Bela e terna roseira um cercado adornava,
E ali a toutinegra incubara a ninhada;
Nascera, assim, feliz a alegre petizada;
Mas um desastre, ó céus, lhes reservado estava!
Entre raios do céu a tormenta troava;
E a chuva, em torrencial imenso,
Pelos campos formava um lago extenso
E pronto o cercado inundava.
Já longe da roseira o ninho se balança;
A toutinegra o cobre e se entrega ao destino;
Não tem o coração firmado na esperança;
O astro da salvação dá-lhe um riso divino.
A água escorre. Porém, junto às águas da vargem,
Forma um arroio, assim, com o ninho flutuante,
Que ante os riscos enfim encontrados na margem,
Atinge facilmente um curso navegante.
Em meio ao rio um banco de areia se eleva
Das águas acima da altura;
Um zéfiro que ajuda a uma vaga que o leva,
Impele para lá o ninho com brandura.
São justos transportes de gozo
Que prova a ave ao tocar o ninho pequenino,
No entanto, de repente algo um tanto amargoso:
Neste lugar, qual seu destino?
Seus filhotes estão já querendo alimento:
Deve ela para achar ao longe o seu sustento,
Deixar na areia o ninho exposto a um mau evento?
Se acharam salvação em uma vaga amiga
Não deviam temer uma vaga inimiga,
Ou, num funesto efeito, algum golpe do vento?
No mesmo instante, ali, um pombo bravo pousa:
“Ó pássaro possante, exculpai a quem ousa
Apelar à vossa bondade:
Trata-se de salvar uma família, enfim;
Oh! devolvei o cercado, a roseira, o jardim
A meus filhos, aqui, da cheia na impiedade.
Dignai-vos nos abrir as asas generosas:
Não é tão longe e vós, com garras vigorosas,
Jamais levastes vós fardo tão leve.”
Não se fez surdo o pombo a tal voz. Em tom breve:
“O vosso infortúnio eu deploro
E lamento que um caso, então, de que me coro,
Obrigue-me a seguir desse meu voo o curso,
Negando-me o prazer de vos dar meu concurso,
Ficai, porém, sem inquietude,
E o conselho segui de uma solicitude.
Que me faz feliz de vos dar:
Sustentai-vos na fé… O gênio benfeitor
Que a vida vos salvou, não há de se indispor
Convosco e vos abandonar.”
E contente de si nos ares se elevou.
Uma pequena carpa a nadar escutou
Tudo, viu tudo e compreendeu.
“Consolai-vos, disse ela, ó mãe desesperada!
Compreendo a vossa dor imensa, amargurada,
Nem tudo ainda se perdeu.
Forças não tenho a repartir;
Quanto à margem, porém, penso vos conduzir.”
E prendendo na boca uns longos filamentos
Bastos na largura do ninho,
O desenrola e faz correr em seu caminho.
A toutinegra, em pé, audazmente ajudava,
Suas asas abrindo aos ventos.
A carga se agitou e o peixe que a puxava,
Para boiar sem risco, a marcha equilibrava,
Às torrentes ambos atentos.
Perto da borda, então… Chegaram!
Alegre a toutinegra e os filhos encontraram
Relva abundante entre altos fenos;
E o peixinho lhe diz: “Ó minha cara, ao menos,
Com os grandes, amanhã, cuidado; da miséria
Não sentem seu clamor os servos da matéria:
Os seus dons sempre são conselhos, condolência;
Sempre a cordial assistência
Só achareis junto aos pequenos.”
C. Dombre. |