Cerca de um ano após o lançamento da 1ª edição de O Livro dos Espíritos, cujo sucesso surpreendeu o próprio Allan Kardec, julgou este por bem editar uma espécie de manual essencialmente prático, que contemplasse a exposição completa das condições necessárias para a comunicação com os Espíritos e os meios de desenvolver a faculdade mediúnica.
Essa providência revelou-se de suma importância, porque apontava um rumo, uma direção segura a quantos quisessem familiarizar-se com os mecanismos que possibilitam o intercâmbio espiritual entre os dois planos da vida, uma espécie de vade-mécum destinado a orientar corretamente as pessoas que, com a sistematização do Espiritismo em corpo de doutrina, passaram a interessar-se pelos fenômenos mediúnicos.
Deu-lhe o Codificador da Doutrina o título de Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, ordenando suas matérias em onze capítulos, precedidos de uma “Introdução”, um “Vocabulário Espírita” e de um interessante “Quadro Sinótico da Nomenclatura Espírita Especial”, verdadeiro esforço de síntese, capaz de dar, numa única página, um quadro tão completo quanto possível das manifestações mediúnicas.
Não obstante o papel inestimável que esse livro desempenhou nos primórdios da Codificação Espírita, Allan Kardec avisou aos leitores da Revista Espírita (agosto de 1860) que aquela obra estava inteiramente esgotada e não seria reimpressa. Novo trabalho, muito mais completo e que seguiria outro plano, viria substituí-la dentro de pouco tempo. Foi a primeira referência indireta ao lançamento de O Livro dos Médiuns, publicado em 1861.
E, de fato, na “Introdução” do 2º livro da Codificação Espírita, Allan Kardec assim se pronunciava: “Havíamos publicado uma Instrução Prática com o fito de guiar os médiuns. Essa obra está hoje esgota da e, embora a tenhamos feito com um fim grave e sério, não a reimprimiremos, porque ainda não a consideramos bastante completa para esclarecer acerca de todas as dificuldades que se possam encontrar. Substituímo-la por esta outra, na qual reunimos todos os dados que uma longa experiência e conscienciosos estudos nos permitiram colher”.
A segunda edição francesa do livro Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas só viria a lume em 1923, mais de cinquenta anos após a desencarnação do Codificador, seguida de outras edições mais modernas, em francês e em outras línguas, inclusive português.
Isto posto, é possível que o leitor se pergunte: Por que publicar um livro que só conheceu uma única edição em vida de seu autor, substituído por outra obra “mais completa e que seguiria novo plano”?
Em nossa opinião, e mesmo considerando O Livro dos Médiuns a obra definitiva da Codificação Espírita no campo da mediunidade, a simples inclusão do “Vocabulário Espírita” nas páginas do livro Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas já é argumento suficiente para justificar a sua publicação. Como se sabe, esse vocabulário é composto por mais de cem verbetes, definidos e classificados pelo próprio Allan Kardec, vocabulário que foi bastante resumido na edição definitiva do livro que o substituiu, já que era intenção do Codificador publicar mais tarde, em volume à parte, um glossário muito mais completo, pro vidência que, talvez por falta de tempo, acabou não se concretizando.
Ademais, a publicação deste livro também se justifica, a nosso ver, pelo inestimável valor histórico dessa obra de iniciação espírita, editada em 1858 e até hoje desconhecida por grande parte dos espíritas, brasileiros e de outros países, comprometidos com a difusão e a vivência dos postulados doutrinários.
Ressaltamos mais uma vez que este livro foi substituído por O Livro dos Médiuns, a obra fundamental do Espiritismo, a palavra indiscutível dos Espíritos Superiores no que respeita à mediunidade. Contudo, a sua publicação, acompanhada do lançamento quase simultâneo de outros opúsculos de vulgarização da Doutrina Espírita, por certo contribuirá para resgatar esses escritos do Codificador junto às novas gerações que surgem, e que não podem nem devem ficar alheias à grande epopeia que preparou os caminhos para a regeneração da Humanidade.
Brasília (DF), 10 de janeiro de 2006.
Evandro Noleto Bezerra.
Tradutor.