O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Março de 1860.

(Idioma francês)

Siamora, a druidesa.

OU O ESPIRITUALISMO NO SÉCULO QUINZE. n
Por Clément de la Chave.

As ideias espíritas fervilham em grande número de escritores antigos e modernos e muitos autores contemporâneos ficariam admirados se lhes provássemos, por seus próprios escritos, que são espíritas sem o saberem. Pode, pois, o Espiritismo encontrar argumentos em seus próprios adversários, que parecem ter sido impelidos, mau grado seu, a fornecer-lhe armas. Assim, os autores sacros e profanos apresentam um campo onde não só se deve respigar, mas colher a mancheias. É o que nos propomos fazer algum dia; e então veremos se os críticos julgam acertado mandar aos hospícios aqueles que incensaram e cujo nome, de pleno direito, tem autoridade nas letras, nas artes, nas ciências, na filosofia ou na teologia. O autor do opúsculo que anunciamos não é daqueles que se pode dizer espíritas sem o saber; ao contrário, é um adepto sério e esclarecido, que se dispôs a resumir as verdades fundamentais da doutrina numa ordem menos árida que a forma didática, e com o atrativo de um romance semi-histórico. Com efeito, aí encontramos o delfim que, mais tarde, foi Luís XI, e algumas personagens de seu tempo, com a descrição dos costumes da época. Siamora, último rebento das antigas druidesas, conservou as tradições do culto dos antepassados, mas esclarecida pelas verdades do Cristianismo. Num artigo da Revista do mês de abril de 1858 [O Espiritismo entre os druidas], vimos a que grau haviam chegado os sacerdotes da Gália, no tocante à filosofia espírita. Não há, pois, nenhuma contradição em pôr essas mesmas ideias na boca de sua descendente. Ao contrário, é tornar evidente uma verdade muito pouco conhecida e, sob esse prisma, o autor bem mereceu dos espíritas modernos. Pode-se julgá-los pelas seguintes citações. Edda, jovem noviça, num momento de êxtase, dirigindo-se a Siamora, assim se explica:

“Sob a forma de meu bom anjo, de meu anjo familiar, aparece-me um Espírito. Oferece-se para guiar-me nas penosas visões daqui de baixo. Os homens, diz-me ele, são maus porque desconheceram sua natureza espiritual; porque rejeitaram esse agente sutil, esse influxo divino que Deus havia espalhado para a sua felicidade na criação, e que os fazia iguais e irmãos. Então os homens curavam porque, fazendo apelo a esse agente sutil da criação, dele retiravam poderoso auxílio.”


“É na hora da morte que cada homem me aparece! O tristeza! Ó desgosto! Que desespero amargo! Esses seres perversos deixaram de amar. Siamora, cada homem leva consigo, ao morrer, as virtudes e os vícios. Leve, ou carregada de faltas, sua alma se eleva mais ou menos, pois guardou pouco ou muito do agente sutil, o amor, essa substância de Deus que, conforme as afinidades, atrai para si as substâncias semelhantes e repele as que procedem de um princípio contrário.

“A alma do homem mau fica errante aqui embaixo, a todos insuflando sua essência corrompida. Tem a alegria do mal e o orgulho do vício. Nós a chamamos demônio; no céu tem o nome de irmão transviado. – Mas de todos os corações piedosos, Siamora, eleva-se um suave vapor e, mau grado seu, a alma-demônio chega a ser saturada pelo mesmo; ela aí se retempera, despojando-se em parte de sua corrupção… Então começa a perceber a ideia de Deus, o que no estado de alma não podia fazer. Do mesmo modo que alma leva consigo a imagem exata, embora toda espiritual de seu corpo, assim também a ela se junta esta outra, impregnada de seus vícios e imperfeições, e a alma se adensa e não pode ver.

“Nesse mundo invisível, acima do nosso, Siamora, onde com esforço pouco a pouco me elevo, nuvens brilhantes limitam-me a visão. Milhares de almas, Espíritos celestes, nele entram e saem; como flocos de neve, abaixados, elevados, dispersos, correm arrastados pelo ímpeto caprichoso dos ventos. Em sua essência espiritual, descem até nós os anjos, dizendo a uns palavras de paz, insinuando no coração de outros a crença divina; inspirando a este a busca da ciência, insuflando naquele o instinto do bem e do belo; porque foi tocá-lo pelo dedo de Deus, aquele que, em sua arte, a esta levou o gosto das nobres e grandes coisas. Todo homem tem a sua Egéria, o seu conselho, seu ímã; a corda da salvação foi lançada a todos. Cabe a nós agarrá-la.”


“E esse homem mau, ou antes, essa alma-demônio, cujos olhos, ao contato do ar puro, começaram a abrir-se, vai chorando seu crime e pedindo sofrimento para o expiar. Se é privado de auxílio, que fará?

“Um anjo de caridade aproxima-se e lhe diz: Irmão transviado, entra comigo na vida: lá está o inferno, o lugar de sofrimentos, onde cada um de nós se regenera. Vem, eu te sustentarei. Tratemos de ali fazer um pouco de bem, a fim de que, para ti, a balança do bem e do mal acabe por pender para o lado bom.

“É assim, Siamora, que para todos os homens chega o momento de morrer. Vejo-os mais ou menos se elevando nos céus, entrar na vida, sofrer novamente, depurar-se, morrer ainda e subir incessantemente nos mais elevados espaços celestes. Ainda não alcançam o céu do Deus único, mas por meio de longas peregrinações através de outros mundos, muito mais maravilhosos e aperfeiçoados que este, à força de se depurar, chegarão a possuí-lo.”



[1] Um vol. in-18, preço 2 francos. Vannier, livreiro-editor, rue Notre-Dame-des-Victoires,  †  nº 52 – 1860.


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