Que sentimento faz nascer em vós a visão do Coliseu? † O produzido pelo aspecto de toda ruína: tristeza. Suas vastas e belas proporções lembram todo um mundo de grandeza; mas sua decrepitude invariavelmente leva o pensamento para a fragilidade das coisas humanas. Tudo passa; e os monumentos, que pareciam desafiar o tempo, se desmoronam, como para provar que só as obras de Deus são duráveis. E quando os escombros, semeados por toda parte, protestam contra a eternidade das obras do homem, ousais chamar eterna uma cidade juncada de ruínas do passado!
Onde estás, Babilônia? † Onde estás, Nínive? † Onde vossos imensos e esplêndidos palácios? Viajante, em vão os procura sob as areias do deserto; não vês que Deus os apagou da face da Terra? Roma! † Esperas, pois, afrontar as leis da Natureza? Sou cristã, dizes, e Babilônia era pagã. Sim; mas, como ela, és de pedra, e um sopro de Deus pode dispersar essas pedras amontoadas. O solo que treme à tua volta não está a te advertir que teu berço, que se acha sob teus pés, pode tornar-se o teu túmulo? Sou cristã, dizes, e Deus me protege! Mas ousas comparar-te a esses primeiros cristãos, que morriam pela fé, e cujos pensamentos já eram deste mundo, tu que vives de prazeres, luxo e indolência? Lança os olhos sobre estas arenas, diante das quais passas com tanta indiferença; interroga estas pedras, ainda de pé, e elas te falarão, e a sombra dos mártires te aparecerá para dizer: Que fizeste da simplicidade, de que nosso divino mestre fez uma lei, de humildade e de caridade, cujo exemplo nos deu? Tinham palácios? Vestiam-se de ouro e seda esses primeiros propagadores do Evangelho? Suas mesas esbanjavam o supérfluo? Tinham coortes de servos inúteis para lhes adular o orgulho? Que há de comum entre ti e eles? Eles não buscavam senão os tesouros do Céu, e tu buscas os tesouros da Terra! Ó homens que vos dizeis cristãos, vendo o vosso apego aos bens perecíveis deste mundo, dir-se-ia realmente que não contais com os da eternidade. Roma! que te dizes imortal, possam os séculos futuros não buscar o teu lugar, como hoje é procurado o da Babilônia!
Dante. n
Observação.
– Por singular coincidência, estas duas últimas comunicações nos chegaram
no mesmo dia. [Vide: Roma, por
Massillon.] Embora tratando do mesmo assunto, vê-se que os Espíritos
o encaram cada um do seu ponto de vista pessoal. O primeiro vê a Roma
religiosa e, em sua opinião, eterna, porque será sempre a capital do
mundo cristão; o segundo vê a Roma material e diz que nada do que os
homens edificam é eterno. Aliás, sabe-se que os Espíritos têm suas opiniões
e que podem divergir entre si na maneira de ver, quando ainda imbuídos
das ideias terrestres; só os Espíritos mais puros estão isentos de preconceitos.
Mas, pondo de lado a opinião, que pode ser controversa, não se poderá
recusar a estas duas comunicações uma grande elevação de estilo e de
pensamento e cremos que não seriam desabonadas pelos autores que levam
seus nomes.
[1]
[v. Dante
Alighieri.]