O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano I — Dezembro de 1858.

(Idioma francês)

VARIEDADES.


Aos leitores da Revista Espírita.

CONCLUSÃO DO ANO DE 1858.

A Revista Espírita acaba de completar o seu primeiro ano e nos sentimos felizes em anunciar que, doravante, estando assegurada sua existência por um número de assinantes que aumenta a cada dia, daremos prosseguimento às suas publicações.

Os testemunhos de simpatia que temos recebido de toda parte, o sufrágio dos homens mais eminentes pelo saber e pela posição social são, para nós, um poderoso encorajamento na laboriosa tarefa que empreendemos; que aqueles, pois, que nos apoiaram na realização de nossa obra, possam aqui receber o penhor de nossa gratidão. Seria um fato inusitado nos fastos da publicidade se não nos defrontássemos com contradições, nem com críticas, sobretudo quando se trata da emissão de ideias tão recentes; mas, se de alguma coisa devemos admirar-nos, é de ter encontrado tão poucos contraditores, em comparação com os sinais de aprovação que nos foram dados, e sem dúvida isso se deve bem menos ao mérito do escritor do que à atração suscitada pelo próprio assunto tratado e ao crédito que, diariamente, conquista nas mais altas camadas da sociedade. Nós o devemos também, e disso estamos convencidos, à dignidade que sempre temos conservado diante dos nossos adversários, deixando que o público julgue entre a moderação, de uma parte, e a inconveniência, de outra.

O Espiritismo marcha no mundo inteiro a passos de gigante; todo dia reúne alguns dissidentes pela força das coisas; e, se de nossa parte podemos lançar alguns grãos na balança desse grande movimento que se opera e que marcará nossa época como uma nova era, não será melindrando nem nos chocando frontalmente com aqueles que queremos justamente conquistar. É por esse raciocínio, e não pelas injúrias, que nos faremos escutar. A esse respeito, os Espíritos superiores que nos assistem dão-nos a regra de proceder e o exemplo. Seria indigno de uma doutrina, que não prega senão o amor e a benevolência, descer até à arena do personalismo; deixamos esse papel aos que não a compreendem. Nada nos fará desviar da linha que temos seguido, da calma e do sangue-frio que não cessamos de demonstrar no exame raciocinado de todos os problemas, sabendo que assim conquistaremos mais partidários sérios para o Espiritismo do que pelo azedume e pela acrimônia.

Na introdução com que iniciamos o nosso primeiro número, traçamos o plano que nos propúnhamos seguir: citar os fatos, mas também investigá-los e submetê-los ao escalpelo da observação; apreciá-los e deduzir-lhes as consequências. No princípio, toda a atenção se concentrou nos fenômenos materiais que, então, alimentavam a curiosidade do público; mas a curiosidade não dura sempre; uma vez satisfeita deixa de interessar, assim como a criança que abandona um brinquedo. Naquela época os Espíritos nos disseram: “Este é o primeiro período, que logo passará para ceder lugar a ideias mais elevadas; fatos novos haverão de revelar-se, marcando um novo período — o filosófico — e em pouco tempo a doutrina crescerá, como a criança que deixa o berço. Não vos inquieteis com as zombarias: os próprios zombadores serão zombados, e amanhã encontrareis zelosos defensores, entre os vossos mais ardentes adversários de hoje. Quer Deus que assim o seja e fomos encarregados de executar a sua vontade; a má vontade de alguns homens não prevalecerá contra ela; o orgulho dos que pretendem saber mais que Ele será abatido.”

Realmente, estamos longe das mesas girantes, que não divertem mais, porque tudo cansa; só não nos afadigamos daquilo que fala ao raciocínio, e o Espiritismo voga a plenas velas em seu segundo período. Todos compreenderam que é toda uma ciência que se funda, toda uma filosofia, uma nova ordem de ideias. Era preciso seguir esse movimento, contribuir mesmo para ele, sob pena de sermos rapidamente ultrapassados; eis por que nos esforçamos por nos manter à altura, sem nos fecharmos nos estreitos limites de um boletim anedótico. Elevando-se à posição de doutrina filosófica, o Espiritismo conquistou inúmeros aderentes, mesmo entre os que não testemunharam nenhum fato material. É que o homem aprecia o que lhe fala à razão, aquilo de que pode dar-se conta; é que encontra na filosofia espírita algo mais que um divertimento, qualquer coisa a preencher-lhe o pungente vazio da incerteza. Adentrando o mundo extracorporal pelo caminho da observação, nele quisemos que penetrassem nossos leitores, a fim de fazer que o entendessem. A eles cabe julgar se alcançamos o nosso objetivo.

Prosseguiremos, pois, em nossa tarefa no ano que se vai iniciar e que, como tudo anuncia, deverá ser muito fecundo. Novos fatos de uma ordem estranha surgem neste momento, a revelar-nos novos mistérios. Registrá-los-emos cuidadosamente, neles procurando a luz com tanta perseverança quanto no passado, visto tudo pressagiar que o Espiritismo entrará em uma nova fase, mais grandiosa e ainda mais sublime.


Allan Kardec.


Nota. – A abundância das matérias nos obriga a remeter para o próximo número a continuação de nosso artigo sobre a pluralidade das existências e o conto de Frédéric Soulié. [Obs. Esses artigos já estão anexados aos primeiros da série.]


Allan Kardec.



Paris. — Typ. de M. Décembre, 326, rue de Vaugirard.  † 


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