Roteiro 2
O processo obsessivo: o obsessor e o obsidiado
Objetivo Geral: Possibilitar entendimento da obsessão e da desobsessão sob a ótica espírita.
Objetivos específicos: Identificar quem é o obsessor e quem é o obsidiado. — Explicar como ocorre o processo obsessivo.
CONTEÚDO BÁSICO
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Quando um Espírito, bom ou mau, quer atuar sobre um indivíduo, envolve-o, por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto. Interpenetrando-se os fluidos, os pensamentos e as vontades dos dois se confundem e o Espírito, então, se serve do corpo do indivíduo, como se fosse seu, fazendo-o agir à sua vontade, falar, escrever, desenhar, quais os médiuns. […] Fá-lo pensar, falar, agirem seu lugar, impele-o, a seu mau grado, a atos extravagantes ou ridículos; magnetiza-o, em suma, lança-o num estado de catalepsia moral e o indivíduo se torna um instrumento da sua vontade. Tal a origem da obsessão, da fascinação e da subjugação […]. Allan Kardec. Obras Póstumas. Primeira parte (Manifestações dos Espíritos), parágrafo 7º, item 56.
SUGESTÕES DIDÁTICAS
Introdução:
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Apresentar, no início da reunião, os objetivos do roteiro, realizando breves comentários.
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Pedir aos participantes que, individual e silenciosamente, leiam os Subsídios deste roteiro, assinalando as principais ideias.
Desenvolvimento:
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Enquanto os participantes realizam a leitura, colocar em cima de uma mesa tiras de papel contendo frases copiadas dos Subsídios, numerando-as de acordo com a ordem de surgimento no texto.
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Concluída esta etapa, pedir que cada participante pegue uma das tiras de papel, leia e comente a frase ali existente. O exercício prossegue assim até que todas as frases tenham sido lidas e comentadas.
Conclusão:
Avaliação:
Técnica(s):
Recurso(s):
SUBSÍDIOS
Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em consequência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou expiação e aceita com esse caráter. (3) É importante considerar, entretanto, que […] a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. (4)
1. O obsessor
Obsessor — Do latim obsessore. Aquele que causa a obsessão; que importuna. O obsessor é uma pessoa como nós. […] Não é um ser diferente, que só vive de crueldades, nem um condenado sem remissão pela Justiça Divina. Não é um ser estranho a nós. Pelo contrário. É alguém que privou de nossa convivência, de nossa intimidade, por vezes com estreitos laços afetivos. É alguém, talvez, a quem amamos, outrora. […] O obsessor é o irmão, a quem os sofrimentos e desenganos desequilibraram, certamente com a nossa participação. (10) Os maus Espíritos são aqueles que ainda não foram tocados de arrependimento; que se deleitam no mal e nenhum pesar por isso sentem; que são insensíveis às reprimendas, repelem a prece e muitas vezes blasfemam do nome de Deus. São essas almas endurecidas que, após a morte, se vingam nos homens dos sofrimentos que suportam, e perseguem com o seu ódio aqueles a quem odiaram durante a vida, quer obsidiando-os, quer exercendo sobre eles qualquer influência funesta. (2) A figura do obsessor realmente impressiona, pelos prejuízos que a sua aproximação e sintonia podem ocasionar. E disto ele tira partido para mais facilmente assustar e coagir a sua vítima. (11) Os Espíritos sedutores se esforçam por nos afastar das veredas do bem, sugerindo-nos maus pensamentos. Aproveitam-se de todas as nossas fraquezas, como de outras tantas portas abertas, que lhes facultam acesso à nossa alma. Alguns há que se nos aferram, como a uma presa, mas que se afastam, em se reconhecendo impotentes para lutar contra a nossa vontade. (1)
Contudo, devemos lembrar que os obsessores, não são Espíritos totalmente desprovidos de bons sentimentos, irremediavelmente maus. São, antes de tudo, Espíritos carentes de compreensão, de carinho e amor. São na realidade seres solitários, doentes da alma. […] O obsessor é, em última análise, um irmão enfermo e infeliz. Dominado pela ideia fixa (monodeísmo) de vingar se, esquece-se de tudo o mais e passa a viver em função daquele que é o alvo de seus planos. (12)
2. O obsidiado
A Doutrina Espírita nos informa que antes de tudo o obsidiado é vítima de si mesmo; sendo descrito no dicionário como: importunado, atormentado, perseguido. Segundo Joanna de Ângelis, Prisão interior, […] “Cela pessoal”, onde grande maioria se mantém sem lutar por sua libertação, acomodada aos vícios, cristalizada nos erros. […] Obsidiados! Cada um deles traz consigo um infinito de problemas que não sabe precisar. […] O obsidiado é o algoz de ontem e que agora se apresenta como vítima. Ou então é o comparsa de crimes, que o cúmplice das sombras não quer perder, tudo fazendo por cerceá-lo em sua trajetória. As provações que o afligem representam oportunidade de reajuste, alertando-o para a necessidade de se moralizar, porquanto, sentindo-se açulado pelo verdugo espiritual, mais depressa se conscientizará da grandiosa tarefa a ser realizada: transformar o ódio em amor, a vingança em perdão, e humilhar se, para também ser perdoado. (9)
O Evangelho nos traz inúmeros exemplos de obsidiados, como os seguintes, citados por Emmanuel.
Relata Mateus que os obsidiados gerasenos ( † ) chegavam a ser ferozes; refere-se Marcos ao obsidiado de Cafarnaum, de quem desventurado obsessor se retira clamando contra o Senhor em grandes vozes; ( † ) narra Lucas o episódio em que Jesus realizara a cura de um jovem lunático, do qual se afasta o perseguidor invisível, logo após arrojar o doente ao chão, em convulsões epileptóides; ( † ) e reporta-se João a israelitas positivamente obsidiados, que apedrejam o Cristo, sem motivo, na chamada Festa da Dedicação. ( † )
Entre os que lhe comungam a estrada, surgem obsessões e psicoses diversas. Maria de Magdala, que se faria a mensageira da ressurreição, fora vítima de entidades perversas. Pedro sofria de obsessão periódica. Judas era enceguecido em obsessão fulminante. Caifás mostrava-se paranoico. Pilatos tinha crises de medo.
No dia da crucificação, vemos o Senhor rodeado por obsessões de todos os tipos, a ponto de ser considerado, pela multidão, inferior a Barrabás, malfeitor e obsesso vulgar.
E, por último, como se quisesse deliberadamente legar nos preciosa lição de caridade para com os alienados mentais, declarados ou não, que enxameiam no mundo, o Divino Amigo prefere partir da Terra na intimidade de dois ladrões, que a Ciência de hoje classificaria por cleptomaníacos pertinazes. (14)
3. O processo obsessivo
O processo obsessivo se caracteriza pela ação do obsessor sobre o obsidiado, que aproveita a menor oportunidade para atingir a pessoa visada. A interferência se dá por processo análogo ao que acontece no rádio, quando uma emissora clandestina passa a utilizar determinada frequência operada por outra, prejudicando-lhe a transmissão. Essa interferência estará tanto mais, assegurada quanto mais forte, potente e constante ela se apresentar, até abafar quase por completo os sons emitidos pela emissora burlada. (7)
O perseguidor age persistentemente para que se efetue a ligação, a sintonia mental, enviando os seus pensamentos, numa repetição constante, hipnótica, à mente da vítima, que, incauta, invigilante, assimila-os e reflete-os, deixando-se dominar pelas ideias intrusas. (8)
Allan Kardec esclarece que no processo obsessivo há, também, uma ação fluídica por parte do obsessor que […] atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como teia e constrangido a proceder contra a sua vontade. (5) Esta ligação fluídica entre obsessor e obsidiado permite que […] os pensamentos e as vontades dos dois se confundem e o Espírito, então, se serve do corpo do indivíduo, como se fosse seu, fazendo-o agir à sua vontade. […] Fá-lo pensar, falar, agir em seu lugar, impele-o, a seu mau grado, a atos extravagantes ou ridículos; magnetiza-o, em suma, lança-o num estado de catalepsia moral e o indivíduo se torna um instrumento da sua vontade. Tal a origem da obsessão, da fascinação e da subjugação que se produzem em graus muito diversos de integridade. (6)
Apresentamos, a seguir, como ilustração de processo obsessivo, o relato do Espírito André Luiz constante do livro Ação e Reação.
Luís, cujo Espírito se afinava com os antigos sentimentos paternos, apegando-se aos lucros materiais exagerados — informou-nos a interlocutora — , sofria tremenda obsessão no próprio lar. Sob teimosa vigilância dos tios desencarnados, que lhe acalentavam a mesquinhez, detinha larga fortuna, sem aplicá-la em coisa alguma. Enamorara-se do ouro com extremada volúpia. Submetia a esposa e dois filhinhos, às mais duras necessidades, receoso de perder os haveres que tudo fazia por defender e multiplicar. Clarindo e Leonel, não satisfeitos com lhe seviciarem a mente, conduziam para a fazenda usurários e tiranos rurais desencarnados, cujos pensamentos ainda se enrodilhavam na riqueza terrestre, para lhe agravarem a sovinice. Luís, desse modo, respirava num mundo de imagens estranhas, em que o dinheiro se erigia em tema constante. Perdera, por isso, o contacto com a dignidade social. Tornara-se inimigo da educação e acreditava tão somente no poder do cofre recheado para solucionar as dificuldades da vida. Adquirira o doentio temor de todas as situações em que pudessem surgir despesas inesperadas. Possuía grandes somas em estabelecimentos bancários que a própria companheira desconhecia, tanto quanto mantinha em custódia no lar enormes bens. Fugia deliberadamente à convivência afetiva, relaxara a própria apresentação individual e encravara-se em deplorável misantropia, obcecado pelo pesadelo do ouro que lhe consumia a existência.
Em seguida, a distinta senhora, buscando orientar as nossas futuras atividades, participou-nos que o afogamento dos cunhados se verificara em seus tempos de recém-casada, quando o filhinho mal ensaiava os primeiros passos, e que, após seis anos sobre a dolorosa ocorrência, encontrara, ela também, a desencarnação no lago terrível. Antônio Olímpio lhe sobrevivera, na esfera carnal, quase três lustros e, por vinte anos, precisamente, padecia nas trevas. Luís, dessa forma, alcançava a madureza plena, tendo atravessado os quarenta anos de experiência física.
Ante a palavra do Assistente, que indagou quanto aos seus tentames de socorro ao marido desencarnado, Alzira declarou que isso lhe fora realmente impossível, porque as vítimas se haviam transformado em carcereiros ferozes do infeliz delinquente, e como, até então, não conseguira escudar se em qualquer equipe de trabalho assistencial, não lhe permitiam os verdugos qualquer aproximação. Ainda assim, em ocasiões fortuitas, dispensava ao filho, à nora e aos dois netos algum amparo, o que se lhe fazia extremamente difícil, de vez que os obsessores velavam, irredutíveis, guerreando-lhe as influências. (13)
ANEXO
(Maria Dolores)
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo XXVIII, item 11, p. 416.
2. Idem - Item 75, p. 446.
3. Idem - A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 47.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo XIV, item 45, p.304.
4. Id. - Item 46, p. 305.
5. Id. - Item 47, p. 306.
6. Idem - Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Primeira parte (Manifestações dos Espíritos), parágrafo 7º, item 56, p. 68.
7. SCHUBERT, Suely Caldas. Obsessão e Desobsessão. Primeira parte. Capítulo 9 (O Processo Obsessivo), p. 50.
8. Idem, ibidem - p. 51.
9. Idem - Capítulo 11, p. 62.
10. Idem - Capítulo13, p. 67-68.
11. Idem, ibidem - p. 68.
12. Idem, ibidem - p. 69.
13. XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 8 (Preparativos para o retorno), p. 122-123.
14. Idem - Seara dos Médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Item: Obsessão e Jesus, p. 60-61.