O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Junho de 1860.

(Idioma francês)

Uma semente de loucura.

O Journal de la Haute-Saône  †  narrou, ultimamente, o seguinte fato:


“Viram-se reis destronados sepultar-se nas ruínas de seus palácios; veem-se infelizes jogadores renunciarem à vida após a perda da fortuna; mas um proprietário que se suicida para não sobreviver à expropriação de um pedaço de terra, é o que talvez jamais se tenha visto, antes do caso que relatamos. Um proprietário de Saint-Loup  †  foi advertido de que uma de suas quintas seria expropriada, no dia 14 de maio, pela Companhia de Estradas de Ferro do Leste. A informação o afetou vivamente. Não podendo suportar a separação de suas terras, deu sinais de alienação mental. No dia dois de maio saiu de sua casa às três horas da manhã e afogou-se no rio de Combeauté.”  † 


Realmente, é difícil suicidar-se por um motivo tão fútil, e um ato tão desarrazoado não pode ser explicado senão por um transtorno cerebral; mas o que teria produzido esse transtorno? Indubitavelmente, não foi a crença nos Espíritos. O fato da desapropriação do terreno? Mas, então, por que não se tornam loucos todos aqueles cujas terras são desapropriadas? Dirão que é porque nem todos têm o cérebro tão fraco. Então, admitis uma predisposição natural à loucura; e não poderia ser de outra forma, já que a mesma causa nem sempre produz o mesmo efeito. Já o dissemos muitas vezes, em resposta aos que acusam o Espiritismo de provocar a loucura. Que digam se, antes de cogitar-se dos Espíritos, não havia loucos e se não há loucos entre os que não creem nos Espíritos? Uma causa física ou uma violenta comoção moral apenas poderão produzir uma loucura momentânea. Fora disso, se examinarmos os antecedentes, sempre serão encontrados sintomas, que uma causa fortuita pode desenvolver; então a loucura toma o caráter da preocupação principal. O louco fala daquilo que o preocupa, mas a causa não é a preocupação; esta, quando muito, é uma espécie de forma de manifestação. Assim, havendo uma predisposição para a loucura, aquele que se ocupa de religião terá uma loucura religiosa; o amor produzirá a loucura amorosa; a ambição, a loucura das honras e das riquezas, etc. No fato narrado acima seria absurdo ver outra coisa além de um simples efeito, que qualquer outra causa teria provocado, pois havia predisposição. Agora, vamos mais longe: diremos, com toda clareza, que se esse proprietário, tão impressionável em relação ao seu terreno, estivesse imbuído profundamente dos princípios do Espiritismo, não teria enlouquecido nem se afogado, duas desgraças que teriam sido evitadas, como nos mostram numerosos exemplos. A razão disso é evidente. A loucura tem como causa primeira uma fraqueza moral relativa, que torna o indivíduo incapaz de suportar o choque de certas impressões, no número das quais figura, ao menos em três quartas partes, a mágoa, o desespero, o desapontamento e todas as tribulações da vida. Dar ao homem a força necessária para ver tais coisas com indiferença, é atenuar a causa mais frequente que o leva à loucura e ao suicídio. Ora, essa força ele a tira da Doutrina Espírita bem compreendida. Ante a grandeza do futuro que se descortina aos nossos olhos, e de que dá prova patente, as tribulações da vida tornam-se tão efêmeras que deslizam sobre a alma como a água sobre o mármore, sem deixar traços. O verdadeiro espírita não se liga à matéria senão o estritamente indispensável para as necessidades da vida; mas, se algo lhe falta, conforma-se, porque sabe que está aqui de passagem e que uma sorte muito melhor o aguarda. Também não se aflige por encontrar acidentalmente uma pedra em seu caminho. Se o nosso homem estivesse imbuído dessas ideias, em que se teriam tornado aquelas terras aos seus olhos? A contrariedade que sofreu teria sido insignificante ou nula, e uma desgraça imaginária não o teria conduzido a uma desgraça real. Em resumo, um dos efeitos – e, podemos dizer, um dos benefícios do Espiritismo – é o de dar à alma a força que lhe falta em muitas circunstâncias, e é nisto que ele pode reduzir as causas da loucura e do suicídio. Como se vê, os fatos mais simples podem ser uma fonte de ensinamentos para quem quer refletir. É mostrando as aplicações do Espiritismo nos casos mais vulgares que se fará compreender toda a sua sublimidade. Não está aí a verdadeira filosofia?


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