Roteiro 6
Identidade dos Espíritos comunicantes
Objetivo específico: Analisar características da identidade dos Espíritos que se manifestam numa reunião mediúnica.
SUBSÍDIOS
Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa […] João (João, 1.10)
1. INTRODUÇÃO
A identidade de um Espírito comunicante não é tarefa fácil, sendo que, às vezes, se revela totalmente improdutiva. Entretanto, como a relação entre os desencarnados e os encarnados é permanente, ocorrendo de forma oculta ou ostensiva, é útil saber, pelo menos, se a sugestão mental que chega ao foro íntimo procede de um Espírito bom. Neste sentido, é importante repetir o conteúdo da questão 464 de O Livro dos Espíritos: «Como distinguirmos se um pensamento sugerido procede de um bom Espírito ou de um Espírito mau?» (1) A resposta objetiva, porém bastante elucidativa, é: «Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir.» (1)
A questão da identidade dos Espíritos é complexa, exigindo bom senso e sólido conhecimento espírita, senão de outras áreas do saber humano, sobretudo no que diz respeito à manifestação de Espíritos que se identificam com o nome de personalidades importantes que viveram em épocas passadas. Todo cuidado é pouco em relação a este assunto.
Uma vez que no meio dos Espíritos se encontram todos os caprichos da humanidade, não podem deixar de existir entre eles os ardilosos e os mentirosos; alguns não têm o menor escrúpulo de se apresentar sob os mais respeitáveis nomes, com o fim de inspirarem mais confiança. Devemos, pois, abster-nos de crer de um modo absoluto na autenticidade de todas as assinaturas de Espíritos. (11)
O Codificador esclarece que muito «[…] mais fácil de se comprovar é a identidade, quando se trata de Espíritos contemporâneos, cujos caracteres e hábitos se conhecem, porque, precisamente, esses hábitos, de que eles ainda não tiveram tempo de despojar-se, são que os fazem reconhecíveis e desde logo dizemos que isso constitui um dos sinais mais seguros de identidade.» (7)
É por este motivo que Emmanuel, referindo-se à citação da segunda epístola de João, nos pede examinarmos todas as manifestações dos Espíritos, porque, esclarece, “a prudência aconselha vigilância.” (14) Elucida também:
Se o mensageiro não traz as características de Jesus, convém negar-lhe guarida, de caráter absoluto, na casa íntima, proporcionando-lhe, porém, algo das preciosas bênçãos que conseguimos recolher, em nosso benefício, no setor das utilidades essenciais. […] O problema não é o de nos informarmos se alguém está falando em nome do Senhor; antes de tudo, importa saber se o portador possui algo do Cristo para dar. (15)
2. CARACTERÍSTICAS DA IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS COMUNICANTES
Allan Kardec percebeu, desde o início da codificação espírita, que a «[…] identidade é uma das grandes dificuldades do Espiritismo prático, sendo muitas vezes impossível verificá-la, sobretudo quando se trata de Espíritos superiores, antigos relativamente à nossa época.» (12) Analisa também que «o Espírito revela sua identidade por grande número de circunstâncias, patenteadas nas comunicações, nas quais se refletem seus hábitos, caráter, linguagem e até locuções familiares.» (13)
Sendo assim, é de fundamental importância que o espírita em geral e o estudioso da mediunidade em particular, adquiram o conhecimento necessário relativo a este assunto: identidade dos Espíritos comunicantes. Muitas vezes, rejeitamos ou aceitamos uma comunicação mediúnica sem maiores cuidados, agindo de forma precipitada. É preciso cautela, bom senso, maturidade emocional, espírito de fraternidade e, sobretudo, abalizado conhecimento, espírita e não espírita, no que diz respeito à identidade dos Espíritos.
Em se tratando da identidade dos Espíritos superiores, Kardec faz as seguintes ponderações:
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«À medida que os Espíritos se purificam e elevam na hierarquia, os caracteres distintivos de suas personalidades se apagam, de certo modo, na uniformidade da perfeição; nem por isso, entretanto, conservam eles menos suas individualidades. […] Nessa culminância, o nome que tiveram na Terra, em uma das mil existências corporais efêmeras por que passaram, é coisa absolutamente insignificante.» (3)
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«Notemos mais que os Espíritos são atraídos uns para os outros pela semelhança de suas qualidades e formam assim grupos, ou famílias, por simpatias. […] Porém, como de nomes precisamos para fixarmos as nossas idéias, podem eles tomar o de uma personagem conhecida, cuja natureza mais identificada seja com a deles.» (3)
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«É assim que os nossos anjos guardiães se fazem as mais das vezes conhecer pelo nome […] daquele que nos inspire mais simpatia.» (3)
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«Segue-se ainda que, seja qual for o nome sob que alguém invoque o seu anjo guardião, este acudirá ao apelo que lhe é dirigido, porque o que o atrai é o pensamento, sendo-lhe indiferente o nome.» (4)
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«O mesmo ocorre todas as vezes que um Espírito superior se comunica espontaneamente, sob o nome de uma personagem conhecida. Nada prova que seja exatamente o Espírito dessa personagem; porém, se ele nada diz que desminta o caráter desta última, há presunção de ser o próprio e, em todos os casos, se pode dizer que, se não é ele, é um Espírito do mesmo grau de elevação, ou talvez até um enviado seu.» (4)
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«O caso muda de figura, quando um Espírito de ordem inferior se adorna com um nome respeitável, para que suas palavras mereçam crédito e este caso é de tal modo frequente que toda precaução não será demasiada contra semelhantes substituições.» (4)
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«Graças a esses nomes de empréstimo e, sobretudo, com o auxílio da fascinação, é que alguns espíritos sistemáticos, mais orgulhosos do que sábios procuram tornar aceitas as mais ridículas ideias.» (4)
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«A questão da identidade é, pois, […] quase indiferente, quando se trata de instruções gerais, uma vez que os melhores Espíritos podem substituir-se mutuamente, sem maiores consequências.» (4)
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«Os Espíritos superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, cujas individualidades nos são, com exceções raras, desconhecidas. Não é a pessoa deles o que nos interessa, mas o ensino que nos proporcionam. Ora, desde que esse ensino é bom, pouco importa que aquele que o deu se chame Pedro, ou Paulo.» (4)
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O Espírito superior deve «[…] ser julgado pela sua qualidade e não pelas suas insígnias. Se um vinho é mau, não será a etiqueta que o tornará melhor.» (5)
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«Outro tanto já não sucede com as comunicações íntimas [de Espíritos amigos], porque aí é o indivíduo, a sua pessoa mesma que nos interessa; muito razoável, portanto, é que, nessas circunstâncias, procuremos certificar-nos de que o Espírito que atende ao nosso chamado é realmente aquele que desejamos.» (6)
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Quando se manifesta o Espírito de alguém que conhecemos pessoalmente, de um parente ou de um amigo, por exemplo, mormente se há pouco tempo que morreu, sucede geralmente que sua linguagem se revela de perfeito acordo com o caráter que tinha aos nossos olhos, quando vivo. Já isso constitui indício de identidade. (2)
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Não « […] há lugar para dúvidas, desde que o Espírito fala de coisas particulares, lembra acontecimentos de família, sabidos unicamente do seu interlocutor. Um filho não se enganará, decerto, com a linguagem do seu pai ou de sua mãe, nem pais haverá que se equivoquem quanto à de um filho.» (2)
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Nos caso da psicografia, igualmente «[…] se pode incluir entre as provas de identidade a semelhança da caligrafia e da assinatura; mas, além de que nem a todos os médiuns é dado obter esse resultado, ele não representa, invariavelmente, uma garantia bastante. Há falsários no mundo dos Espíritos, como os há neste.» (8)
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Importa considerar que há mistificadores que conseguem imitar não apenas a assinatura, mas também a linguagem. «Sim, certas partes da forma material da linguagem podem ser imitadas, mas não o pensamento. Jamais a ignorância imitará o verdadeiro saber e jamais o vício imitará a verdadeira virtude.» (9)
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Os participantes da reunião mediúnica, sobretudo o médium e doutrinador, «[…] precisam de toda a perspicácia e de toda ponderação, para destrinçar a verdade da impostura.» (10)
Nem todas as características da identidade dos Espíritos comunicantes foram analisadas aqui, no reduzido espaço deste Roteiro. Destacamos apenas algumas, consideradas imprescindíveis a uma prática mediúnica correta e segura, segundo os postulados espíritas. Em anexo, inserimos duas comunicações espíritas, uma falsa ou apócrifa, outra verdadeira, ambas retiradas de O Livro dos Médiuns e assinadas pelo nome de um mesmo Espírito. Tais mensagens servem para ilustrar o conteúdo estudado e poderão ser utilizadas num trabalho em grupo.
ANEXO : IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS COMUNICANTES
1. MENSAGEM AUTÊNTICA DO ESPÍRITO VICENTE DE PAULO
A união faz a força. Sede unidos para serdes fortes.
O Espiritismo germinou, deitou raízes profundas. Vai estender por sobre a terra sua ramagem benfazeja. É preciso vos torneis invulneráveis aos dardos envenenados da calúnia e da negra falange dos Espíritos ignorantes, egoístas e hipócritas Para chegardes a isso, mister se faz que uma indulgência e uma tolerância recíprocas presidam as vossas relações; que os vossos defeitos passem despercebidos, que somente as vossas qualidades sejam notórias, que o facho da amizade santa vos funda, ilumine e aqueça os corações. Assim resistireis aos ataques impotentes do mal, como o rochedo inabalável a vaga furiosa. São Vicente de Paulo (O Livro dos Médiuns)
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2. MENSAGEM FALSA OU APÓCRIFA, ATRIBUÍDA A VICENTE DE PAULO
Não, não se pode mudar de religião, quando não se tem urna que possa, ao mesmo tempo, satisfazer ao senso comum e à inteligência que se tem e que possa, sobretudo, dar ao homem consolações presentes. Não, não se muda de religião, cai-se da inépcia e da dominação na sabedoria e na liberdade. Ide, ide, pequeno exército nosso! Ide e não temais as balas inimigas; as que vos hão de matar ainda não foram feitas, se estiverdes sempre, do fundo do coração, na senda do Senhor, isto é, se quiserdes sempre combater pacificamente e vitoriosamente pelo bem-estar e pela liberdade. “Vicente de Paulo”.
Nota [de Allan Kardec]: “Quem reconheceria São Vicente de Paulo por esta linguagem, por estes pensamentos desalinhavados e baldos de senso? Que significam estas palavras: Não, não se muda de religião, cai-se da inépcia e da dominação na sabedoria e na liberdade?” (O Livro dos Médiuns)
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Destacamos também o conteúdo do segundo parágrafo: parece mais a forma de um militar se expressar do que do Espírito que passou à posteridade como um grande benfeitor da humanidade, sobretudo dos pobres.
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 88. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Questão 464. p. 279.
2. Idem - Introdução 12, p. 46.
3. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 79. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte. Capítulo 24, item 256, p. 337.
4. Idem, ibidem - p. 338.
5. Idem, ibidem - p. 338-339.
6. Idem, ibidem - p. 339.
7. Idem, ibidem - Item 257, p. 339.
8. Idem, ibidem - Item 260, p. 341.
9. Idem, ibidem - Item 261, p. 341-342.
10. Idem, ibidem - p. 342.
11. Idem - O que é o Espiritismo. 54. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 2, item 93. identidade dos Espíritos, p. 203.
12. Idem, ibidem - Item 94, p. 203.
13. Idem, ibidem - Item 96, p. 204.
14. XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 83 (Examinai), p. 189.
15. Idem, ibidem - p. 190.