O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Instruções práticas.

(Idioma francês)

Capítulo primeiro.


ESCALA ESPÍRITA.

De todos os princípios fundamentais da Doutrina Espírita, um dos mais importantes é, sem contradição, o que estabelece as diferentes ordens de Espíritos. No princípio das manifestações imaginou-se que uma entidade, pelo fato mesmo de ser um Espírito, devia possuir a ciência infusa e a suprema sabedoria, o que fez que muitas pessoas se julgassem de posse de um meio infalível de adivinhação. Este erro deu motivo a muitas desilusões. Logo a experiência demonstrou que o mundo invisível está longe de encerrar apenas Espíritos Superiores; eles próprios nos informam que não são iguais nem em saber, nem em moralidade, e que sua elevação depende do grau de perfeição a que chegaram; traçaram os caracteres distintivos dos diferentes graus que constituem o que chamamos Escala Espírita. Desde então ficaram explicadas a diversidade e as contradições de sua linguagem e compreendeu-se que, entre os Espíritos como entre os homens, para saber-se uma coisa, não basta dirigir-se ao primeiro que chegar.

Esta escala nos dá, assim, a chave de uma imensidão de fenômenos e de aparentes anomalias, para as quais, sem isso, seria difícil, se não impossível, a sua percepção. Além disso, ela nos interessa pessoalmente, uma vez que, por nossa alma, pertencemos ao mundo espiritual, ao qual voltamos ao deixar a vida corporal; ela nos mostra, desse modo, o caminho que devemos seguir para chegarmos à perfeição e ao bem supremo.

Do ponto de vista da ciência prática, ela nos oferece a maneira de julgar os Espíritos que se apresentam nas manifestações e nos permite apreciar o grau de confiança que sua linguagem deve inspirar. Esse estudo exige uma observação atenta e constante. Assim como precisamos de tempo e de experiência para aprender a conhecer os homens, precisaremos de tudo isso também para conhecer os Espíritos.

A Escala Espírita compreende três ordens principais, indicadas pelos Espíritos e perfeitamente caracterizadas. Como cada uma dessas ordens apresenta diferentes gradações, nós as subdividimos em várias classes, designadas pelo caráter dominante dos Espíritos que delas fazem parte. Esta classificação, aliás, nada tem de absoluto. Cada categoria não oferece senão um caráter distinto em seu conjunto, mas, de um grau a outro o matiz se apaga como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou, ainda, como nos diferentes períodos da vida. De vinte a quarenta anos o homem sofre uma mudança notável; aos vinte anos é um rapaz; aos quarenta, é um homem feito; mas, entre essas duas fases da vida seria impossível estabelecer uma linha de demarcação e dizer onde acaba uma e começa a outra. Dá-se o mesmo entre os graus da Escala Espírita. Faremos observar, além disso, que os Espíritos não pertencem sempre, exclusivamente, a tal ou qual classe; não se realizando seu progresso senão gradualmente e, muitas vezes, mais em um sentido do que em outro, eles podem reunir os caracteres de várias categorias, o que é fácil de reconhecer pela sua linguagem e pelos seus atos.

Começamos a escala pelas ordens inferiores, porque é o ponto de partida dos Espíritos que se elevam gradualmente das últimas às primeiras categorias.


Terceira Ordem. n

Espíritos Imperfeitos.


Características gerais. — Predominância da matéria sobre o Espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes.

Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Nem todos são essencialmente maus. Em alguns há mais leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas, pelo simples fato de não fazerem o bem, já denotam sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-lo. Podem aliar a inteligência à maldade ou à malícia; mas, seja qual for o seu desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e mais ou menos abjetos seus sentimentos.

Seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados e o pouco que dele sabem se confunde com as ideias e preconceitos da vida corporal. Acerca dessas coisas não nos podem dar senão noções falsas e incompletas; contudo, o observador atento encontra, nas suas comunicações, mesmo imperfeitas, a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos Superiores.

O caráter deles se revela por sua linguagem. Todo Espírito que, em suas comunicações, trai um mau pensamento pode ser classificado na terceira ordem; por conseguinte, todo mau pensamento que nos é sugerido vem de um Espírito desta ordem.

Eles veem a felicidade dos bons e esse espetáculo lhes constitui incessante tormento, pois que os faz experimentar todas as angústias que a inveja e o ciúme podem produzir.

Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é muitas vezes mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, verdadeiramente, pelos males de que padeceram em vida e pelos que ocasionaram aos outros. E, como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre. Deus, para puni-los, quer que assim o creiam.

Podem ser divididos em quatro grupos principais:


Nona classe. ESPÍRITOS IMPUROS. — São inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas preocupações. Como Espíritos, dão conselhos pérfidos, insuflam a discórdia e a desconfiança e se mascaram de todos as maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões, a fim de induzi-los à perdição, satisfeitos por lhes poderem retardar o adiantamento, fazendo-os sucumbir nas provas por que passam.

Quando se manifestam, são reconhecidos por sua linguagem. A trivialidade e a grosseria das expressões, nos Espíritos, como nos homens, é sempre indício de inferioridade moral, se não também intelectual. Suas comunicações revelam a baixeza de seus pendores e, se tentam iludir, falando com sensatez, são incapazes de sustentar por muito tempo o papel e acabam sempre por se traírem.

Alguns povos fizeram deles divindades malfazejas; outros os designam pelos nomes de demônios, maus gênios, Espíritos do mal.

Quando encarnados, os seres vivos que eles animam são inclinados a todos os vícios geradores das paixões vis e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a inveja, a sórdida avareza. Fazem o mal pelo simples prazer de praticá-lo, na maioria das vezes sem motivo e, por ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. São flagelos para a Humanidade, seja qual for a classe social a que pertençam, e o verniz da civilização não os livra do opróbrio e da ignomínia.


Oitava classe. — ESPÍRITOS LEVIANOS. — São ignorantes, travessos, irrefletidos e zombeteiros. Intrometem-se em tudo, a tudo respondem, sem se incomodarem com a verdade. Gostam de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias, de fazer intrigas, de induzir maliciosamente em erro, por meio de mistificações e de espertezas. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente designados pelos nomes de duendes, trasgos, gnomos, diabretes. Acham-se sob a dependência dos Espíritos Superiores, que muitas vezes os utilizam, como fazemos com os nossos serviçais.

Mais do que outros, parecem ligados à matéria e serem os agentes principais das vicissitudes dos elementos do globo, quer habitem o ar, a água, o fogo, os corpos duros ou as entranhas da Terra. Manifestam sua presença por efeitos sensíveis, tais como pancadas, movimento e deslocamento anormal dos corpos sólidos, agitação do ar, etc., o que fez se lhes desse o nome de Espíritos batedores ou perturbadores. Reconhece-se que esses fenômenos não são devidos a uma causa fortuita e natural, quando têm um caráter intencional e inteligente. Todos os Espíritos podem produzir esses fenômenos mas, em geral, os Espíritos elevados os deixam por conta dos Espíritos inferiores, mais aptos às coisas materiais do que às inteligentes.

Em suas comunicações com os homens, a linguagem de que se servem é, por vezes, espirituosa e faceta, mas quase sempre sem profundidade; exploram as falhas e o lado ridículo dos homens e das coisas, comentando-os em traços mordazes e satíricos. Se tomam nomes supostos, é mais por malícia do que por maldade.


Sétima classe. — ESPÍRITOS PSEUDO-SÁBIOS. — Seus conhecimentos são bastante amplos, porém, creem saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, sua linguagem tem um caráter sério, que pode iludir quanto às suas capacidades e luzes; tudo isso, porém, não passa de reflexo dos preconceitos e das ideias sistemáticas que nutriam na vida terrena. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos, em meio aos quais penetram a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que ainda não se puderam despojar.


Sexta classe. — ESPÍRITOS NEUTROS. — Nem são bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal. Pendem tanto para um como para o outro e não se elevam acima da condição comum da Humanidade, quer no que respeita ao moral, quer no que tange à inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, de cujas grosseiras alegrias sentem saudades.


Segunda Ordem.

Espíritos Bons.


Características gerais. —  Predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e poderes para o bem estão em relação com o grau de adiantamento a que chegaram: uns têm a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Os mais adiantados aliam o saber às qualidades morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, segundo a categoria que ocupam, os traços da existência corporal, quer na linguagem, quer em seus hábitos, entre os quais se descobrem mesmo algumas de suas manias, sem o que seriam Espíritos perfeitos.

Compreendem Deus e o infinito e já gozam da felicidade dos bons. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. O amor que os une é, para eles, fonte de inefável ventura, que não tem a perturbá-la nem a inveja, nem os pesares, nem os remorsos, nem nenhuma das más paixões que atormentam os Espíritos imperfeitos. Todos, porém, ainda têm que passar por provas, até que atinjam a perfeição absoluta.

Como Espíritos, suscitam bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem na vida os que se tornam dignos dessa proteção e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos, sobre aqueles a quem não é grato sofrê-la.

Quando encarnados, são bons e benevolentes para com os seus semelhantes. Não são movidos pelo orgulho, nem pelo egoísmo, nem pela ambição. Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.

A esta ordem pertencem os Espíritos designados, nas crenças vulgares, pelos nomes de bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Em épocas de superstição e de ignorância, foram elevados à categoria de divindades benfazejas.

Pode-se igualmente dividi-los em quatro grupos principais:


Quinta classe. — ESPÍRITOS BENÉVOLOS. — Sua qualidade dominante é a bondade. Apraz-lhes prestar serviço aos homens e protegê-los, mas o seu conhecimento é limitado. Progrediram mais no sentido moral do que no sentido intelectual.


Quarta classe. — ESPÍRITOS DE CIÊNCIA. — Distinguem-se especialmente pela amplitude de seus conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as questões científicas, para as quais têm maior aptidão; mas só encaram a Ciência do ponto de vista de sua utilidade, e jamais dominados por quaisquer paixões próprias dos Espíritos imperfeitos.


Terceira classe.  — ESPÍRITOS DE SABEDORIA. — As qualidades morais da ordem mais elevada constituem o seu caráter distintivo. Sem possuírem ilimitados conhecimentos, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo reto sobre os homens e as coisas.


Segunda classe.  — ESPÍRITOS SUPERIORES. — Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Sua linguagem exala sempre benevolência; é, invariavelmente, digna, elevada e, por vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se de bom grado com os que procuram de boa-fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida dos laços terrenos para compreendê-la. Todavia, afastam-se dos que são unicamente impelidos pela curiosidade ou daqueles que são desviados da prática do bem pela influência da matéria.

Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que a Humanidade pode aspirar neste mundo.


Primeira Ordem.

Espíritos Puros.


Características gerais.Nenhuma influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos Espíritos das outras classes.


Primeira classe. — CLASSE ÚNICA. — Percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo atingido a soma de perfeição de que é susceptível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.

Gozam de inalterável felicidade, pois que não estão sujeitos nem às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Mas essa felicidade não é a de ociosidade monótona, a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos a se aperfeiçoarem e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, incitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os afastam da suprema felicidade constitui, para eles, uma grata ocupação. São designados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.

Podem os homens pôr-se em comunicação com eles, mas bastante presunçoso seria aquele que pretendesse tê-los constantemente às suas ordens.

É erroneamente que certas pessoas os designam por Espíritos incriados. Se fossem Espíritos incriados, sê-lo-iam de toda a eternidade, como Deus. Se, no Universo, pudessem existir seres independentemente da vontade Deus, Deus não teria a onipotência. Alguns Espíritos se serviram desta expressão, mas não neste sentido; estavam se referindo a Espíritos que não mais encarnarão e que, deste ponto de vista, não serão mais criados como homens. O termo é impróprio, pois leva a uma falsa interpretação. Eis o inconveniente de nos apegarmos à letra sem investigar o pensamento. (V. Anjo.)



[1] [Na Escala Espírita publicada na versão definitiva de O Livro dos Espíritos foi incluída a classe dos Espíritos Batedores e Perturbadores no início da 3ª ordem ficando portanto 10 classes e não nove conforme aqui indicado.]


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