O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Céu e o Inferno — 2ª Parte.

ESPÍRITOS ENDURECIDOS.
(Idioma francês)

Capítulo VII.

[Exemplo 3.]

UM ESPÍRITO ABORRECIDO.

(Bordeaux, 1862.)

Este Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium, reclamando preces.


1. Que vos leva a pedir preces? — R. Estou farto de vagar sem objetivo. 2 — Estais há muito em tal situação? — R. Faz cento e oitenta anos mais ou menos. 3 — Que fizestes na Terra? — R. Nada de bom.


2. Qual a vossa posição entre os Espíritos? — R. Estou entre os entediados. 2 — Mas isso não forma categoria… — R. Entre nós, tudo forma categoria. Cada sensação encontra suas semelhantes, ou suas simpatias que se reúnem.


3. Por que permanecestes tanto tempo estacionário, sem que fosseis condenado a sofrer? — R. É que eu estava votado ao tédio, que entre nós é um sofrimento. Tudo o que não é alegria, é dor. 2 — Fostes, pois, forçado à erraticidade contra a vontade? — R. São coisas sutilíssimas para vossa inteligência material. 3 — Procurando explicar-me essas coisas, talvez comeceis a beneficiar-vos a vós mesmos. — R. Faltando-me termos de comparação, não poderei faze-lo. 4 Uma vida sem proveito, extinguindo-se, lega ao Espírito, que a encarnou, o mesmo que ao papel pode legar o fogo quando o consome fagulhas, que lembram às cinzas ainda compactas a sua proveniência, a causa do seu nascimento, ou, se o quiseres, da destruição do papel. 5 Essas fagulhas são a lembrança dos laços terrestres que vinculam o Espírito, até que este disperse as cinzas do seu corpo. Então, e só então, tem ele, eterizada essência, o conhecimento de si mesmo, desejando o progresso.


4. Qual poderia ter sido a causa desse aborrecimento de que vos acusais? — R. Consequências da existência. 2 O tédio é filho da inação; por não ter eu sabido utilizar o longo tempo de encarnação, as consequências vieram refletir-se neste mundo.


5. Os Espíritos que, como vós, foram tomados de tédio, não podem libertar-se de tal contingência desde que o desejem? — R. Não, nem sempre, porque o tédio lhes paralisa a vontade. 2 Sofrem as consequências da vida que levaram, e, como foram inúteis, desprovidos de iniciativa, assim também não encontram entre si concurso algum. 3 Entregues a si mesmos, nesse estado permanecem, até que o cansaço, decorrente de tal neutralidade, os agite em sentido contrário, momento no qual a sua menor vontade vai encontrar apoio e bons conselhos e secundar-lhes o esforço e a perseverança.


6. Podeis dizer-me algo da vossa existência terrena? — R. Oh! Deveis compreender que pouco me é dado dizer. 2 O tédio, a nulidade e a inação provêm da preguiça, que, por sua vez, é mãe da ignorância.


7. E não vos aproveitaram as existências anteriores? — R. Sim, todas, porém, parcamente, visto serem reflexos umas das outras. 2 O progresso existe sempre, porém tão insensível que se nos torna inapreciável.


8. Enquanto esperais uma nova encarnação, apraz-vos repetir as vossas comunicações? — R. Evocai-me para me obrigardes a vir, pois com isso me prestareis um benefício.


9. Podeis dizer-nos por que tão frequentemente varia a vossa caligrafia? — R. Porque interrogais muito, o que aliás me fatiga, quando tenho necessidade de auxílio.


2.O guia do médium. O trabalho intelectual é que o fatiga, obrigando-nos a prestar o nosso concurso para que possa dar resposta às tuas perguntas. 2 Este é um ocioso no mundo espiritual, assim como o foi no planeta. 3 Trouxemo-lo a ti para que tentasses arrancá-lo dessa apatia, desse tédio que constitui verdadeiro sofrimento, às vezes mais doloroso que os sofrimentos agudos, por se poder prolongar indefinidamente. Imagina a perspectiva de um tédio sem-fim. 4 A maior parte das vezes são os Espíritos dessa categoria que buscam as vidas terrestres apenas como passatempo e para interromper a monotonia da vida espiritual; assim acontece aí chegarem frequentemente sem resoluções definidas para o bem, obrigados a recomeçarem sucessivamente, até atingirem a compreensão do verdadeiro progresso.


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