O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Céu e o Inferno — 2ª Parte.

EXPIAÇÕES TERRESTRES.
(Idioma francês)

Capítulo VIII.

[Exemplo 3.]

JULIENNE-MARIE, a mendiga.

1. — Na comuna de Villate, perto de Nozai, (Loire-Inferior), havia uma pobre mulher de nome Julienne-Marie, velha, enferma, vivendo da caridade pública. Um dia caiu num poço, do qual foi tirada por um conterrâneo, Sr. A…, que habitualmente a socorria. Transportada para casa, aí desencarnou pouco tempo depois, vítima desse acidente. 2 Era voz geral que Julienne tentara suicidar-se. Logo no dia do seu enterro, a pessoa que lhe acudira, e que era espírita e médium, sentiu como que um leve contato de pessoa que estivesse próxima, sem que procurasse explicar-se a causa desse fenômeno. Ao ter ciência do trespasse de Julienne-Marie, veio-lhe ao pensamento a visita possível do seu Espírito.

3 A conselho dum seu amigo da Sociedade de Paris, a quem tinha informado da ocorrência, fez a evocação com o fito de ser útil ao Espírito, não sem que pedisse previamente o conselho dos seus protetores, que lhe deram a seguinte comunicação:

4 “Poderás faze-lo e com isso lhe darás prazer, conquanto se torne desnecessário o benefício que tens em mente prestar-lhe. 5 Ela é feliz e inteiramente devotada aos que se lhe mostraram compassivos. Tu és um dos seus bons amigos; ela quase que te não deixa e contigo se comunica muitas vezes, sem que o saibas. 6 Cedo ou tarde os serviços são recompensados, e, quando o não sejam pelo próprio beneficiado, sê-lo-ão pelos que por ele se interessam, antes e depois da morte. Se acaso o Espírito do beneficiado não tiver ainda reconhecido a sua nova situação, outros Espíritos, a ele simpáticos, vêm dar o testemunho de sua gratidão. 7 Eis aí o que te pode explicar a sensação que tiveste no dia mesmo da passagem de Julienne-Marie. Agora, será ela a auxiliar-te na prática do bem. 8 Lembra-te do que disse Jesus: “Aquele que se humilhar será exaltado”. Tu verás o serviço que esse Espírito poderá prestar-te, desde que lhe peças assistência com o intuito de ser útil ao próximo.”


2.Evocação: — Boa Julienne, sei que sois feliz e é tudo quanto desejava saber; isso não impede, porém, que de vós me lembre muitas vezes, bem como de não vos esquecer nas minhas preces.

2 R. Tem confiança em Deus, procura inspirar aos teus doentes uma fé sincera, porque assim alcançarás sempre o que desejares. 3 Não te preocupes jamais com a recompensa, porque ela será sempre superior ao que podes esperar. 4 Deus sabe recompensar justamente a quem se dedique ao alívio dos seus irmãos, inspirado por absoluto desinteresse; a não ser assim, tudo é ilusão, é quimera. É preciso ter fé antes de tudo, pois de outro modo nada se conseguirá. Lembra-te desta máxima e ficarás admirado dos seus resultados. 5 Os dois doentes que curaste são a prova do que te afirmo, pois, no estado em que estavam, só com remédios nada terias conseguido.

6 Quando implorares permissão a Deus para que os bons Espíritos te transmitam fluidos benéficos, se não sentires um estremecimento involuntário, é que a tua prece não foi bastante fervorosa para ser ouvida. É só nestas condições que a prece pode tornar-se valiosa. 7 Nem outra coisa resulta de dizer: “Deus Todo-Poderoso, Pai de bondade e misericórdia infinita, permiti que os bons Espíritos me assistam na cura de…; tende piedade dele, Senhor; restitui-lhe a saúde, porque, sem vós, eu nada posso fazer. Seja feita a vossa vontade.”

8 Tens feito bem em não desdenhar os humildes; a voz daquele que sofreu resignadamente as misérias desse mundo é sempre ouvida, e nenhum serviço deixa jamais de ser recompensado.

9 Agora, uma palavra a meu respeito, confirmativa do que acima te disse.

O Espiritismo te explica a minha linguagem de Espírito, sem que aliás me seja preciso entrar em minúcias a tal respeito. 10 Outrossim, julgo inútil falar-te da minha existência anterior. A situação em que me conheceste na Terra far-te-á compreender e julgar as precedentes encarnações, nem sempre isentas de mácula. 11 Condenada a uma existência miserável, enferma, inválida, mendiguei em toda a minha vida. Não acumulei dinheiro, e na velhice as parcas economias não passavam de uma centena de francos, reservados para a hipótese de ficar chumbada no leito, entrevada. 12 Deus, julgando suficiente a expiação e a prova, deu-lhes um termo, libertou-me da vida terrestre sem sofrimentos, porquanto não me suicidei, como a princípio julgaram. 13 Eu morri subitamente à borda do poço, quando a Deus enviara da Terra a minha última prece; depois, pela declividade do terreno, meu corpo resvalou naturalmente.

14 Não sofri ao dar-se o meu trespasse, e sou feliz por ter cumprido a minha missão sem vacilações, resignadamente. 15 Tornei-me útil na medida das minhas forças, evitando sempre prejudicar os meus semelhantes. Hoje recebo o prêmio e dou graças a Deus, ao nosso Divino Mestre, que mitiga o travo das provações, fazendo-nos esquecer, quando encarnados, as faltas do passado, ao mesmo tempo que nos põe sobre o caminho almas caridosas, outros tantos auxiliares que atenuam o peso, o fardo das nossas culpas anteriores.

16 Persevera tu também, que, como eu, serás recompensado. Agradeço-te as boas preces e o serviço que me prestaste. Jamais o esquecerei. 17 Um dia nos tornaremos a ver e muitas coisas te serão explicadas, coisas cuja explicação hoje seria extemporânea. Fica certo somente da minha dedicação, de que estarei ao teu lado sempre que de mim precisares para aliviar os que sofrem.

A mendiga velhinha,   

Julienne-Marie.


3. — Evocado a 10 de junho de 1864, na Sociedade de Paris, o Espírito Julienne ditou a mensagem seguinte.

2 “Caro presidente: obrigada por quererdes admitir-me ao vosso centro. Previstes, sob o ponto de vista social, a superioridade das minhas antecedentes encarnações, pois, se voltei à Terra com a prova da pobreza, foi para punir-me do vão orgulho com o qual repelia os pobres, os miseráveis. 3 Assim, passei pela pena de talião, fazendo-me a mais horrenda mendiga deste país; mas, ainda assim, como que para certificar-me da bondade de Deus, nem por todos fui repelida: e esse era todo o meu temor; 4 também foi sem queixumes que suportei a provação, pressentindo uma vida melhor, da qual não mais tornaria ao mundo do exílio e da calamidade.

5 Que ventura a desse dia em que a nossa alma rejuvenescida pode franquear a vida espiritual para aí rever os seres amados! Sim, porque também amei e considero-me feliz pelo encontro dos que me precederam. 6 Obrigada ao Sr. A…, esse bom amigo que me facultou a expressão do reconhecimento. Sem a sua mediunidade eu não lhe poderia provar, agradecida, que minha alma não se esquece das benéficas influências de um coração bondoso, qual o seu, recomendando-lhe que procure progredir em sua divina crença. 7 Já que ele tem por missão de regenerar as almas transviadas, que fique bem certo do meu auxílio. Sim, eu posso retribuir-lhe pelo cêntuplo o que por mim fez, instruindo-o na senda que percorreis. 8 Agradecei ao Senhor o permitir que os bons Espíritos vos orientem, a fim de animardes o pobre nas suas mágoas, e deterdes o rico em seu orgulho. 9 Capacitai-vos de quanto é vergonhosa a repulsa para com os infelizes, servindo-vos o meu exemplo, a fim de evitardes o retorno à Terra, em expiação de faltas, nas dolorosas posições sociais que vos coloquem tão baixo a ponto de serdes considerado escória da sociedade.”

Julienne-Marie.


4. — Transmitida ao Sr. A… esta comunicação, ele por sua vez obteve a que se segue, o que é aliás uma confirmação:

2 P. Boa Julienne, uma vez que é vosso desejo auxiliar-me com os vossos conselhos, a fim de que me adiante em nossa divina doutrina, vinde comunicar-vos comigo, certa de que me esforçarei por aproveitar-vos os ensinamentos.

3 R. Lembra-te da recomendação que vou fazer e não te afastes dela jamais. Procura sempre ser caridoso na medida de tuas forças; compreendes a caridade tal como deve ser praticada em todos os atos da vida. Não tenho necessidade, por conseguinte, de aconselhar-te uma coisa da qual podes tu mesmo ser o juiz; todavia, dir-te-ei que sigas a voz da consciência, a qual jamais te enganará, desde que a consultes sinceramente.

4 Não te iludas com as missões a cumprir; pequenos e grandes, cada qual tem a sua missão. Penosa foi a minha, porém, eu fazia jus a tal punição, em consequência das precedentes existências, como confessei ao bom presidente da Sociedade-máter, de Paris, que um dia vos há de congregar a todos. 5 Esse dia vem menos longe do que supões, pois o Espiritismo caminha a passos largos, apesar de todos os óbices que se lhe antepõem. Segui, pois, sem temores, fervorosos adeptos; segui, que os vossos esforços serão coroados por outros tantos êxitos. Que vos importa o que de vós possam dizer? Colocai-vos acima da crítica irrisória, a qual recairá sobre os próprios adversários do Espiritismo.

6 Ah! os orgulhosos! Julgam-se fortes pensando poder aniquilar-vos, mas… bons amigos, tranquilizai-vos e não receeis enfrentá-los, porque são menos invencíveis do que porventura possais supor. Dentre eles, há muitos receosos de que a verdade lhes venha deslumbrar os olhos. Esperai, que acabarão por vir auxiliar a coroação da obra.

Julienne-Marie.


7 Aqui está um fato repleto de ensinamentos. Quem se dignar meditar sobre estas três comunicações, nelas encontrará condensados todos os grandes princípios do Espiritismo. 8 Logo na primeira comunicação, o Espírito manifesta a sua superioridade pela linguagem; qual gênio benfazejo e como que metamorfoseada, esta mulher radiante vem proteger aqueles mesmos que a desprezaram sob os andrajos da miséria. 9 É a aplicação destas máximas evangélicas: “Os grandes serão rebaixados e os pequenos serão exaltados: felizes os humildes, felizes os aflitos, porque serão consolados, não desprezeis os pequenos, porque aquele que vos parece pequeno neste mundo, pode ser bem maior do que julgais.”


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