Há uma prova muito grande na Terra, sobre a qual deve apoiar-se a moral do Espiritismo: é a terrível provação do homem de gênio, sobretudo do que é dotado de faculdades superiores, presa das exigências da miséria. Ah! sim; esta prova moral, esta miséria da inteligência, muito mais que a do corpo será o maior mérito para o homem que tiver cumprido sua missão. Compenetrai-vos dessa luta incessante do talento contra a miséria, esta harpia que se lança sobre vós durante o festim da vida, semelhante ao monstro de Virgílio e que diz a todas as suas vítimas: Sois poderosos, mas sou eu quem vos mata, eu que envio ao nada os dons de vossa inteligência, porquanto sou a morte do gênio. Eu sei que só alguns estão vencidos, mas os outros, quantos são? Há um pintor da escola moderna que assim concebeu o assunto. Um ser, o gênio, cujas asas se abrem e cujo olhar se volta para o Sol; quase que se ergue, mas cai sobre um rochedo, onde estão fixadas cadeias de ferro que talvez o reterão para sempre. É possível que o homem que teve este sonho haja sido acorrentado e, talvez, após a sua libertação, se tenha recordado dos que deixara para sempre no rochedo.
Gérard de Nerval. n
[1]
[v.
Gérard de Nerval.]