O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Médiuns — 2ª Parte.

(Idioma francês)

Capítulo XXXI.


DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.

Acerca do Espiritismo. (1-9.) — Sobre os médiuns. (10-15.)  — Sobre as Reuniões Espíritas. (16-28.) — Comunicações apócrifas. (29-34.)


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Reunimos neste capítulo alguns ditados espontâneos, que completam e confirmam os princípios exarados nesta obra. Poderíamos inseri-los em muito maior número; limitamo-nos, porém, aos que, de modo mais particular, dizem respeito ao porvir do Espiritismo, aos médiuns e às reuniões. Damo-los também como instrução e como tipos das comunicações verdadeiramente sérias. Encerramos o capítulo com algumas comunicações apócrifas, seguidas de notas apropriadas a torná-las reconhecíveis.


Acerca do Espiritismo.  † 


I.


1 Confiai na bondade de Deus e sede bastante clarividentes para perceberdes os preparativos da nova vida que ele vos destina.

Não vos será dado, é certo, gozá-la nesta existência; porém, não sereis ditosos, se não tornardes a viver neste globo, por poderdes considerar do alto que a obra, que houverdes começado, se desenvolve sob as vossas vistas?

2 Couraçai-vos de fé firme e inabalável contra os obstáculos que, ao que parece, hão de levantar-se contra o edifício cujos fundamentos pondes. 3 São sólidas as bases em que ele assenta: a primeira pedra colocou-a o Cristo.

4 Coragem, pois, arquitetos do divino Mestre! Trabalhai, construí! Deus vos coroará a obra.

5 Mas, lembrai-vos bem de que o Cristo renega, como seu discípulo, todo aquele que só nos lábios tem a caridade.

6 Não basta crer; é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância e de desinteresse, sem o que estéril será a vossa fé.


Santo Agostinho.


II.


1 O próprio Cristo preside aos trabalhos de toda sorte que se acham em via de execução, para vos abrirem a era de renovação e de aperfeiçoamento, que os vossos guias espirituais vos predizem.

2 Se, com efeito, afora as manifestações espíritas lançardes os olhos sobre os acontecimentos contemporâneos, reconhecereis, sem hesitação, os sinais precursores, que vos provarão, de maneira irrefragável, serem chegados os tempos preditos.

3 Estabelecem-se comunicações entre todos os povos. Derribadas as barreiras materiais, os obstáculos morais que se lhes opõem à união, os preconceitos políticos e religiosos rapidamente se apagarão e o reinado da fraternidade se implantará, afinal, de forma sólida e durável. 4 Observai que já os próprios soberanos, impelidos por invisível mão, tomam, coisa para vós inaudita! a iniciativa das reformas. E as reformas, quando partem de cima e espontaneamente, são muito mais rápidas e duráveis, do que as que partem de baixo e são arrancadas pela força.

5 Eu pressentira, mau grado a prejuízos de infância e de educação, mau grado ao culto da lembrança, a época atual. Sou feliz por isso e mais feliz ainda por vos vir dizer: Irmãos, coragem! trabalhai por vós e pelo futuro dos vossos; trabalhai, sobretudo, por vos melhorardes pessoalmente e gozareis, na vossa primeira existência, de uma ventura de que tão difícil vos é fazer ideia, quanto a mim vo-la fazer compreender.


Chateaubriand.


III.


1 Penso que o Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos.

Explica, mais do que desvenda, horizontes novos.

2 A reencarnação e as provas, sofridas antes de atingir o Espírito a meta suprema, não são revelações, porém uma confirmação importante. Tocam-me ao vivo as verdades que por esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente — meio — porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira.

3 Está toda por criar-se a preocupação das questões morais. Discute-se a política, que agita os interesses gerais; discutem-se os interesses particulares; o ataque ou a defesa das personalidades apaixonam; os sistemas têm seus partidários e seus detratores. Entretanto, as verdades morais, as que são o pão da alma, o pão de vida, ficam abandonadas sob o pó que os séculos hão acumulado.

4 Aos olhos das multidões, todos os aperfeiçoamentos são úteis, exceto o da alma. Sua educação, sua elevação não passam de quimeras, próprias, quando muito, para ocupar os lazeres dos padres, dos poetas, das mulheres, quer como moda, quer como ensino.

5 Ressuscitando o espiritualismo, o Espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se elevarem para o Ente supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas criaturas.


J. J. Rousseau.


IV.


1 Se Deus envia os Espíritos a instruir os homens, é para que estes se esclareçam sobre seus deveres, e para lhes mostrarem o caminho por onde poderão abreviar suas provas e, conseguintemente, apressar o seu progresso. 2 Ora, do mesmo modo que o fruto chega à madureza, também o homem chegará à perfeição. 3 Porém, de par com Espíritos bons, que desejam o vosso bem, há igualmente os Espíritos imperfeitos, que desejam o vosso mal. Ao passo que uns vos impelem para a frente, outros vos puxam para trás. 4 A saber distingui-los é que deve aplicar-se toda a vossa atenção. É fácil o meio: trata-se unicamente de compreenderdes que o que vem de um Espírito bom não pode prejudicar a quem quer que seja e que tudo o que seja mal só de um mau Espírito pode provir. 5 Se não escutardes os sábios conselhos dos Espíritos que vos querem bem, se vos ofenderdes pelas verdades que eles vos digam, evidente é que são maus os Espíritos que vos inspiram. 6 Só o orgulho pode impedir que vos vejais quais realmente sois. 7 Mas, se vós mesmos não o vedes, outros o veem por vós. De sorte que, então, sois censurados pelos homens, que de vós se riem por detrás, e pelos Espíritos.


Um Espírito Familiar.


V.


1 É bela e santa a vossa Doutrina. O primeiro marco está plantado e plantado solidamente. Agora, só tendes que caminhar. A estrada que vos está aberta é grande e majestosa. 2 Feliz daquele que chegar ao porto; quanto mais prosélitos houver feito, tanto mais lhe será contado. Mas, para isso, cumpre não abraçar friamente a Doutrina; é preciso faze-lo com ardor e esse ardor será duplicado, porquanto Deus está convosco, sempre que fazeis o bem. 3 Todos os que atrairdes serão outras tantas ovelhas que voltaram ao aprisco. Pobres ovelhas meio transviadas! 4 Crede que o mais céptico, o mais ateu, o mais incrédulo, enfim, tem sempre no coração um cantinho que ele desejará poder ocultar a si mesmo. Esse cantinho é que é preciso procurar, é que é preciso achar. É o lado vulnerável que se deve atacar. É uma brechazinha que Deus intencionalmente deixa aberta, para facilitar à sua criatura o meio de lhe voltar ao seio.


São Benedito.


VI.


1 Não vos arreceeis de certos obstáculos, de certas controvérsias.

A ninguém atormenteis com qualquer insistência. Aos incrédulos, a persuasão não virá, senão pelo vosso desinteresse, senão pela vossa tolerância e pela vossa caridade para com todos, sem exceção.

2 Guardai-vos, sobretudo, de violar a opinião, mesmo por palavras, ou por demonstrações públicas. 3 Quanto mais modestos fordes, tanto mais conseguireis tornar-vos apreciados. Nenhum móvel pessoal vos fará agir e encontrareis nas vossas consciências uma força de atração que só o bem proporciona.

4 Por ordem de Deus, os Espíritos trabalham pelo progresso de todos, sem exceção. Fazei o mesmo, vós outros, espíritas.


São Luís.


VII.


Qual a instituição humana, ou mesmo divina, que não encontrou obstáculos a vencer, cismas contra que lutar? Se apenas tivésseis uma existência triste e lânguida, ninguém vos atacaria, sabendo perfeitamente que havíeis de sucumbir de um momento para outro. Mas, como a vossa vitalidade é forte e ativa, como a árvore espírita tem fortes raízes, admitem que ela poderá viver longo tempo e tentam golpeá-la a machado. Que conseguirão esses invejosos? Quando muito, deceparão alguns galhos, que renascerão com seiva nova e serão mais robustos do que nunca.


Channing.


VIII.


1 Vou falar-vos da firmeza que deveis possuir nos vossos trabalhos espíritas. Uma citação sobre este ponto já vos foi feita. Aconselho-vos que a estudeis de coração e que lhe apliqueis o espírito a vós mesmos, porquanto, como São Paulo, sereis perseguidos, não em carne e em osso, mas em espírito. 2 Os incrédulos, os fariseus da época vos hão de vituperar e escarnecer. Nada temais: será uma prova que vos fortalecerá, se a souberdes entregar a Deus e mais tarde vereis coroados de êxito os vossos esforços. 3 Será para vós um grande triunfo no dia da eternidade, sem esquecer que, neste mundo, já é um consolo, para os que hão perdido parentes e amigos. Saber que estes são ditosos, que se podem comunicar com eles é uma felicidade. 4 Caminhai, pois, para a frente; cumpri a missão que Deus vos dá e ela será contada no dia em que comparecerdes ante o Onipotente.


Channing.


IX.


1 Venho, eu, vosso Salvador e vosso juiz; venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que levanta as ondas. 2 Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em feixes o bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis! Mas, ingratos, os homens se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e se perderam nas ásperas veredas da impiedade.

3 Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos, porém, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não existem ainda se faça ouvir, clamando-vos: Orai e crede! por isso que a morte é a ressurreição, e a vida — a prova escolhida, durante a qual, cultivadas, as vossas virtudes têm que crescer e desenvolver-se como o cedro.

3 Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão assistido à minha vida e a minha morte são os intérpretes divinos das vontades de meu Pai.

4 Homens fracos, que acreditais no erro das vossas inteligências obscuras, não apagueis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos, para vos clarear a estrada e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.

Em verdade vos digo: crede na diversidade, na multiplicidade dos Espíritos que vos cercam. 5 Estou infinitamente tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para deixar de estender mão protetora aos infelizes transviados que, vendo o Céu, caem no abismo do erro. 6 Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas; não mistureis o joio com o bom grão, os sistemas com as verdades.

7 Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino; instrui-vos, eis o segundo. 8 Todas as verdades se encontram no Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. 9 Eis que do além-túmulo, que julgais o nada, vos clamam vozes: Irmãos! nada perece; Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.

[Sem nome.]   


10 NOTA. Esta comunicação, obtida por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, foi assinada com um nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão sob todas as reservas, tão grande seria o insigne favor da sua autenticidade e porque dele se há muitas vezes abusado demais, em comunicações evidentemente apócrifas. Esse nome é o de Jesus de Nazaré. 11 De modo algum duvidamos de que ele possa manifestar-se; mas, se os Espíritos verdadeiramente superiores não o fazem, senão em circunstâncias excepcionais, a razão nos inibe de acreditar que o Espírito por excelência puro responda ao chamado do primeiro que apareça. Em todo caso, haveria profanação, no se lhe atribuir uma linguagem indigna dele. [No Evangelho segundo o Espiritismo esta comunicação, com algumas diferenças, tanto no original quanto traduzida, é assinada pelo Espírito de Verdade.]

12 Por estas considerações, é que nos temos abstido sempre de publicar o que traga esse nome. 13 E julgamos que ninguém será circunspeto em excesso no tocante a publicações deste gênero, que apenas para o amor-próprio têm autenticidade e cujo menor inconveniente é fornecer armas aos adversários do Espiritismo.

14 Como já dissemos, quanto mais elevados são os Espíritos na hierarquia, com tanto mais desconfiança devem os seus nomes ser acolhidos nos ditados. 15 Fora mister ser dotado de bem grande dose de orgulho, para poder alguém vangloriar-se de ter o privilégio das comunicações por eles dadas e considerar-se digno de com eles confabular, como com os que lhe são iguais.

16 Na comunicação acima apenas uma coisa reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem e das ideias, deixando que cada um julgue por si mesmo se aquele de quem ela traz o nome não a renegaria.


Sobre os médiuns.  † 


X.


1 Todos os homens são médiuns, todos têm um Espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo. 2 Agora, que uns se comuniquem diretamente com ele, valendo-se de uma mediunidade especial, que outros não o escutem senão com o coração e com a inteligência, pouco importa: não deixa de ser um Espírito familiar quem os aconselha. 3 Chamai-lhe espírito, razão, inteligência, é sempre uma voz que responde à vossa alma, pronunciando boas palavras. Apenas, nem sempre as compreendeis.

4 Nem todos sabem agir de acordo com os conselhos da razão, não dessa razão que antes se arrasta e rasteja do que caminha, dessa razão que se perde no emaranhado dos interesses materiais e grosseiros, mas dessa razão que eleva o homem acima de si mesmo, que o transporta a regiões desconhecidas, chama sagrada que inspira o artista e o poeta, pensamento divino que exalta o filósofo, arroubo que arrebata os indivíduos e povos, razão que o vulgo não pode compreender, porém que ergue o homem e o aproxima de Deus, mais que nenhuma outra criatura, entendimento que o conduz do conhecido ao desconhecido e lhe faz executar as coisas mais sublimes.

5 Escutai essa voz interior, esse bom gênio, que incessantemente vos fala, e chegareis progressivamente a ouvir o vosso anjo guardião, que do alto dos Céus vos estende as mãos. 6 Repito: a voz íntima que fala ao coração é a dos bons e é deste ponto de vista que todos os homens são médiuns.


Channing.


XI.


1 O dom da mediunidade é tão antigo quanto o mundo. Os profetas eram médiuns. Os mistérios de Elêusis  †  se fundavam na mediunidade. Os Caldeus, os Assírios tinham médiuns. 2 Sócrates era dirigido por um Espírito que lhe inspirava os admiráveis princípios da sua filosofia; ele lhe ouvia a voz. 3 Todos os povos tiveram seus médiuns e as inspirações de Joana d’Arc não eram mais do que vozes de Espíritos benfazejos que a dirigiam.

4 Esse dom, que agora se espalha, raro se tornara nos séculos medievos; porém, nunca desapareceu. Swedenborg e seus adeptos constituíram numerosa escola. 5 A França dos últimos séculos, zombeteira e preocupada com uma filosofia que, pretendendo extinguir os abusos da intolerância religiosa, abafava sob o ridículo tudo o que era ideal, a França tinha que afastar o Espiritismo, que progredia sem cessar ao Norte.

6 Permitira Deus essa luta das ideias positivas contra as ideias espiritualistas, porque o fanatismo se constituíra a arma destas últimas. 7 Agora, que os progressos da indústria e da ciência desenvolveram a arte de bem viver, a tal ponto que as tendências materiais se tornaram dominantes, quer Deus que os Espíritos sejam reconduzidos aos interesses da alma. Quer que o aperfeiçoamento do homem moral se torne o que deve ser, isto é, o fim e o objetivo da vida.

8 O Espírito humano segue em marcha necessária, imagem da graduação que experimenta tudo o que povoa o Universo visível e invisível. 9 Todo progresso vem na sua hora: a da elevação moral soou para a Humanidade. Ela não se operará ainda nos vossos dias; mas, agradecei ao Senhor o haver permitido assistais à aurora bendita.


Pedro Jouty,

(pai do médium.)   


XII.


1 Deus me encarregou de desempenhar uma missão junto dos crentes a quem ele favorece com o mediumato. Quanto mais graça recebem eles do Altíssimo, mais perigos correm e tanto maiores são esses perigos, quando se originam dos favores mesmos que Deus lhes concede.

2 As faculdades de que gozam os médiuns lhes granjeiam os elogios dos homens. As felicitações, as adulações, eis, para eles, o escolho. 3 Rápido esquecem a anterior incapacidade que lhes devia estar sempre presente à lembrança. 4 Fazem mais: o que só devem a Deus atribuem-no a seus próprios méritos. Que acontece então? Os bons Espíritos os abandonam, eles se tornam joguete dos maus e ficam sem bússola para se guiarem. 5 Quanto mais capazes se tornam, mais impelidos são a se atribuírem um mérito que lhes não pertence, até que Deus os puna, afinal, retirando-lhes uma faculdade que, desde então, somente fatal lhes pode ser.

6 Nunca me cansarei de recomendar-vos que vos confieis ao vosso anjo guardião, para que vos ajude a estar sempre em guarda contra o vosso mais cruel inimigo, que é o orgulho. 7 Lembrai-vos bem, vós que tendes a ventura de ser intérpretes dos Espíritos para os homens, de que severamente punidos sereis, porque mais favorecidos fostes.

8 Espero que esta comunicação produza frutos e desejo que ela possa ajudar os médiuns a se terem em guarda contra o escolho que os faria naufragar. Esse escolho, já o disse, é o orgulho.


Joana D’Arc.


XIII.


1 Quando quiserdes receber comunicações de bons Espíritos, importa vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, por intenções puras e pelo desejo de fazer o bem, tendo em vista o progresso geral. 2 Porque, lembrai-vos de que o egoísmo é causa de retardamento a todo progresso. 3 Lembrai-vos de que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro daqueles de seus filhos que, pela sua conduta, souberam fazer-se merecedores de lhe compreender a infinita bondade, é que ele quer, por solicitação nossa e atendendo às vossas boas intenções, dar-vos os meios de avançardes no caminho que a ele conduz.

4 Assim, pois, médiuns! aproveitai dessa faculdade que Deus houve por bem conceder-vos. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; ponde sempre em prática a caridade; não vos canseis jamais de exercitar essa virtude sublime, assim como a tolerância. 5 Estejam sempre as vossas ações de harmonia com a vossa consciência e tereis nisso um meio certo de centuplicardes a vossa felicidade nessa vida passageira e de preparardes para vós mesmos uma existência mil vezes ainda mais suave.

6 Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que o ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.


Pascal.


XIV.


1 Falar-vos-ei hoje do desinteresse, que deve ser uma das qualidades essenciais dos médiuns, tanto quanto a modéstia e o devotamento.

2 Deus lhes outorgou a faculdade mediúnica, para que auxiliem a propagação da verdade e não para que trafiquem com ela. 3 E, falando de tráfico, não me refiro apenas aos que entendessem de explorá-la, como o fariam com um dom qualquer da inteligência, aos que se fizessem médiuns, como outros se fazem dançarinos ou cantores, mas também a todos os que pretendessem dela servir-se com o fito em interesses quaisquer.

4 Será racional crer-se que Espíritos bons e, ainda menos, Espíritos superiores, que condenam a cobiça, consintam em prestar-se a espetáculos e, como comparsas, se ponham a disposição de um empresário de manifestações espíritas?

5 Não é racional se suponha que Espíritos bons possam auxiliar quem vise satisfazer ao orgulho, ou à ambição. Deus permite que eles se comuniquem com os homens para os tirarem do paul terrestre e não para servirem de instrumentos às paixões mundanas. Logo, não pode Ele ver com bons olhos os que desviam do seu verdadeiro objetivo o dom que lhes concedeu e vos asseguro que esses serão punidos, mesmo aí nesse mundo, pelas mais amargas decepções.


Delfina de Girardin.


XV.


1 Todos os médiuns são, incontestavelmente, chamados a servir à causa do Espiritismo, na medida de suas faculdades, mas bem poucos há que não se deixem prender nas armadilhas do amor-próprio. É uma pedra de toque, que raramente deixa de produzir efeito. 2 Assim é que, sobre cem médiuns, um, se tanto, encontrareis que, por muito ínfimo que seja, não se tenha julgado, nos primeiros tempos da sua mediunidade, fadado a obter coisas superiores e predestinado a grandes missões. 3 Os que sucumbem a essa vaidosa esperança, e grande é o número deles, se tornam inevitavelmente presas de Espíritos obsessores, que não tardam a subjugá-los, lisonjeando-lhes o orgulho e apanhando-os pelo seu fraco. 4 Quanto mais pretenderem eles elevar-se, tanto mais ridícula lhes será a queda, quando não desastrosa.

5 As grandes missões só aos homens de escol são confiadas e Deus mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no meio e na posição em que possam prestar concurso eficaz. 6 Nunca será demais eu recomende aos médiuns inexperientes que desconfiem do que lhes podem certos Espíritos dizer, com relação ao suposto papel que eles são chamados a desempenhar, porquanto, se o tomarem a sério, só desapontamentos colherão nesse mundo, e, no outro, severo castigo.

7 Persuadam-se bem de que, na esfera modesta e obscura onde se acham colocados, podem prestar grandes serviços, auxiliando a conversão dos incrédulos, prodigalizando consolação aos aflitos. 8 Se daí deverem sair, serão conduzidos por mão invisível, que lhes preparará os caminhos, e serão postos em evidência, por assim dizer, a seu mau grado.

9 Lembrem-se sempre destas palavras: Aquele que se exaltar será humilhado e o que se humilhar será exaltado ( † )


O Espírito de Verdade.


Sobre as reuniões espíritas.  † 


NOTA. Das comunicações que se seguem, algumas foram dadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ou em sua intenção. Outras, que nos foram transmitidas por diversos médiuns, encerram conselhos gerais sobre os grupos, sua formação e obstáculos que podem encontrar.


XVI.


1 Por que não começais as vossas sessões por uma invocação geral, uma como prece, que disponha ao recolhimento? 2 Porque, ficai sabendo, sem o recolhimento, só tereis comunicações levianas; os bons Espíritos só vão aonde os chamam com fervor e sinceridade. É o que ainda os homens não compreendem bastante. 3 Cabe-vos, pois, dar o exemplo, vós que, se o quiserdes, podereis tornar-vos uma das colunas do novo edifício. Observamos com prazer os vossos trabalhos e vos ajudamos, porém, sob a condição de que também, de vosso lado, nos secundeis e vos mostreis a altura da missão que fostes chamados a desempenhar.

4 Formai, portanto, um feixe e sereis fortes e os maus Espíritos não prevalecerão contra vós. 5 Deus ama os simples de espírito, o que não quer dizer os tolos, mas os que se renunciam a si mesmos e que, sem orgulho, para ele se encaminham. 6 Podeis tornar-vos um foco de luz para a humanidade. 7 Sabei, logo, distinguir o joio do trigo; semeai unicamente o bom grão e preservai-vos de espalhar o joio, por isso que este impedirá que aquele germine e sereis responsáveis por todo o mal que daí resulte; de igual modo, sereis responsáveis pelas doutrinas más que porventura propagueis.

8 Lembrai-vos de que um dia pode vir em que o mundo tenha postos sobre vós os olhos. Fazei, conseguintemente, que nada empane o brilho das boas coisas que saírem do vosso seio. Por isso é que vos recomendamos pedirdes a Deus que vos assista.


Santo Agostinho.


9 Instado para ditar uma fórmula de invocação geral, Santo Agostinho respondeu:

10 Sabeis que não há fórmula absoluta. Deus é infinitamente grande para dar mais importância às palavras do que ao pensamento. 11 Ora, não creiais baste pronuncieis algumas palavras, para que os maus Espíritos se afastem. 12 Fugi, sobretudo, de vos servirdes de uma dessas fórmulas banais que se recitam por desencargo de consciência. Sua eficácia reside na sinceridade do sentimento que a dita; está, sobretudo, na unanimidade da intenção, porquanto aquele que se lhe não associe de coração não poderá beneficiar dela, nem fazer que os outros beneficiem.

13 Redigi-a, pois, vós mesmos e submetei-ma, se quiserdes. Eu vos ajudarei.


14 NOTA. A seguinte fórmula de invocação geral foi redigida com o concurso do Espírito, que a completou em muitos pontos:


15 “Deus onipotente, nós te rogamos envies bons Espíritos a nos assistirem e afastes os que nos possam induzir em erro. Dá-nos a luz necessária, para da impostura distinguir a verdade.

“Afasta, igualmente, os Espíritos malfazejos, capazes de lançar entre nós a desunião, suscitando-nos a inveja, o orgulho e o ciúme. Se alguns tentarem introduzir-se aqui, em teu nome, Senhor, os adjuramos a que se retirem.

“Bons Espíritos, que presidis aos nossos trabalhos, dignai-vos de vir instruir-nos e tornai-nos dóceis aos vossos conselhos. Fazei que em nós se apague todo sentimento pessoal, ante o propósito do bem de todos.

“Pedimos, particularmente, a …, nosso protetor especial, que assinta em nos trazer hoje o seu concurso.”


XVII.


1 Meus amigos, deixai que vos dê um conselho, visto que palmilhais um terreno novo e que, se seguirdes a rota que vos indicamos, não vos transviareis.

2 Tem-se-vos dito uma coisa muito verdadeira, que desejamos relembrar-vos: que o Espiritismo é simplesmente uma moral e que não deverá sair, nem muito, nem pouco, dos limites da filosofia, se não quiser cair no domínio da curiosidade.

3 Deixai de lado as questões de ciência: a missão dos Espíritos não é resolvê-las, poupando-vos ao trabalho das pesquisas; mas, procurai tornar-vos melhores, porquanto é assim que realmente progredireis.


São Luís.


XVIII.


1 Zombaram das mesas girantes, nunca zombarão da filosofia, da sabedoria e da caridade que brilham nas comunicações sérias. 2 Aquelas foram o vestíbulo da ciência; aí, todo aquele que entra tem que deixar seus prejuízos, como deixa a capa.

3 Jamais terei por demasiado concitar-vos a que façais do vosso um centro sério. Que alhures se façam demonstrações físicas, que alhures se observe, que alhures se ouça: entre vós, compreenda-se e ame-se.

4 Que supondes sois, aos olhos dos Espíritos superiores, quando fazeis que uma mesa gire, ou se levante? Simples colegiais. Passa o sábio o tempo a repetir o á-bê-cê da ciência? Entretanto, ao ver-vos buscar as comunicações sérias, eles vos consideram como homens sérios, à procura da verdade.


São Luís.


5 Perguntando nós a São Luís se, com estas palavras, tinha o intento de condenar as manifestações físicas, respondeu ele:

6 Eu não poderia condenar as manifestações físicas, pois que se elas se produzem, é com permissão de Deus e para um fim proveitoso. 7 Dizendo que foram o vestíbulo da ciência, assino-lhes a categoria que verdadeiramente lhes compete e lhes comprovo a utilidade. 8 Condeno tão somente os que fazem disso objeto de divertimento e de curiosidade, sem tirarem o ensinamento que daí decorre. 9 Elas são, para a filosofia do Espiritismo, o que a gramática é para a literatura, e quem haja chegado a certo grau de conhecimento numa ciência, já não perde o tempo em lhe repassar os elementos.


XIX.


1 Meus amigos e fiéis crentes, ditoso me sinto sempre que vos posso dirigir pela senda do bem. É uma suave missão que Deus me confia e de que me desvaneço, porque ser útil é sempre uma recompensa.

2 Que o espírito de caridade vos reúna, tanto da caridade que dá, como da que ama. 3 Mostrai-vos pacientes ante as injúrias dos vossos detratores; sede firmes no bem e, sobretudo, humildes diante de Deus. Somente a humildade eleva. Essa a grandeza única que Deus reconhece. Só então os bons Espíritos virão a vós; do contrário o do mal se apossaria de vossa alma. 4 Sede benditos em nome do Criador e crescereis aos olhos dos homens, ao mesmo tempo que aos olhos de Deus.


São Luís.


XX.


1 A união faz a força. Sede unidos, para serdes fortes.

2 O Espiritismo germinou, deitou raízes profundas. Vai estender por sobre a terra sua ramagem benfazeja. 3 É preciso vos torneis invulneráveis aos dardos envenenados da calúnia e da negra falange dos Espíritos ignorantes, egoístas e hipócritas. 4 Para chegardes a isso mister se faz que uma indulgência e uma tolerância recíprocas presidam às vossas relações; que os vossos defeitos passem despercebidos; que somente as vossas qualidades sejam notórias; que o facho da amizade santa vos funda, ilumine e aqueça os corações. Assim resistireis aos ataques impotentes do mal, como o rochedo inabalável à vaga furiosa.


São Vicente de Paulo.


XXI.


1 Meus amigos, quereis formar um grupo espírita e eu o aprovo, porque os Espíritos não podem ver com satisfação que se conservem no insulamento os médiuns. Deus não lhes outorgou para seu uso exclusivo a sublime faculdade que possuem, mas para o bem de todos. 2 Comunicando-se com outros, terão eles mil ensejos de se esclarecerem sobre o mérito das comunicações que recebem, ao passo que, isolados, estão muito melhor sob o domínio dos Espíritos mentirosos, que encantados ficam com o não sofrerem nenhuma fiscalização. 3 Aí está para vós e, se o orgulho vos não subjuga, compreendê-lo-eis e aproveitareis. Aqui vai agora para os outros.

4 Estais bem certos do que deve ser uma reunião espírita? Não, porquanto, no vosso zelo, julgais que o que de melhor tendes a fazer é reunir o maior número possível de pessoas, a fim de as convencerdes. Desenganai-vos. 5 Quanto menos fordes, tanto mais obtereis. 6 Sobretudo, pelo ascendente moral que exercerdes é que atraireis os incrédulos, muito mais do que pelos fenômenos que obtiverdes.

7 Se só pelos fenômenos atrairdes, os que vos procurarem o farão pela curiosidade e topareis com curiosos que vos não acreditarão e que rirão de vós. 8 Se unicamente pessoas dignas de apreço se encontrarem entre vós, muitos talvez vos não acreditem, mas respeitar-vos-ão e o respeito inspira sempre a confiança.

9 Estais convencidos de que o Espiritismo acarretará uma reforma moral. 10 Seja, pois, o vosso grupo o primeiro a dar exemplo das virtudes cristãs, visto que, nesta época de egoísmo, é nas sociedades espíritas que a verdadeira caridade há de encontrar refúgio. n Tal deve ser, meus amigos, um grupo de verdadeiros espíritas. Doutra feita, dar-vos-ei novos conselhos.


Fénelon.


XXII.


1 Perguntastes se a multiplicidade dos grupos, em uma mesma localidade, não seria de molde a gerar rivalidades prejudiciais à Doutrina. Responderei que os que se acham imbuídos dos verdadeiros princípios desta Doutrina veem unicamente irmãos em todos os espíritas, e não rivais.

2 Os que se mostrassem ciosos de outros grupos provariam existir-lhes no íntimo uma segunda intenção, ou o sentimento do amor-próprio, e que não os guia o amor da verdade. Afirmo que, se essas pessoas se achassem entre vós, logo semeariam no vosso grupo a discórdia e a desunião.

3 O verdadeiro Espiritismo tem por divisa benevolência e caridade. Não admite qualquer rivalidade, a não ser a do bem que todos podem fazer. 4 Todos os grupos que inscreverem essa divisa em suas bandeiras estenderão uns aos outros as mãos, como bons vizinhos, que não são menos amigos pelo fato de não habitarem a mesma casa.

5 Os que pretendam que os seus guias são Espíritos melhores que os dos outros deverão prová-lo, mostrando melhores sentimentos. Haja, pois, luta entre eles, mas luta de grandeza dalma, de abnegação, de bondade e de humildade. 6 O que atirar pedra a outro provará, por esse simples fato, que se acha influenciado por maus Espíritos.

7 A natureza dos sentimentos recíprocos que dois homens manifestem é a pedra de toque para se conhecer a natureza dos Espíritos que os assistem.


Fénelon.


XXIII.


1 O silêncio e o recolhimento são condições essenciais para todas as comunicações sérias. Vós não obtereis jamais essas condições se os que somente pela curiosidade sejam conduzidos às vossas reuniões. Convidai, pois, os curiosos a procurar outros lugares, por isso que a distração deles constituiria uma causa de perturbação.

2 Nenhuma conversa deveis tolerar, enquanto os Espíritos estão sendo questionados. 3 Recebeis, às vezes, comunicações que exigem de vós uma réplica séria e respostas não menos sérias da parte dos Espíritos evocados, aos quais muito desagradam, crede-o, os cochichos contínuos de certos assistentes. Daí, em consequência, nada obterdes por completo, nem de verdadeiramente sério. 4 Também o médium que escreve experimenta distrações muito prejudiciais ao seu ministério.


São Luís.


XXIV.


1 Falar-vos-ei da necessidade de observardes, nas vossas sessões, a maior regularidade, isto é, de evitardes toda confusão, toda divergência de ideias. 2 A divergência favorece a substituição dos Espíritos bons pelos maus e quase sempre são estes que respondem às questões propostas.

3 Por outro lado, numa reunião composta de elementos diversos e desconhecidos uns dos outros, por que meio se hão de evitar as ideias contraditórias, a distração, ou, ainda pior, uma vaga indiferença zombeteira? Esse meio quisera eu achá-lo eficaz e certo. Talvez esteja na concentração dos fluidos esparsos em torno dos médiuns. Unicamente eles, mas, sobretudo, os que são estimados, retêm na reunião os bons Espíritos. Porém, a influência deles mal chega para dispersar a turba dos Espíritos levianos.

4 É excelente o trabalho de exame das comunicações. Nunca será demais aprofundarem-se as questões e, principalmente, as respostas. O erro é fácil, mesmo para os Espíritos animados das melhores intenções. 5 A lentidão da escrita, durante a qual o Espírito se afasta do assunto, que ele esgota logo que o concebeu, a mobilidade e a indiferença para com certas formas convindas, todas estas razões e muitas outras vos criam o dever de só limitada confiança dispensardes ao que obtiverdes, subordinando-o sempre ao exame, ainda quando se trate das mais autênticas comunicações.


Jorge,

(Espírito Familiar.)


XXV.


1 Com que fim, as mais das vezes, pedis comunicações aos Espíritos? Para terdes belos trechos de prosa, que mostrareis às pessoas das vossas relações como amostras do nosso talento? Preciosamente as conservais nas vossas pastas, porém, nos vossos corações não há lugar para elas. 2 Julgais porventura que muito nos lisonjeia o comparecermos às vossas assembleias, como a um concurso, para fazermos torneios de eloquência, a fim de que possais dizer que a sessão foi muito interessante? Que vos resta, depois de haverdes achado admirável uma comunicação? Supondes que vimos em busca dos vossos aplausos? Desenganai-vos. 3 Não nos agrada divertir-vos mais de um modo que doutro. Ainda aí o que há, em vós, é curiosidade, que debalde procurais dissimular.

4 O nosso objetivo é tornar-vos melhores. 5 Ora, quando verificamos que as nossas palavras nenhum fruto produzem, que, da vossa parte, tudo se resume numa estéril aprovação, vamos em busca de almas mais dóceis. Cedemos então o lugar aos Espíritos que só fazem questão de falar e esses não faltam. 6 Causa-vos espanto que deixemos tomem eles os nossos nomes. Que vos importa, uma vez que, para vós, não há nisso nem mais, nem menos? Ficai, porém, sabendo que não o permitimos em se tratando daqueles por quem realmente nos interessamos, isto é, daqueles com quem o nosso tempo não é perdido. Esses são os que preferimos e cuidadosamente os preservamos da mentira. 7 Se, portanto, sois tão frequentemente enganados, queixai-vos tão só de vos mesmos. 8 Para nós, o homem sério não é aquele que se abstém de rir, mas aquele cujo coração as nossas palavras tocam, que as medita e tira delas proveito. (Veja-se o n.º 268, perguntas 19 e 20.)


Massilon.


XXVI.


1 O Espiritismo deverá ser uma égide contra o espírito de discórdia e de dissensão; mas, esse espírito, desde todos os tempos, vem brandindo o seu facho sobre os humanos, porque cioso ele é da ventura que a paz e a união proporcionam. Espíritas! bem pode ele, portanto, penetrar nas vossas assembleias e, não duvideis, procurará semear entre vós a desafeição. Impotente, porém, será contra os que tenham a animá-los o sentimento da verdadeira caridade.

2 Estai, pois, em guarda e vigiai incessantemente à porta do vosso coração, como a das vossas reuniões, para que o inimigo não a penetre. Se forem vãos os vossos esforços contra o de fora, sempre de vós dependerá impedir-lhe o acesso em vossa alma. 3 Se dissensões entre vós se produzirem, só por maus Espíritos poderão ser suscitadas.

4 Mostrem-se, por conseguinte, mais pacientes, mais dignos e mais conciliadores aqueles que no mais alto grau se achem penetrados dos sentimentos dos deveres que lhes impõe a urbanidade, tanto quanto o vero Espiritismo. 5 Pode dar-se que, às vezes, os bons Espíritos permitam essas lutas, para facultarem, assim aos bons, como aos maus sentimentos, ensejo de se revelarem, a fim de separar-se o trigo do joio. Eles, porém, estarão sempre do lado onde houver mais humildade e verdadeira caridade.


São Vicente de Paulo.


XXVII.


1 Repeli impiedosamente todos esses Espíritos que reclamam o exclusivismo de seus conselhos, pregando a divisão e o insulamento. São quase sempre Espíritos vaidosos e medíocres, que procuram impor-se a homens fracos e crédulos, prodigalizando-lhes louvores exagerados, a fim de os fascinar e ter sob seu domínio. 2 São geralmente Espíritos famintos de poder que, déspotas, públicos ou privados, quando vivos, ainda se esforçam, depois de mortos, por ter vítimas para tiranizarem.

3 Em geral, desconfiai das comunicações que tragam caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevam cerimônias e atos extravagantes. Sempre haverá, nesses casos, motivo legítimo de suspeição.

4 Por outro lado, crede que, quando uma verdade tenha de ser revelada aos homens, ela é comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que disponham de médiuns sérios, e não a tais ou quais, com exclusão de todos os outros. 5 Ninguém é perfeito médium, se está obsidiado, e há obsessão manifesta, quando um médium só se mostra apto a receber as comunicações de determinado Espírito, por maior que seja a altura em que este procure colocar-se.

6 Conseguintemente, todo médium, todo grupo que julguem ter o privilégio de comunicações que só eles podem receber e que, por outro lado, estejam adstritos a práticas que orçam pela superstição, indubitavelmente se acham sob o guante de uma das obsessões mais bem caracterizadas, sobretudo quando o Espírito dominador se pavoneia com um nome que todos, Espíritos e encarnados, devemos honrar e respeitar e não consentir seja profanado a qualquer propósito.

7 É incontestável que, submetendo ao cadinho da razão e da lógica todos os dados e todas as comunicações dos Espíritos, fácil será descobrir-se o absurdo e o erro. 8 Pode um médium ser fascinado, como pode um grupo ser mistificado. Mas, a verificação severa dos outros grupos, o conhecimento adquirido e a alta autoridade moral dos diretores de grupos, as comunicações dos principais médiuns, com um cunho de lógica e de autenticidade dos melhores Espíritos, farão justiça rapidamente a esses ditados mentirosos e astuciosos, emanados de uma turba de Espíritos enganadores e malignos.


Erasto,

(discípulo de São Paulo.)   


9 NOTA. Um dos caracteres distintivos desses Espíritos, que procuram impor-se e fazer que sejam aceitas suas ideias extravagantes e sistemáticas, é o pretenderem (bom seria fossem eles os únicos dessa opinião) ter razão contra todo o mundo. 10 Consiste a tática de que usam em evitar a discussão e, quando se veem vitoriosamente combatidos com as armas irresistíveis da lógica, negam-se desdenhosamente a responder e prescrevem a seus médiuns que se afastem dos centros onde suas ideias não são aceitas. 11 Esse insulamento é o que há de mais fatal para os médiuns, porque, assim, sofrem eles o jugo dos Espíritos obsessores que os guiam, como cegos, e os levam frequentemente aos maus caminhos.


XXVIII.


1 Os falsos profetas não se encontram apenas entre os encarnados, há-os, igualmente, e em número muito maior, entre os Espíritos orgulhosos que, sob falsas aparências de amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de emancipação da Humanidade, lançando-lhe de través sistemas absurdos, que fazem sejam aceitos pelos seus médiuns. 2 E, para melhor fascinarem os que eles hajam escolhido para serem enganados, a fim de darem maior peso às teorias, não escrupulizam em se utilizarem de nomes que só com muito respeito os homens pronunciam: os de santos com razão venerados, os de Jesus, de Maria, mesmo o de Deus.

3 São eles que atiram o fermento dos antagonismos entre os grupos, que os impelem a se isolarem uns dos outros e a se olharem com animosidade. Só isto bastaria para os desmascarar, porquanto, procedendo assim, eles próprios dão o mais formal desmentido ao que pretendem ser. Cegos, pois, são os homens que se deixam apanhar em tão grosseira armadilha.

4 Há, porém, muitos outros meios de serem reconhecidos. Espíritos da ordem a que esses dizem ter ascendido devem ser não somente bons, mas, além disso, eminentemente lógicos e racionais. Pois bem! submetei-lhes os sistemas ao cadinho da razão e do bom-senso e vereis o que restará. 5 Convinde, portanto, comigo em que, todas as vezes que um Espírito indique, como remédio aos males da Humanidade, ou como meios de chegar-se à sua transformação, coisas utópicas e impraticáveis, providências pueris e ridículas, quando formule um sistema que as mais vulgares noções da ciência contradigam, não pode tal Espírito deixar de ser ignorante e mentiroso.

6 Por outro lado, tende a certeza de que, se a verdade nem sempre é apreciada pelos indivíduos, sempre o é pelo bom-senso das massas e nisso se vos oferece mais um critério de opinardes. 7 Se dois princípios se contradizem, tereis a medida do valor intrínseco de um e outro, procurando saber qual o que mais eco produz e mais simpatia encontra. Seria, com efeito, ilógico que uma doutrina, cujo número de partidários diminua gradualmente, fosse mais verdadeira do que outra, cujos adeptos se vão tornando cada vez mais numerosos. 8 Deus, pois, que quer que a verdade chegue a todos, não a confina em um círculo acanhado e restrito: fá-la surgir em diferentes pontos, a fim de que por toda parte a luz esteja ao lado das trevas.


Erasto.


9 NOTA. A melhor garantia de que um princípio é a expressão da verdade se encontra em ser ensinado e revelado por diferentes Espíritos, com o concurso de médiuns diversos, desconhecidos uns dos outros e em lugares vários, e em ser, ao demais, confirmado pela razão e sancionado pela adesão do maior número. 10 Só a verdade pode fornecer raízes a uma doutrina. Um sistema errôneo pode, sem dúvida, reunir alguns aderentes; mas, como lhe falta a primeira condição de vitalidade, efêmera será a sua existência. Não há, pois, motivo para que com ele nos inquietemos. Seus próprios erros o matam e a sua queda será inevitável aos golpes da poderosa arma que é a lógica.


Comunicações apócrifas.


Muitas comunicações há, de tal modo absurdas, que, embora assinadas com os mais respeitáveis nomes, o senso comum basta para lhes tornar patente a falsidade. Outras, porém, há, em que o erro, dissimulado entre coisas aproveitáveis, chega a iludir, impedindo às vezes se possa apreendê-lo à primeira vista. Essas comunicações, no entanto, não resistem a um exame sério. Vamos, como amostra, reproduzir aqui algumas.


XXIX.


[Mensagem apócrifa.]

1 A criação perpétua e incessante dos mundos é, para Deus, um como gozo perpétuo, porque ele vê incessantemente seus raios se tomarem cada dia mais luminosos em felicidade. Para Deus, não há número, do mesmo modo que não há tempo. Eis por que centenas ou milhares não são, para ele, mais nem menos uns do que outros. É um pai, cuja felicidade se forma da felicidade coletiva de seus filhos e que, a cada segundo da criação, vê uma nova felicidade vir fundir-se na felicidade geral. Não há parada, nem suspensão, nesse movimento perpétuo, nessa grande felicidade incessante que fecunda a Terra e o Céu. Do mundo, não se conhece mais do que uma pequena fração e tendes irmãos que vivem em latitudes onde o homem ainda não chegou a penetrar. Que significam esses calores de torrar e esses frios mortais, que detêm os esforços dos mais ousados? Julgais, com simplicidade, haver chegado ao limite do vosso mundo, quando não podeis mais avançar com os insignificantes meios de que dispondes? Poderíeis então medir exatamente o vosso planeta? Não creiais isso. Há no vosso planeta mais lugares ignorados do que lugares conhecidos. Porém, como é inútil que se propaguem ainda mais todas as vossas instituições más, todas as vossas leis más, ações e existências, há um limite que vos detém aqui e ali e que vos deterá até que tenhais de transportar as boas sementes que o vosso livre arbítrio fez. Oh! não, não conheceis esse mundo, a que chamais Terra. Vereis na vossa existência um grande começo de provas desta comunicação. Eis que vai soar a hora em que haverá uma outra descoberta diferente da última que foi feita; eis que se vai alargar o círculo da vossa Terra conhecida e, quando toda a imprensa cantar esse Hosana em todas as línguas, vós, pobres filhos, que amais a Deus e que procurais sua voz, o tereis sabido antes daqueles mesmos que darão nome à nova Terra.


“VICENTE DE PAULO.”   


2 NOTA. Do ponto de vista do estilo, esta comunicação não resiste à crítica. As incorreções, os pleonasmos, os torneios viciosos saltam aos olhos de qualquer, por menos letrado que seja. 3 Isso, porém, nada provaria contra o nome que a firma, dado que tais imperfeições poderiam decorrer da incapacidade do médium, conforme já o demonstramos. 4 O que é do Espírito é a ideia. 5 Ora, dizer, como ele diz, que no nosso planeta há mais lugares ignorados, do que lugares conhecidos, que um novo continente vai ser descoberto é, para um Espírito que se qualifica de superior, dar prova da mais profunda ignorância. 6 Sem dúvida, é possível que, para além das regiões glaciais, se descubram alguns cantos de terra desconhecidos, mas dizer que essas terras são povoadas e que Deus as conserva ocultas dos homens, a fim de que estes não levem para lá suas más instituições, é acreditar demasiado na confiança cega daqueles a quem semelhantes absurdos são propinados.


XXX.


[Mensagem autêntica.]

1 Meus filhos, o nosso mundo material e o mundo espiritual, que bem poucos ainda conhecem, formam como que os dois pratos da balança perpétua. Até aqui, as nossas religiões, as nossas leis, os nossos costumes e as nossas paixões têm feito de tal modo descer o prato do mal e subir o do bem, que se há visto o mal reinar soberanamente na Terra. Desde séculos, é sempre a mesma a queixa que se desprende da boca do homem e a conclusão fatal é a injustiça de Deus. Alguns há mesmo que vão até à negação da existência de Deus. Vedes tudo aqui e nada lá; vedes o supérfluo que choca a necessidade, o ouro que brilha junto da lama; todos os mais chocantes contrastes que vos deveriam provar a vossa dupla natureza. Donde vem isto? De quem a falta? Eis o que é preciso pesquisar com tranquilidade e com imparcialidade. Quando sinceramente se deseja achar um bom remédio, acha-se. Pois bem! mau grado a essa dominação do mal sobre o bem, por culpa vossa, por que não vedes o resto ir direto pela linha traçada por Deus? Vedes as estações se desarranjarem? os calores e os frios se chocarem inconsideradamente? a luz do Sol esquecer-se de iluminar a Terra? a terra esquecer em seu seio as sementes que o homem aí depositou? Vedes a cessação dos mil milagres perpétuos que se produzem sob nossos olhos, desde o nascimento do arbusto até o nascimento da criança, o homem futuro? Mas, tudo vai bem do lado de Deus, tudo vai mal do lado do homem. Qual o remédio para isto? É muito simples: aproximarem-se de Deus, amarem-se, unirem-se, entenderem-se e seguirem tranquilamente a estrada cujos marcos se veem com os olhos da fé e da consciência.


Vicente de Paulo.


2 NOTA. Esta comunicação foi obtida no mesmo círculo; mas, quanto difere da precedente, não só pelas ideias, como também pelo estilo! Tudo aí é justo, profundo, sensato e certamente São Vicente de Paulo não a desdenharia, pelo que se lhe pode atribuí-la sem receio.


XXXI.


[Comunicação apócrifa.]

1 Vamos, filhos, cerrai as vossas fileiras, isto é, que a boa união faça a vossa força. Vós, que trabalhais na fundação do grande edifício, vigiai e trabalhai sempre por lhe consolidar a base; então, podereis elevá-lo bem alto, bem alto! A progressão é imensa sobre todo o nosso globo; uma quantidade inumerável de prosélitos se enfileiram sob o nosso estandarte; muitos cépticos e até dos mais incrédulos também se aproximam.

Ide, filhos; marchai, com o coração elevado, cheio de fé; o caminho que percorreis é belo; não esmoreçais; segui sempre a linha reta, servi de guias aos que vêm depois de vós. Eles serão felizes, muito felizes!

Caminhai, filhos! Não precisais da força das baionetas para sustentar a vossa causa, não precisais senão de fé. A crença, a fraternidade e a união, tais as vossas armas; com elas, sois fortes, mais poderosos do que todos os grandes potentados do Universo, reunidos, apesar de suas forças vivas, de suas frotas, de seus canhões e de sua metralha!

Vós, que combateis pela liberdade dos povos e pela regeneração da grande família humana, ide, filhos, coragem e perseverança. Deus vos ajudará. Boa noite; até à vista.


“NAPOLEÃO.”   


2 NOTA. Napoleão era, em vida, um homem grave e sério. Toda gente lhe conhece o estilo breve e conciso. Teria degenerado singularmente se, depois de morto, se houvesse tornado verboso e burlesco. Esta comunicação talvez seja do Espírito de algum soldado que se chamava Napoleão.


XXXII.


[Mensagem apócrifa.]

1 Não, não se pode mudar de religião, quando não se tem uma que possa, ao mesmo tempo, satisfazer ao senso comum e à inteligência que se tem e que possa, sobretudo, dar ao homem consolações presentes. Não, não se muda de religião, cai-se da inépcia e da dominação na sabedoria e na liberdade. Ide, ide, pequeno exército nosso! ide e não temais as balas inimigas; as que vos hão de matar ainda não foram feitas, se estiverdes sempre, do fundo do coração, na senda do Senhor, isto é, se quiserdes sempre combater pacificamente e vitoriosamente pelo bem-estar e pela liberdade.


“VICENTE DE PAULO.”   


2 NOTA. Quem reconheceria São Vicente de Paulo por esta linguagem, por estes pensamentos desalinhavados e baldos de senso? Que significam estas palavras: Não, não se muda de religião, cai-se da inépcia e da dominação na sabedoria e na liberdade? Com as suas balas, que ainda não estão feitas, muito suspeitamos que este Espírito é o mesmo que acima se assinou Napoleão.


XXXIII.


[Comunicações apócrifas de Jesus.]

1 Filhos da minha fé, cristãos da minha doutrina esquecida pelos interesses das ondas da filosofia dos materialistas, segui-me no caminho da Judeia, segui a paixão da minha vida, contemplai meus inimigos agora, vede os meus sofrimentos, meus tormentos e meu sangue derramado.

Filhos espiritualistas da minha nova doutrina, estai prontos a suportar, a afrontar as ondas da adversidade, os sarcasmos de vossos inimigos. A fé caminhará sem cessar seguindo a vossa estrela, que vos conduzirá ao caminho da felicidade eterna, tal como a estrela conduziu pela fé os Magos do Oriente à manjedoura. Quaisquer que sejam as vossas adversidades, quaisquer que sejam as vossas penas e as lágrimas que houverdes derramado nessa esfera de exílio, tomai coragem, ficai persuadidos de que a alegria que vos inundará no mundo dos Espíritos estará muito acima dos tormentos da vossa existência passageira. O vale de lágrimas é um vale que há de desaparecer para dar lugar à brilhante morada de alegria, de fraternidade e de união, onde chegareis pela vossa boa obediência à santa revelação. A vida, meus caros irmãos, nesta esfera terrestre, toda preparatória, não pode durar senão o tempo necessário para viver bem preparado para essa vida que não poderá jamais acabar. Amai-vos, amai-vos, como eu vos amei e como vos amo ainda; irmãos, coragem, irmãos! Eu vos abençoo, no Céu vos espero.


“JESUS.”


2 Nestas brilhantes e luminosas regiões onde o pensamento humano mal pode chegar, o eco de vossas palavras e das minhas veio tocar o meu coração.

Oh! de que alegria me sinto inundado, vendo-vos, a vós, continuadores da minha doutrina. Não, nada se aproxima do testemunho dos vossos bons pensamentos! Vede, filhos: a ideia regeneradora lançada por mim outrora no mundo, perseguida, detida um momento, sob a pressão dos tiranos, vai doravante sem obstáculos, iluminando os caminhos à Humanidade por tanto tempo mergulhada nas trevas.

Todo sacrifício, grande e desinteressado, meus filhos, cedo ou tarde produziu frutos. Meu martírio vo-lo provou; meu sangue derramado pela minha doutrina salvará a Humanidade e apagará as faltas dos grandes culpados!

Sede benditos vós, que hoje tomais lugar na família regenerada! Ide, coragem, filhos!


“JESUS.”


3 NOTA. Indubitavelmente, nada há de mau nestas duas comunicações; porém, teve o Cristo alguma vez essa linguagem pretensiosa, enfática e empolada? Faça-se a sua comparação com a que citamos acima [n.º IX], firmada pelo mesmo nome, e ver-se-á de que lado está o cunho de autenticidade.

4 Todas estas comunicações foram obtidas no mesmo círculo. Nota-se, no entanto, um certo tom familiar, idênticos torneios de frases, as mesmas expressões repetidas com frequência, como, por exemplo, ide, ide, filhos, etc., donde se pode concluir que é o mesmo Espírito que as deu todas, sob nomes diferentes. Entretanto, nesse círculo, aliás consciencioso, se bem que um tanto crédulo demais, não se faziam evocações, nem perguntas; tudo se esperava das comunicações espontâneas, o que, como se vê, não constitui certamente uma garantia de identidade. 5 Com algumas perguntas um pouco insistentes e forradas de lógica, teriam facilmente reposto esse Espírito no seu lugar. 6 Ele, porém, sabia que nada tinha a temer, porquanto nada lhe perguntavam e aceitavam sem verificação e de olhos fechados tudo o que ele dizia. (Veja-se o n.º 269.)


XXXIV.


[Mensagem apócrifa.]

1 Como é bela a Natureza! Como é prudente a Providência, na sua previdência! Mas, a vossa cegueira e as vossas paixões humanas impedem que tireis paciência da prudência e da bondade de Deus. À menor nuvem, ao menor atraso nas vossas previsões, vós vos lamentais. Sabei, impacientes duvidadores, que nada acontece sem um motivo sempre previsto, sempre premeditado em proveito de todos. A razão do que precede é para reduzir a nada, homens de temores hipócritas, todas as vossas previsões de ano mau para as vossas colheitas.

Deus frequentemente inspira aos homens a inquietação pelo futuro, para os impelir à previdência; e vede como grandes são os meios para dar a última demão aos vossos temores intencionalmente espalhados e que, as mais das vezes, ocultam pensamentos ávidos, antes que uma ideia de cauteloso aprovisionamento, inspirado por um sentimento de humanidade a favor dos pequenos. Vede as relações de nações a nações que daí resultarão; vede que transações deverão efetuar-se; quantos meios virão concorrer a reprimir os vossos temores! pois, como sabeis, tudo se encadeia; por isso, grandes e pequenos virão à obra.

Então, não vedes já em todo esse movimento uma fonte de certo bem-estar para a classe mais laboriosa dos Estados, classe verdadeiramente interessante, que, vós os grandes, os onipotentes dessa terra, considerais gente tosquiável à vontade, criada para as vossas satisfações?

Ora bem, que acontece depois de todo esse vaivém de um polo a outro? É que, uma vez bem providos, muitas vezes o tempo mudou; o Sol, obedecendo ao pensamento de seu criador, amadureceu em alguns dias as vossas sementeiras; Deus pôs a abundância onde a vossa cobiça meditava sobre a escassez e, mau grado vosso, os pequenos poderão viver; e, sem suspeitardes disso, fostes, a vosso mau grado, causa de uma abundância.

Entretanto, sucede — Deus o permite algumas vezes — que os maus tenham êxito em seus projetos cúpidos, mas então é um ensinamento que Deus quer dar a todos; é a previdência humana que ele quer estimular: é a ordem infinita que reina na Natureza, é a coragem contra os acontecimentos que os homens devem imitar, que devem suportar com resignação.

Quanto aos que, por cálculo, aproveitam dos desastres, crede-o, serão punidos. Deus quer que todos os seus seres vivam; o homem não deve brincar com a necessidade, nem traficar com o supérfluo. Justo em seus benefícios, grande na sua clemência, demasiado bom para com a nossa ingratidão, Deus, em seus desígnios, é impenetrável.


BOSSUET, ALFREDO DE MARIGNAC.   


2 NOTA. Esta comunicação, certo, nada contém de mau. Encerra mesmo profundas ideias filosóficas e conselhos muito avisados, que poderiam levar os poucos versados em literatura a equivocar-se relativamente a identidade do autor. Tendo-a o médium, que a obtivera, submetido ao exame da Sociedade Espírita de Paris, foram unânimes os votos declarando que ela não podia ser de Bossuet. 3 São Luís, consultado, respondeu: “Esta comunicação, em si mesma, é boa; mas, não acrediteis tenha sido Bossuet quem a ditou. Escreveu-a um Espírito, talvez um pouco sob a inspiração daquele outro, e lhe pôs por baixo o nome do grande bispo, para torná-la mais facilmente aceitável. Praticou-a o Espírito que colocou o seu nome, em seguida ao de Bossuet.”

4 Interrogado sobre o motivo que o levara a proceder assim, disse esse Espírito: “Eu desejava escrever alguma coisa, a fim de me fazer lembrado dos homens. Vendo que sou fraco, entendi de apadrinhar o meu escrito com o prestígio de um grande nome. — Mas, não imaginaste que se reconheceria não ser de Bossuet a comunicação? — Quem sabe lá, ao certo? Poderíeis enganar-vos. Outros menos perspicazes a teriam aceitado.”

5 De fato, a facilidade com que algumas pessoas aceitam tudo o que vem do mundo invisível, sob o pálio de um grande nome, é que anima os Espíritos embusteiros. 6 A lhes frustrar os embustes é que todos devem consagrar a máxima atenção; mas, a tanto ninguém pode chegar, senão com a ajuda da experiência adquirida por meio de um estudo sério. 7 Daí o repetirmos incessantemente: Estudai, antes de praticardes, porquanto é esse o único meio de não adquirirdes experiência [sofrível] à vossa própria custa.



[1] Conhecemos um senhor que foi aceito para um emprego de confiança, numa casa importante, porque era espírita sincero. Entenderam que as suas crenças eram uma garantia da sua moralidade.


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