O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano I — Julho de 1858.

(Idioma francês)

Uma lição de caligrafia por um Espírito.

Em geral os Espíritos não são mestres em caligrafia, pois ordinariamente a escrita do médium não se notabiliza pela elegância. O Sr. D…, um de nossos médiuns, apresentou a respeito um fenômeno excepcional, isto é, escreveu muito melhor sob a influência dos Espíritos do que sob a sua própria inspiração. Sua escrita normal é péssima (da qual não se envaidece, dizendo que é a dos grandes homens); toma um caráter especial, muito distinto, conforme o Espírito que se comunica, e é sempre a mesma com o mesmo Espírito, porém mais nítida, mais legível e mais correta; com alguns, é uma espécie de escrita inglesa, traçada com certa ousadia. Um dos membros da Sociedade, o Dr. V…, teve a ideia de evocar um distinto calígrafo, tendo como motivo de observação o estudo da caligrafia. Conhecia um, chamado Bertrand, falecido há cerca de dois anos, com o qual tivemos, numa outra sessão, a conversa que se segue:


1. À formula de evocação, respondeu: Eis-me aqui.


2. Onde estáveis quando vos evocamos?

Resposta. – Já me encontrava perto de vós.


3. Sabeis qual o principal objetivo que nos levou a solicitar que viésseis?

Resposta. – Não; mas desejo sabê-lo.


Observação. – O Espírito do Sr. Bertrand ainda se acha sob a influência da matéria, como era de supor, tendo em vista a sua vida terrena; sabe-se que tais Espíritos são menos aptos a ler o pensamento do que aqueles que estão mais desmaterializados.


4. Gostaríamos que fizésseis reproduzir pelo médium uma escrita caligráfica que possuísse as características da que tínheis em vida. Vós o podeis?

Resposta. – Eu o posso.


Observação. – A partir desse momento o médium, que não procede de acordo com as regras ensinadas pelos professores de caligrafia, tomou, sem que percebesse, uma postura correta, tanto em relação ao corpo quanto à mão. Todo o resto da conversa foi escrito como o fragmento cujo fac-símile reproduzimos. Como termo de comparação, damos acima a escrita normal do médium. n


5. Lembrai-vos das circunstâncias de vossa vida terrestre?

Resposta. – De algumas.


6. Poderíeis dizer-nos em que ano morrestes?

Resposta. – Em 1856.


7. Com que idade?

Resposta. – Aos 56 anos.


8. Em que cidade habitáveis?

Resposta. – Saint-Germain.  † 


9. Qual era vosso gênero de vida?

Resposta. – Esforçava-me para contentar meu corpo.


10. Vós vos ocupáveis um pouco das coisas do outro mundo?

Resposta. – Não muito.


11. Lamentais não pertencer a este mundo?

Resposta. – Lamento não haver empregado bem a minha existência.


12. Sois mais feliz do que na Terra?

Resposta. – Não; sofro pelo bem que não fiz.


13. Que pensais do futuro que vos está reservado?

Resposta. – Penso que tenho necessidade de toda a misericórdia de Deus.


14. Quais são as vossas relações no mundo em que estais?

Resposta. – Relações lamentáveis e infelizes.


15. Quando retornais à Terra, há lugares que frequentais de preferência?

Resposta. – Procuro as almas que se compadecem de minhas penas, ou que oram por mim.


16. Vedes as coisas da Terra tão claramente como quando vivíeis entre nós?

Resposta. – Procuro não as ver; se as buscasse, seria mais uma causa de desgostos.


17. Diz-se que, quando vivo, éreis muito pouco tolerante. É verdade?

Resposta. – Eu era muito violento.


18. Que pensais do objetivo de nossas reuniões?

Resposta. – Gostaria muito de havê-las conhecido quando encarnado; ter-me-iam tornado melhor.


19. Vedes aí outros Espíritos além de vós?

Resposta. – Sim, mas me sinto bastante confuso diante deles.


20. Rogamos a Deus que vos guarde em sua santa misericórdia. Os sentimentos que acabais de exprimir farão com que encontreis graças diante d’Ele, e não duvidamos que vos auxiliem o progresso.

Resposta. – Eu vos agradeço; Deus vos proteja! Bendito seja por isso! Minha vez chegará também, assim o espero.


Observação. – Os ensinamentos fornecidos pelo Espírito do Sr. Bertrand são absolutamente exatos e de acordo com o gênero de vida e o caráter que lhe conheciam; apenas, ao confessar a sua inferioridade e os seus erros, a linguagem é mais séria e mais elevada do que dele se poderia esperar. Ele nos prova, uma vez mais, a penosa situação daqueles que na Terra se ligaram excessivamente à matéria. É assim que os próprios Espíritos inferiores, através do exemplo, nos dão muitas vezes preciosas lições de moral.



[1] N. do T.: Vide reprodução fotográfica na folha seguinte (página 307). Nas reimpressões posteriores da Revista Espírita de 1858, este fac-símile deixou de ser publicado.



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