Jamais me comuniquei convosco e me sinto muito feliz por aumentar a
vossa plêiade literária. Bem sabeis, vós que lestes com tanto gosto,
que intuição eu tinha por aquilo a que chamam o mundo fantástico. Muitas
vezes só, nas longas noites de inverno, recolhido a um canto de meu
lar solitário, eu escutava o gemido das notas plangentes do vento. Enquanto
o olhar distraído seguia vagamente os desenhos inflamados do fogo, por
certo o duende doméstico me entretinha, e eu não inventava
Trilby — Google Books: repetia o que ele me havia murmurado
ao ouvido atento. Que coisa encantadora sentir que vivem à nossa volta
esses hóspedes invisíveis! Com eles, nada de mistérios: eles vos amam,
mau grado vosso, e vos conhecem melhor que vós mesmos. Na minha vida
literária, na minha vida de homem, devo a esses amigos invisíveis os
meus melhores sucessos e minhas mais caras consolações. É a minha vez
de murmurar agora, aos ouvidos amigos, as coisas que o coração adivinha
e não repete. É vos dizer, caro médium, que muitas vezes terei o doce
privilégio de conversar convosco.
Charles Nodier. n
Allan Kardec.
Paris. — Typ. H. CARION, rue Bonaparte, 64. †
[1] [v.
Charles Nodier.]