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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Programa II — Filosofia e Ciência Espíritas


Roteiro 25


Metodologia de Análise dos Fatos Espíritas

Objetivo:

» Analisar os critérios que definiram a metodologia kardequiana de investigação dos fatos espíritas.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Allan Kardec analisou racionalmente os fatos espíritas, transmitidos por mais de mil médiuns, residentes na França e no exterior, seguindo a metodologia utilizada pelas ciências experimentais. Contudo, não desprezou a própria intuição e, muitas vezes, realizou profundas reflexões antes de opinar a respeito de um assunto transmitido pelos Espíritos orientadores. Tais condições o fizeram concluir: O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra não mais como coisa sobrenatural, mas, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 1, item 5.

  • Diante das evidências dos fatos espíritas, compreendeu que: Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Allan Kardec: A gênese. Capítulo 1, item 16.



 

SUBSÍDIOS


A Doutrina Espírita surgiu no século XIX com a publicação de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, na França. Foi materializada no mundo pelo esforço do eminente educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail  †  que, ao transmitir os princípios espíritas em cinco obras básicasO Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese — , adotou o pseudônimo de Allan Kardec.

O professor Rivail gozava de destacado prestígio na sociedade francesa da época, não só pelo reconhecido valor de educador emérito, que contribuiu para a reestruturação do ensino na França, mas por ter livre trânsito entre os intelectuais, os oficiais militares e a nobreza, inclusive junto ao imperador Luiz Napoleão, o qual, em diferentes oportunidades, revelou simpatia e interesse pelos fatos espíritas.

Os conteúdos doutrinários espíritas não foram produto da concepção pessoal do professor Rivail, a despeito das inúmeras contribuições por ele fornecidas na correta interpretação dos fatos espíritas, mas transmitidos por Espíritos Superiores, em conhecimento e moralidade, utilizando a desenvolvida sensibilidade psíquica de pessoas denominadas médiuns.

É relevante informar o significado de Doutrina Espírita, transmitido pelos Espíritos Superiores, nas seguintes palavras do Codificador:

  • O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra não mais como coisa sobrenatural, mas, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma multidão de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso mesmo, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo faz alusão em muitas circunstâncias, e é por isso que muitas coisas que Ele disse permaneceram ininteligíveis ou foram falsamente interpretadas. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica com facilidade. (1)

  • O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filocínica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. (2)

Tais conceitos nos conduzem, em consequência, ao objeto do Espiritismo:


Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da Natureza, a reagir incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro […] (3)


Allan Kardec analisou racionalmente os fatos espíritas, transmitidos por mais de mil médiuns, residentes na França, na Europa e em outras partes do mundo. Aplicou na análise dos fatos espíritas a metodologia utilizada pelas ciências experimentais, antes de organizar um corpo de Doutrina e publicá-los na forma de um Código. Por este motivo, Allan Kardec é cognominado Codificador da Doutrina Espírita.

O Espiritismo é uma doutrina espiritualista que apresenta abrangência tríplice, sustentada em três colunas ou aspectos: científico, filosófico e religioso (ou moral). Desta forma, o Espiritismo revela a existência do mundo espiritual, a influência deste sobre as criaturas humanas que possuem corpo físico (encarnadas), e as consequências, intelectuais e morais, que resultam do intercâmbio entre os dois Planos de vida. Sendo assim, a Doutrina Espírita, ou o Espiritismo

  • […] apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Por sua essência, ela contrai aliança com a Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária à vontade de Deus, autor daquelas leis […] (4)

  • […] O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação […]. (3)

1. ACONTECIMENTOS QUE MARCARAM O SURGIMENTO DA DOUTRINA ESPÍRITA


Os fatos ou fenômenos espíritas acompanham a Humanidade, desde que encarnou o primeiro homem no Planeta. O intercâmbio entre os chamados mortos (desencarnados) e os vivos (encarnados) faz parte da natureza humana, do seu psiquismo. Mas nos tempos passados esse intercâmbio era cercado de misticismo, adquirindo características sobrenaturais.

Com o advento do Espiritismo, tais aspectos perderam força, uma vez que passaram a ser explicados racionalmente. Mas, ao longo da história da civilização humana, sempre existiram filósofos, cientistas e religiosos, iniciados ou não nas verdades espirituais, que estiveram envolvidos com esses fatos, denominados mediúnicos pela Doutrina Espírita. Em determinados momentos da História as manifestações mediúnicas foram vistas como um privilégio, produzindo respeito e distinção aos médiuns. Em outras épocas, porém, serviram de palco para perseguições, torturas e morte.

No século XIX os fatos espíritas ocorreram de forma notável em diferentes nações do Planeta, especialmente nos Estados Unidos da América e na França, adquirindo feição de uma invasão organizada pelos Espíritos. Nos EUA, em 31 de março de 1848, teve início uma série de ocorrências mediúnicas, na forma de ruídos, barulhos, pancadas, etc, manifestadas na casa da família Fox,  †  †  que vivia na pequena cidade de Hydesville [A antiga aldeia já não existe mais, ela foi anexada ao Município de Arcadia, New York]  † , no estado de Nova Iorque. O autor dos acontecimentos foi o Espírito Charles Rosna, que, mais tarde, relatou ter sido assassinado e sepultado na residência, em época passada. Os médiuns diretamente envolvidos nos fatos eram duas adolescentes: as irmãs Katherine e Margareth Fox, de 11 e 14 anos de idade, respectivamente. Tais fatos passaram à posteridade com o nome de Fenômenos de Hydesville.

A partir de 1850 o impacto da manifestação dos Espíritos é transferido para o continente europeu e, em especial, a França, onde recebeu o nome de mesas girantes. Em geral, as pessoas utilizavam uma pequena mesa redonda de três pés, à volta da qual se sentavam, .mantendo as mãos sobre a sua superfície. À medida que as perguntas eram pronunciadas pelos circunstantes, a mesa produzia movimentos, girava, firmava-se sobre um dos pés, ou emitia sons, como que vindos do interior da madeira, marcando letras do alfabeto ou as palavras “sim” e “não”. A conversa com os Espíritos era, em geral, frívola, transformando-se em modismo, presente nas reuniões sociais que se estendiam pela noite, nas festas, saraus e recitais. Entretanto, constatou-se que entre aquelas respostas frívolas surgiam, ocasionalmente, outras sérias, de nível intelectual e moral elevados, conforme a natureza da pergunta que era dirigida ao comunicante espiritual.

Em 1854 Kardec ouviu falar, pela primeira vez, dos fatos espíritas. Em 1855 presenciou o fenômeno das mesas girantes na casa das senhoras Roger e Plainemaison. Foi, porém, nas reuniões da residência da família Boudin que teve contato mais direto e profundo com os Espíritos, percebendo a seriedade de que os acontecimentos se revestiam. Esclareceu a respeito:

  • Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se limitava ao grau de adiantamento, a que haviam alcançado, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles. (5)

  • O simples fato da comunicação com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até então sem explicação. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela comunicação nos permitia conhecer o estado desse mundo, seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Logo vi que cada Espírito, em virtude da sua posição pessoal e dos seus conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo como se chega a conhecer o estado de um país, interrogando habitantes de todas as classes e de todas as condições […]. (6)

2. ANÁLISE DOS FATOS ESPÍRITAS


A formação científica de Allan Kardec lhe permitiu encarar os fatos espíritas com lucidez, sem negá-los ou aceitá-los, de imediato, só opinando a respeito após criteriosa análise racional. Aplicou a combinação de quatro critérios na tentativa de julgá-los com acerto, mantendo cuidadosa postura antes de emitir conclusões ou fazer publicações. Os critérios foram:

  • Humanismo: pesava sempre os valores éticos e as consequências morais das novas ideias.

  • Racionalismo: utilizou, com sabedoria, os seguintes instrumentos do método experimental, que lhe forneciam a visão do todo e das partes: observação; análise crítica e criteriosa dos fenômenos; conclusões lógicas.

  • Intuição: agiu com bom senso, equilíbrio intelectual e sem fanatismo, sempre que não encontrava resposta racional para um fato.

  • Universalismo: impôs controle universal dos ensinos dos Espíritos, pela aplicação da metodologia científica. Conjugou então, razão e sentimento, bom senso e lógica, só aceitando como verdade aquilo que fora submetido à análise racional, pela consulta a outros Espíritos, cujas respostas vinham de diferentes médiuns, da França e de outros países.

Podemos afirmar que a análise dos fatos seguiu a sequência de sete passos, assim especificados:

  • Observação apurada dos fatos.

  • Registro das observações.

  • Comparação de dados, consultando Espíritos e médiuns quantas vezes fossem necessárias.

  • Análise racional e criteriosa dos resultados.

  • Sistematização dos dados.

  • Conclusões finais.

  • Publicação parcial na Revista Espírita, e final, nos livros da Codificação.

A utilização desse roteiro teve, por sua vez, fundamentação nos seguintes princípios, publicados pelo Codificador na Introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo: (7)

1. “O Espiritismo não tem nacionalidade, não faz parte de nenhum culto particular, nem é imposto por nenhuma classe social, visto que qualquer pessoa pode receber instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo.”

2. A “[…] universalidade no ensino dos Espíritos faz a força do Espiritismo; aí reside também a causa de sua tão rápida propagação.”

3. “[…] Daí resulta que, com relação a tudo o que esteja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser consideradas como opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que seria imprudente aceitá-las e propagá-las levianamente como verdade absoluta.”

4. “O primeiro controle é, incontestavelmente, o da razão, ao qual é preciso submeter, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em notória contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possui, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traz como assinatura.”

5. “Mas, em muitos casos, esse controle ficará incompleto em razão da insuficiência de conhecimentos de certas pessoas e da tendência de muitos a tomar a própria opinião como juízes únicos da verdade. Em semelhante caso, o que fazem os homens que não depositam absoluta confiança em si mesmos? Vão buscar o parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta […].”

6. “A concordância no que ensinam os Espíritos é, pois, o melhor controle […]. Prova a experiência que, quando um princípio novo deve ser revelado, ele é ensinado espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo e de modo idêntico, se não quanto à forma, pelo menos quanto ao fundo.”

7. “Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias.”

8. “O princípio da concordância é também uma garantia contra as alterações que, em proveito próprio, pretendessem introduzir no Espiritismo as seitas que dele quisessem apoderar-se, acomodando-o à sua vontade.”

ORIENTAÇÕES AO MONITOR


1. Fazer breve exposição introdutória do assunto, fornecendo visão panorâmica dos conteúdos desenvolvidos neste Roteiro.

2. Dividir a turma em dois grupos, cabendo a um deles a leitura, a troca de ideias e a síntese do item Acontecimentos que marcaram o surgimento do Espiritismo. O outro grupo realiza as mesmas atividades, porém, em relação ao item Análise dos fatos espíritas.

3. Sugerir aos grupos a indicação de relator para apresentar, em plenária, a síntese do texto lido.

4. Esclarecer possíveis dúvidas, destacando pontos importantes do que foi estudado.



REFERÊNCIAS

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Capítulo 1, item 5, p. 59.

2. Idem: O que é o Espiritismo. 54. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Preâmbulo, p. 54-55.

3. Idem: A gênese: os milagres e as predições. Tradução de Evandro Noleto Bezerra.. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo 1, item 16, p. 31.

4. Idem: Item 55, p. 58.

5. Idem: Obras póstumas. Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Segunda parte, item: A minha primeira iniciação no Espiritismo, p. 350.

6. Idem ibidem: p. 350-351.

7. Idem: O Evangelho segundo o Espiritismo. Op. Cit. Introdução, item II: Controle universal do ensino dos Espíritos, p. 25-35.


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