Pergunta (a Erasto.) — Que efeito produzirá a “Vida de Jesus”,
de Renan? n
Resposta. — Enorme efeito. Grande será a repercussão no clero, porque esse livro derroca os próprios fundamentos do edifício em que ele se abriga há dezoito séculos. Não se trata de um livro irrepreensível, longe disso, porque reflete uma opinião exclusiva, que se circunscreve no círculo acanhado da vida material. Todavia, Renan não é materialista, mas pertence a essa escola que, se não nega o princípio espiritual, também não lhe atribui nenhum papel efetivo e direto no encaminhamento das coisas do mundo. Ele é desses cegos inteligentes que explicam a seu modo o que não podem ver; que, não compreendendo o mecanismo da visão a distância, imaginam que só tocando-a se pode conhecer uma coisa. Por isso é que reduziu o Cristo às proporções do mais vulgar dos homens, negando-lhe todas as faculdades que constituem atributos do Espírito livre e independente da matéria.
Entretanto, a par de erros capitais, sobretudo no que concerne à espiritualidade, o livro contém observações muito justas, que até aqui haviam escapado aos comentadores e que, de certo ponto de vista, lhe dão grande alcance. Seu autor se inclui nessa legião de Espíritos encarnados que se podem classificar como demolidores do velho mundo, tendo por missão nivelar o terreno sobre o qual se edificará um mundo novo mais racional. Quis Deus que um escritor, justamente conceituado entre os homens, do ponto de vista do talento, viesse projetar luz sobre algumas questões obscuras e eivadas de preconceitos seculares, a fim de predispor os Espíritos às novas crenças. Sem o suspeitar, Renan achanou o caminho para o Espiritismo.
[1]
[Vie
de Jésus, par Ernest Renan - Google Books.]