Roteiro 2
Conhecimento de si mesmo
Objetivo Geral: Favorecer o entendimento da perfeição moral e de como alcançá-la.
Objetivo Específico: Fazer uma reflexão acerca da necessidade do conhecimento de si mesmo.
CONTEÚDO BÁSICO
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Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 919.
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Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 919a (mensagem de Santo Agostinho).
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Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 919 - comentário.
SUGESTÕES DIDÁTICAS
Introdução:
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Iniciar a aula solicitando aos participantes que, em duplas, discutam a seguinte afirmação de Léon Denis: A vontade é a maior de todas as potências; é, em sua ação, comparável ao ímã. (O Problema do Ser do Destino e da Dor, p. 313)
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Ouvir os comentários e esclarecer as possíveis dúvidas, destacando o papel da vontade no progresso do Espírito. (O Livro dos Espíritos, questão 121)
Desenvolvimento:
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Em seguida, dividir a turma em pequenos grupos, para a realização das seguintes tarefas:
1. Ler os subsídios do roteiro;
2. Responder à seguinte pergunta: Por que é necessário o conhecimento de si mesmo para alcançar a perfeição moral?
3. Elaborar um roteiro prático para atingi-la;
4. Afixar esse roteiro no mural da sala de aula;
5. Indicar um colega para apresentar as conclusões em plenária.
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Pedir aos representantes dos grupos que apresentem as conclusões do trabalho.
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Ouvir os relatos, prestando os esclarecimentos necessários.
Conclusão:
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Encerrar a reunião, projetando a seguinte frase, constante dos Subsídios do roteiro: O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. (O Livro dos Espíritos, questão 919)
Avaliação:
Técnica(s):
Recurso(s):
SUBSÍDIOS
Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo. (3)
À vista da dificuldade de cada um conhecer-se si mesmo, o Codificador indaga a respeito do meio de consegui-lo, obtendo a seguinte resposta, assinada pelo Espírito Santo Agostinho:
Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda [Espírito protetor] que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: Se aprouvesse a Deus chamar me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado. O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na poderia ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.
Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos. (4)
Comentando a resposta dada por Santo Agostinho, Kardec assinala: Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um, sim ou não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós. (5)
Assim, consoante deflui desses ensinamentos, é o conhecimento de si mesmo o primeiro passo para que o Espírito possa atingir a perfeição moral. O processo de renovação para o bem é longo, pois que depende do esforço de vontade de cada um no sentido da sua autoeducação, mais inevitável, de acordo com a lei do Progresso, a que todos os seres estão submetidos.
Com efeito, sendo a Alma, ou Espírito, criação divina, suas diversas reencarnações […] têm por objetivo a manifestação cada vez mais grandiosa do que nela há de divino, o aumento do domínio que está destinado a exercer dentro e fora de si, por meio de seus sentidos e energias latentes.
Pode alcançar se esse resultado por processos diferentes, pela Ciência ou pela meditação, pelo trabalho ou pelo exercício moral. O melhor processo consiste em utilizar todos esses modos de aplicação, em completá-los uns pelos outros; o mais eficaz, porém, de todos, é o exame íntimo, a introspecção. Acrescentemos o desapego das coisas materiais, a firme vontade de melhorar a nossa união com Deus em espírito e verdade, e veremos que toda religião verdadeira, toda filosofia profunda aí vai buscar sua origem e nessas fórmulas se resume. O resto, doutrinas culturais, ritos e práticas não são mais do que o vestuário externo que encobre, aos olhos das turbas, a alma das religiões.
Victor Hugo escrevia no “Post scriptum de ma vie [minha vida]”: É dentro de nós que devemos olhar o exterior… Inclinando-nos sobre este poço, o nosso espírito, avistamos, a uma distância de abismo, em estreito círculo, o mundo imenso. (8)
Para que possamos, entretanto, realizar esse encontro com nós mesmos, com vistas à perfeição, é necessário, em especial, aprender a disciplinar o pensamento.
O pensamento é […] criador. Não atua somente em roda de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o mal; atua principalmente em nós; gera nossas palavras, nossas ações e, com ele, construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura. Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos pensamentos; estes produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil, de que o corpo fluídico [perispírito] é composto. Assim, pouco a pouco, nosso ser povoa-se de formas frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras ou sublimes: a alma se enobrece, embeleza ou cria uma atmosfera de fealdade. Segundo o ideal a que visa, a chama interior aviva-se ou obscurece-se. (9)
Se meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no sacrifício, nosso ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades de nosso pensamento. É por isso que a prece improvisada, ardente, o impulso da alma para as potências infinitas, tem tanta virtude. Nesse diálogo solene do ser com sua causa, o influxo do Alto invade-nos e desperta sentidos novos. (10)
Por outro lado, o […] estudo silencioso e recolhido é sempre fecundo para o desenvolvimento do pensamento. É no silêncio que se elaboram as obras fortes. A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes em conversas estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece e a alma esvazia-se. Ao passo que na meditação o Espírito se concentra, volta-se para o lado grave e solene das coisas; a luz do mundo espiritual banha-o com suas ondas. (11)
Assim, não […] há progresso possível sem observação atenta de nós mesmos. É necessário vigiar todos os nossos atos impulsivos para chegarmos a saber em que sentido devemos dirigir nossos esforços para nos aperfeiçoarmos. (12) Cabe-nos exercitar a disciplina do pensamento. Querer é poder! O poder da vontade é ilimitado. O homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços. Sabe que tudo o que de bem e bom desejar há de, mais cedo ou mais tarde, realizar se inevitavelmente, ou na atualidade ou na série das suas existências, quando seu pensamento se puser de acordo com a Lei Divina. E é nisso que se verifica a palavra celeste: A Fé transporta montanhas. (7)
Daí os Espíritos Instrutores da Codificação Espírita terem assinalado que o homem poderia, pelo esforço da sua vontade, vencer as suas más inclinações, (1) acrescentando que há […] pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como querem. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria. (2)
A felicidade não está nas coisas externas nem nos acasos do exterior, mas somente em nós mesmos, na vida interna que soubermos criar. Que importa que o céu esteja escuro por cima de nossas cabeças e os homens sejam ruins em volta de nós, se tivermos a luz na fronte, alegria do bem e a liberdade moral no coração? Se, porém, eu tiver vergonha de mim mesmo, se o mal tiver invadido meu pensamento, se o crime e a traição habitarem em mim, todos os favores e todas as felicidades da Terra não me restituirão a paz silenciosa e a alegria da consciência. (13)
É preciso, portanto, como diz Santo Agostinho, passar revista às nossas ações, a fim de identificar os males que precisem ser curados, uma vez que o conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual.
Em síntese, pode dizer-se que, primeiramente, a criatura humana deve buscar conhecer-se a si mesma […] para saber como orientara sua autoeducação. A este conhecimento deve seguir se ou ser adquirido simultaneamente, o do destino que a espera, para que, servindo-lhe de alvo, ela saiba para onde e como dirigir sua ação. Cumpre-lhe, ao mesmo tempo, conhecer as qualidades que deve procurar desenvolverem si e os hábitos viciosos e os obstáculos que a poderiam embaraçar no desempenho da sua tarefa, hábitos e vícios que lhe importa destruir sem contemplações. Com o conhecimento relativo de si mesmo, indispensável a cada momento de sua evolução, fim a que toda a sua ação deve tender com os recursos morais e as experiências próprias e alheias, que lhe facilitam a atuação no plano em que se move, pode muito bem o indivíduo orientar sua autoeducação. (6) Acima de tudo, porém, busquemos o amor, essência de tudo que há de divino em nós, farol orientador dos nossos esforços de autoeducação: A todas as interrogações do homem, a suas hesitações, a seus temores, a suas blasfêmias, uma voz grande, poderosa e misteriosa responde: Aprende a amar! O amor é o resumo de tudo, o fim de tudo. Dessa maneira, estende-se e desdobra-se sem cessar sobre o Universo a imensa rede de amor tecida de luz e ouro. Amar é o segredo da felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, dissipa todas as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, mais refratários. (14)
ANEXO
(Dario Persiano de Castro Veloso)
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Questão 909, p. 418.
2. Idem - Questão 911, p. 418.
3. Id. - Questão 919, p. 423.
4. Id. - Questão 919a, p. 423-425.
5. Idem, ibidem - p. 425-426.
6. AGUAROD, Angel. Grandes e Pequenos Problemas. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo 10, item I (Auto-educação), p. 218-219.
7. DENIS, Léon. O Problema do Ser do Destino e da Dor. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 20 (A vontade), p. 318-319.
8. Idem - Capítulo XXI (A consciência. O sentido íntimo), p. 321.
9. Id. - Capítulo XXIV (A disciplina do pensamento e a do caráter), p. 355.
10. Idem, ibidem - p. 356.
11. Idem, ibidem - p. 358.
12. Idem, ibidem - p. 360.
13. Idem, ibidem - p. 363.
14. Id. - Capítulo XXV (O amor), p. 369.