Eu vi chegar esta diva criatura
Que de emoção envolve o nome seu;
Mas em seus olhos não mais que a ternura,
Pôde sentir sem medo este olhar meu.
E adormeci, e a amiga em tom profundo,
Dá-me ao partir enternecidos sons;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio algumas de minhas canções.
III. Oh, ide em paz! Deitai-vos no jazigo,
Mortos felizes, deixai de acordar;
Olhos fechados são telas de abrigo
Que se abrirão a um sol belo e a brilhar.
Sorride, pois, que a morte lá no fundo
Quer-vos brindar com messes e orações;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.
IV. Ei-los caídos, gigantes da glória;
Escravos, reis, todos serão iguais,
Que para todos nós maior vitória
Só cabe àquele que amar souber mais.
Lá vemos esse que amor, gemebundo,
Nos pede, ou que deixamos com aflições.
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.
V. Adeus, amigos. Adentro esse espaço
Que à vossa voz possa eu sempre vencer;
A imensidade é um eterno enlaço
Que brevemente vireis percorrer.
Sim, e com voz jovial em tom jucundo,
Juntos direis então minhas lições;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.
Béranger. |