Podes dizer-me por que sempre gostei de ouvir o som dos sinos? É que a alma do homem, que pensa e sofre, busca sempre se desprender quando experimenta essa felicidade muda, que em nós desperta vagas lembranças de uma vida passada. É que tal som é uma tradução da palavra do Cristo, que vibra no ar há dezoito séculos: é a voz da esperança. Quantos corações consolou! Quanto força deu à Humanidade crente! Essa voz divina apavorou os grandes da época: eles a temeram, porque a verdade que haviam abafado os fez tremer. O Cristo a mostrava a todos; mataram o Cristo, mas não a ideia. Sua palavra sagrada tinha sido compreendida; era imortal e, no entanto, quantas vezes a dúvida deslizou em vossos corações! Quantas vezes o homem acusou a Deus de ser injusto! Exclamava: Meu Deus, que fiz eu? A desgraça marcou-me no berço? Estou, pois, destinado a seguir esta via que me dilacera o coração? Parece que uma fatalidade se liga a meus passos; sinto que as forças me abandonam; vou me aniquilar nesta vida.
Neste momento, Deus faz penetrar em vosso coração um raio de esperança; uma mão amiga vos retira a venda do materialismo, que vos cobre os olhos; uma voz dos céus vos diz: Olha no horizonte aquele foco luminoso: é um fogo sagrado que emana de Deus; essa chama deve iluminar o mundo e o purificar; deve fazer penetrar sua luz no coração do homem e dele expulsar as trevas que obscurecem seus olhos. Alguns homens pretenderam vos trazer a luz; entretanto, não produziram senão um nevoeiro, que fez perder-se o reto caminho.
Não sejais cegos, vós a quem Deus mostra a luz. É o Espiritismo que vos permite levantar a ponta do véu que cobria o vosso passado. Olhai agora o que fostes e julgai. Curvai a cabeça ante a justiça do Criador. Rendei-lhe graças por vos dar coragem para continuar a prova que escolhestes. Disse o Cristo: Aquele que matar a espada morrerá pela espada. ( † ) Esse pensamento, inteiramente espírita, encerra o mistério de vossos sofrimentos. Que a esperança e a bondade de Deus vos dê a coragem e a fé; escutai sempre esta voz que vibra em vossos corações. Cabe a vós compreender, estudar com sabedoria, elevar vossa alma em pensamentos fraternos. Que o rico estenda a mão ao que sofre, pois a riqueza não lhe foi dada para os prazeres pessoais, mas para que seja o seu dispensador; e Deus lhe pedirá contas do uso que dela tiver feito. A única riqueza que Deus reconhece são as vossas virtudes; a única que levareis ao deixar este mundo. Deixai falar esses pretensos sábios, que vos chamam de loucos. Amanhã – quem sabe? – talvez vos peçam para orar por eles, pois Deus os julgará.
Tua filha, que te ama e ora por ti.
Paris. — Typ. H. CARION, rue Bonaparte, 64. †