O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO III — ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS
Módulo III — Os vícios e as Virtudes

Roteiro 6


Virtudes: conceito e classificação


 

Objetivos: Citar o conceito espírita e não espírita de virtude.Analisar a classificação das virtudes.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Virtude é qualidade do que se conforma com o considerado correto e desejável do ponto de vista da moral, da religião, do comportamento social. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, p. 1951. [v. também: http://www.dicionariodoaurelio.com/Virtude]

  • Para o Cristianismo, assim como para a Filosofia, as virtudes são qualidades efetivadas pelo hábito, tendo como base a atuação simultânea da inteligência e da vontade. São as virtudes que regulam os atos humanos, ordenam suas paixões e guiam sua conduta, segundo a razão e a fé. Entretanto, os teólogos cristãos consideravam as virtudes como uma concessão divina, jamais uma conquista evolutiva do Espírito. [Reflexões extraídas do artigo de Marta Antunes. As virtudes essenciais. Rio de Janeiro: FEB, Revista Reformador. Janeiro de 2009. Ano 127. N.º 2.158; http://www.febnet.org.br/reformadoronline/edicoes-anteriores/2009/reformador-Janeiro-2009.pdf]

  • Na visão Espírita, a virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 17, item 8.

  • As […] virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. […] A mais meritória é a que se baseia na mais desinteressada caridade. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos. Questão 893.



 

SUBSÍDIOS


Virtude (do latim virtus) é a […] disposição constante de praticar o bem e evitar o mal; […] qualidade própria para produzir certos efeitos […]. (1) É mais do que uma simples potencialidade ou uma inclinação para a realização de uma determinada ação considerada nobre, mas uma verdadeira disposição que se manifesta sempre em benefício do outro.


O significado é genérico quando aplicado a tudo o que é considerado correto e desejável em relação à moral, à ética, à vida em sociedade, às práticas educacionais, científicas e tecnológicas, assim como à eficácia na execução de uma atividade. Em sentido específico o conceito se restringe a duas capacidades humanas: conduta moral no bem e habilidade para fazer algo corretamente. (2)


1. Conceitos filosóficos de virtudes


Os primeiros registros sobre a virtude aparecem nos tempos da Grécia de Homero com a palavra areté, que etimologicamente, significa excelência. O pensamento da época, contudo, não empregava a palavra areté unida à concepção de moralidade que, em geral, faz parte da concepção atual de virtude. Nos poemas homéricos, ela era utilizada para “definir a excelência de qualquer tipo: o corredor veloz exibe a areté dos pés e o filho supera os pais em todos os tipos de areté — como atleta, soldado e intelectualmente.” (3)

A palavra grega areté foi, mais tarde, traduzida para o latim como virtus, dando origem à forma atualmente usada em nossa língua e nas outras línguas latinas.

É possível que a sistematização dos estudos sobre a virtude comece, efetivamente, com Sócrates (470-399 a.C), filósofo grego da Antiguidade, para o qual a virtude se identificava com o bem (aspecto moral) e representava o fim da atividade humana (aspecto funcional ou operacional). Pelo aspecto moral, o homem virtuoso sabe discernir o bem e o mal. Pelo sentido funcional, ou fim da atividade humana, a virtude é a capacidade de bem realizar uma tarefa.

Para Sócrates (470-399 a.C.) “[…] o homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação, existia unida aos tipos primordiais, às idéias do verdadeiro, do bem e do belo; […].” (4) Além disso, segundo a doutrina Socrática “[…] a virtude não pode ser ensinada; vem por dom de Deus aos que a possuem. […]. (5) Nesta concepção, se o homem é a própria alma, então a sua areté é tudo que lhe engrandece a alma, que depende do maior ou menor conhecimento adquirido pelo homem. (6) Com tais pensamentos vemos que Sócrates associava a areté aos bens intrínsecos da alma e não às qualidades exteriores, adquiridas por educação ou prática, conceituação admitida à época de Homero.


Seja como for, e como reconhece o próprio Aristóteles, a doutrina da virtude-ciência — que supõe […] resolvido o problema da aquisição da virtude pelo sábio — ao estabelecer a necessidade da razão para a prática da virtude, inaugura a história da Ética como ciência do ethos, e essa será a marca indelével de sua origem socrática. (7)


Segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, a virtude seria entendida como uma “pré” disposição ou qualidade inata para o bem, que pode ser adquirida e aperfeiçoada pelo hábito, através da força da vontade. Ensinava também que a repetição dos bons hábitos gerava os bons costumes, daí serem as virtudes tão socialmente valorizadas.

Aristóteles considerava, todavia, que os atos impostos pela vontade, no sentido do desenvolver de virtudes, deveriam ser praticados na medida justa, nem mais nem menos, a fim de que o indivíduo não se sentisse pressionado em se transformar, de uma hora para outra, em alguém que ainda não tinha ainda condições de ser.

Percebemos, então, que o conceito de virtude para os filósofos da Antiguidade abrangia duas ordens de idéias: um dom inato que, pela prática ou educação, poderia ser desenvolvido.


Outros filósofos, surgidos ao longo da história humana, aceitaram parcialmente as idéias de Sócrates, Platão e, em especial, as de Aristóteles. Porém, acrescentaram que a virtude poderia representar também qualquer tipo de habilidade humana e não apenas as relacionadas à moralidade que se destaca independentemente dos resultados que produz. Immanuel Kant  †  (1724-1804), por exemplo, a despeito de ser considerado um dos mais notáveis filósofos da Idade Moderna, não utilizava, em seus ensinos, a palavra virtude como uma qualidade moral, substituindo-a por moralidade. A palavra virtude era empregada apenas no sentido de cumprimento do dever porque este poderia ser definido e controlado pela razão. (8)


2. Conceitos cristãos de virtudes


Ainda que a noção de virtude encontra-se presente em algumas tradições orientais, vinte séculos antes de Cristo, só adquiriu significativa importância com o advento das idéias cristãs. Alguns teólogos e filósofos cristãos entendiam que as virtudes são qualidades efetivadas pelo hábito, tendo como base a atuação simultânea da inteligência e da vontade. Assim, seriam as virtudes que regulariam os atos humanos, que ordenariam as paixões e guiariam a conduta, segundo a razão e a fé.

Por outro lado, importa considerar que a maioria dos teólogos cristãos considerava as virtudes como uma concessão, ou graça, divina. Para o pensa- mento de muitos a concessão divina estaria apenas em estado embrionária em alguns indivíduos, ou plenamente desenvolvida, em outros. A concessão de virtudes era critério determinado por Deus. Jamais cogitaram, contudo, que a aquisição de virtudes poderia ser conquista evolutiva do Espírito.

Em resposta à pergunta se a “virtude é concessão de Deus, ou é aquisição da criatura” (9), Emmanuel responde:


A dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade sagrada concedida por Deus às suas criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude é sempre sublime e imorredoura aquisição do espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio. (9)


Os orientadores da Codificação Espírita esclarecem, inclusive, que há “[…] virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. Mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem segundas intenções. A mais meritória é a que se baseia na mais desinteressada caridade”. (10) Neste aspecto, ensina Emmanuel:


Cada qual de nós, no internato da reencarnação, é examinado nas tendências inferiores que trazemos das existências passadas, a fim de aprendermos que somente nos será possível conquistar o bem, vencendo o mal que nos procure, tantas vezes quantas necessárias, mesmo além do débito pago ou da sombra extinta. Fácil, pois, observar que sem a presença da tentação, a virtude não aparece e assim será sempre para que a inocência não seja uma flor estéril e para que as grandes teorias de elevação não se façam sementes frustras no campo da Humanidade. (11)


3. Classificação das virtudes


Para Sócrates existem quatro virtudes fundamentais, também denomina das virtudes cardeais, que se encontram explicadas no livro A República †  escrito por Platão. São virtudes consideradas essenciais porque representam a chave para a conquista das demais.

Tendo como base as virtudes cardeais socráticas, Aristóteles (384-322 a.C) “[…] classificou as virtudes em dois grupos, quanto à natureza, classificação aceita nos dias atuais: virtudes éticas ou do caráter — indicam todas as qualidades ético-morais, inclusive o dever, as quais nem sempre são submetidas à razão; virtudes dianoéticas ou do pensamento — abrangem as competências intelectuais (inteligência, discernimento, conhecimento científico, aptidões técnicas), controladas pela razão. (2)


As primeiras são desenvolvidas pela educação e pela prática que conduz ao hábito. Filósofos, do passado e do presente, defendem a idéia de que as virtudes ético-morais são dons inatos, desenvolvidos por seres humanos especiais. Diferentes interpretações religiosas pregam que essas virtudes somente ocorrem por graça ou concessão divinas. As segundas, as virtudes dianoéticas ou do pensamento, podem ser ensinadas por meio da instrução, daí serem muito valorizadas pelas ciências humanas, sobretudo as educacionais. (2)


Com o Cristianismo, as virtudes cardeais sofreram acréscimos teológicos, sobretudo no período que constituiu a Idade Média (Agostinho e Tomás de Aquino são os teólogos católicos que mais forneceram contribuições). Alguns desses acréscimos foram bons, outros não.

Na visão Espírita, a virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem.


3.1 Classificação filosófica das virtudes


Virtudes cardeais (Sócrates/Platão) (12)

  • Prudência, também conhecida como sabedoria. “É a virtude do conhecimento superior, das coisas excelentes. O grau mais elevado do conhecimento.” (13)

  • Fortaleza, entendida como coragem. É a “opinião reta e conforme a lei sobre o que se deve e o que não se deve temer.” (14) É a virtude do entusiasmo (thymoiedés), a que administra os impulsos da sensibilidade, dos sentimentos e do afeto.

  • Temperança, vista como autodomínio, medida, moderação. É a “amizade e a concordância das partes da alma, existentes quando a parte que comanda e as que obedecem concordam com a opinião do que cabe ao princípio racional governar, e assim não se lhe opõem.” (15) Neste sentido a temperança aplica-se tanto ao indivíduo como ao Estado.

  • Justiça estabelece discernimento entre o bem e o mal. “Pode estabelecer dois significados principais: 1º Justiça como conformidade da conduta a uma norma; 2º Justiça como eficiência de uma norma (ou sistema de normas), entendendo-se por eficiência de uma norma certa capacidade de possibilitar as relações entre os homens.” É a virtude que conduz à equidade, ao saber considerar e respeitar o direito do outro, a valorizar ações e coisas que garantem o funcionamento harmonioso da vida, individual e coletiva. (16)

Virtudes éticas (Aristóteles) (17)


São em número de sete, e estão relacionadas à moralidade.

  • 1. Coragem — é “o justo meio entre o medo e a temeridade. É a virtude da firmeza de propósitos.” (14)

  • 2. Temperança — esta virtude age sobre os impulsos do instinto, colocando freios nos prazeres e paixões corporais. “Consiste no justo uso dos prazeres físicos, sobretudo os prazeres “que derivam da alimentação, da bebida e do sexo.” (15)

  • 3. Liberalidade — qualidade da pessoa generosa ou pródiga. Mais tarde, com o Cristianismo, este conceito aristotélico evolui para o de caridade. (18)

  • 4. Magnanimidade — qualidade da pessoa indulgente e tolerante, que sabe perdoar ofensas. Segundo Aristóteles, a virtude que consiste em desejar grandes honras e ser digno delas. […] Esta virtude acompanha e “engrandece” todas as outras. Quem é digno de pequenas coisas e se considera digno delas é moderado, mas não magnânimo, a Magnanimidade é inseparável da grandeza.” (19) Este conceito, modificado por Descartes, é o aceito atualmente: “[…] identifica-se com a virtude de avaliar-se de acordo com seu próprio valor e não sentir ciúme “ ou inveja. (19)

  • 5. Mansidão — é a brandura de índole, de forma de agir ou de expressar.

  • 6. Franqueza — a virtude expressa no sentido de “dizer a verdade”; de ser sincero, não de ser rude.

  • 7. Justiça — “é a virtude integral e perfeita: integral porque compreende todas as outras, perfeita porque quem a possui pode utilizá-la não só em relação a si mesmo, mas também em relação aos outros.” sendo esta última considerada pelo filósofo como a maior de todas as virtudes éticas. (16)

Virtudes dianoéticas (Aristóteles) (20)


São em número de cinco. Todas apresentam natureza intelectual e são governadas pela razão.

  • Arte ou “hábito, acompanhado pela razão, de produzir algumas coisa” não se refere, necessariamente, à concepção atual obra artística, mas de qualquer produção humana que tem significado. (21)

  • Ciência — conhecimento que se demonstra ou comprova, não é uma mera opinião. (22)

  • Sabedoria ou “o mais perfeito dos saberes”; afirmava Aristóteles se “a sabedoria pode ser chamada ao mesmo tempo de intelecto e ciência, a.n encabeçando todas as ciência será a ciência das coisas excelentes” (23)

  • Sapiência — é a virtude dos sábios, dos que possuem sabedoria, a que se expressa em “grau mais elevado do conhecimento, ou seja, o mais sólido e completo. Por ter como objetivo as coisas elevadas e sublimes, que são as coisas divinas.” (23)

  • Intelecto — termo utilizado pelos filósofos com dois sentidos: “1ºgenérico, como faculdade de pensar em geral; 2º específico, como uma atividade ou técnica particular de pensar.” (24) Aristóteles, e também Platão, admitia o primeiro conceito, pois o intelecto, definido como capacidade de pensar, “confere limites, ordem e medidas às coisas”. (24)

É importante fazer distinção entre duas virtudes que fazem parte dessa classificação aristotélica: sabedoria faz referência à pessoa que possui muito conhecimento, mas nem sempre possui moralidade compatível. A sapiência significa erudição sempre associada à moral.

Em O Livro dos Espíritos, item Escala Espírita, essas duas virtudes aristotélicas (sabedoria e sapiência) apresentam, igualmente, diferenças, assim especificadas quando são caracterizadas três classes dos Bons Espíritos, entre as cinco que compõe a ordem.


Quarta classe. ESPÍRITOS DE CIÊNCIA. — Distinguem-se especialmente pela amplitude de seus conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as científicas, para as quais têm maior aptidão; entretanto, só encaram a Ciência do ponto de vista da utilidade e jamais dominados pelas paixões peculiares aos Espíritos imperfeitos. (25)


Terceira classe. ESPÍRITOS DE SABEDORIA. — As qualidades morais da ordem mais elevada constituem o seu caráter distintivo. Sem possuírem conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo reto sobre os homens e as coisas. (26)


Segunda classe. ESPÍRITOS SUPERIORES. — Reúnem em si a ciência, a sabedoria e a bondade. Sua linguagem, que só transpira a benevolência, é constantemente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. […] Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que a Humanidade pode aspirar neste mundo. (27)


3.2 Classificação teológica das virtudes (28)


A teologia católica e a protestante consideram que há três tipos de virtudes, denominadas teologais, ou essenciais, e, outras, as secundárias, que decorrem das primeiras. O grande equívoco da interpretação teológica é supor que as virtudes, sobretudo as teologais, são concedidas ao homem por graça ou favor divinos.

Por esta interpretação, não se admite que o ser humano possa pelo próprio esforço, atingir o estado de plenitude espiritual ou de bem-aventurança, pelo esforço de adquirir e desenvolver virtudes. Sendo assim, as pessoas que possuem tais virtudes, as receberam por concessão divina. É um privilégio que Deus lhes concedeu.

As virtudes teologais passaram, então, a apresentar um caráter sobrenatural, em razão desse conceito de intervenção divina. Não deixa, porém, de ser ensino teológico restritivo, pois ignora os esforços individuais, o trabalho de livre arbítrio, entre outros, ainda que, a priori, todas as bênçãos vêm de Deus.

As virtudes teologais são:


1. Fé — em termos filosóficos significa crença religiosa entendida “como confiança na palavra revelada. Enquanto a crença, em geral, é o compromisso com uma noção qualquer, Fé é o compromisso com uma noção que se considera revelada ou testemunhada pela divindade.” (29)

Em relação à teologia, a palavra fé é sinônima de fidelidade (o hebraico emunl, emunah) no Velho Testamento, isto é, fidelidade a Deus. O vocábulo pode ser interpretado também como ato de “crer”, de “confiar” ou de “esperar”. (30) No Novo Testamento a palavra fé é muito comum, aparecendo mais de 240 vezes.  (31) Esta é a interpretação teológica:


A fé é atitude mediante a qual o homem abandona toda confiança em seus próprios esforços para obter salvação, que sejam eles ações de piedade, da bondade ética, ou seja lá o que for. É atitude de completa confiança em Cristo, de dependência exclusiva dele, a respeito de tudo quanto está envolvido na salvação.  (31)


Para o Espiritismo, não há dúvida de que devemos depositar irrestrita confiança em Jesus, mas ensina que cabe ao homem fazer a sua parte, para evoluir.

Assim, segundo a Doutrina Espírita, no


[…] homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros: é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação de sua vontade. […] O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao objetivo que tem em vista, e essa certeza lhe dá uma força imensa. O homem de bem, crente em seu futuro celeste, deseja preencher a sua existência de belas e nobre ações, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres da caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se não consiga vencer.  (32)


Em síntese: “[…] Fé inabalável é somente a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.”  (33)


2. Esperança — que é vista mais como uma emoção, a mais fundamental delas, segundo a Filosofia, do que conceito virtude, em seu amplo significado.  (34)

Para as religiões cristãs tradicionais, esperança é a capacidade de entregar se nas mãos do Cristo, aguardando o futuro sem medo e temor, pois onde “[…] existe a crença no Deus vivo, que age e intervém na vida humana, e no qual pode confiar de que porá em vigor as suas promessas, a esperança, no sentido especificamente bíblico, se torna possível.”  (35)

Não devemos abandonar a esperança, em qualquer situação.


Não […] te deixes arrasar elas aflições transitórias que te visitam com fins regenerativos ou edificantes. […] Não importa, entretanto, o problema, embora sempre nos pesem as responsabilidades assumidas, quaisquer que sejam. Desliga-te, porém, do pessimismo e do desânimo, recordando que a vida, — mesmo na vida que desfrutas, — em suas origens profundas, não é obra de tuas mãos. Recordemos isso e seja de que espécie for a provação que te amargue a alma, continue trabalhando na sustentação do bem geral, porquanto […] reconhecerás, para logo, que o amor é um sol a brilhar para todos e que ninguém existe sem esperança e sem Deus.  (35)


3. Caridade — é “a virtude cristã fundamental porque consiste na realização do preceito cristão fundamental: “Ama o próximo como a si mesmo.”

Em relação à caridade, recomenda o Espiritismo:


Sede bons e caridosos, pois essa é a chave dos céus, chave que tendes em vossa mãos. Toda a eterna felicidade se acha contido neste preceito: Amais-vos uns aos outros. A alma não pode elevar-se às altas regiões espirituais, senão elo devotamento ao próximo e só encontra consolação e ventura nos arroubos da caridade. […]. A caridade é a virtude fundamental que há de sustentar todo o edifício das virtudes terrestres. Sem a caridade não há esperança de melhor sorte, não há interesse moral que nos guie; sem a caridade não há fé, pois a fé não passa de um raio muito puro que torna brilhante a alma caridosa. A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação: é a mais pura emanação do Criador: é a sua própria virtude, dada por Ele à criatura. […]. (36)


ORIENTAÇÕES AO MONITOR:

  • Fazer breve exposição dos conceitos e da classificação de virtude, de acordo com a Filosofia e a Religião Cristã.

  • Em seguida, dividir a turma em quatro grupos para discutir e apresentar uma análise sobre os seguintes temas:

    a) Conceitos de virtude: espírita e não espírita.

    b) Virtudes cardeais.

    c) Virtudes éticas e dianoéticas.

    d) Virtudes teologais.

  • Ao final dos debates, o monitor deve fazer uma síntese do estudo, procurando esclarecer possíveis dúvidas, fortalecendo o entendimento do assunto.




Referências:

1. KOOGAN-HOUAISS. Enciclopédia e dicionário ilustrado. 4 ed. Rio de Janeiro: Seifer, 2000, p. 1666. [v. também: http://www.dicionariodoaurelio.com/Virtude]

2. MOURA, Marta Antunes. As virtudes essenciais. Rio de Janeiro: FEB, Revista Reformador. Janeiro de 2009. Ano 127. N.º 2.158, p. 26. [http://www.febnet.org.br/reformadoronline/edicoes-anteriores/2009/reformador-Janeiro-2009.pdf]

3. MACINTYRE, Alasdair. Depois da Virtude. Trad. Jussara Simões. Bauru: EDUSC, 2001, p. 211.

4. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Introdução IV, p. 44.

5. Idem, ibidem - Item 17, p. 52.

6. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga I: Das origens a Sócrates. Tradução de Marcelo Perini. São Paulo: Editora Loyola, 1999. p. 267-268.

7. VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 97.

8. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 4. Ed. São Paulo, Martins Fontes, 2003. Item: Moralidade, p. 683.

9. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, pergunta 253, p. 206.

10. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 893, p. 535.

11. XAVIER, Francisco Cândido. Alma e coração. Pelo Espírito Emmanuel. São Paulo: Pensamento, 2006. Capítulo 59, p. 128.

12. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Op. Cit. Item: Virtudes cardeais, p. 117.

13. Idem - Item: Sabedoria, p. 864.

14. Idem - Item Coragem, p. 210.

15. Idem - Item Temperança, p. 944.

16. Idem - Item: Justiça, p. 594.

17. Idem - Item: Virtudes éticas, p. 387.

18.  Idem - Item: Caridade, p. 118.

19. Idem - Item: Magnanimidade, p. 637.

20. Idem - Item: Dianoético, p. 275.

21. Idem - Item: Arte, p. 81.

22. Idem - Item: Ciência, p. 136.

23. Idem - Item: Sabedoria, p. 864.

24. Idem - Item: Intelecto, p. 571.

25. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. Cit. Questão 109, p. 134.

26. Questão 110, p. 134.

27. Questão 111, p. 134.

28. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Op. Cit. Item: Virtudes teologais, p. 949.

29. Idem - Item: Fé, p. 431.

30. DOUGLAS, J. D (organizador). O novo dicionário da Bíblia. Tradução de João Bentes. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 2006. Item: Fé, p. 496.

31. Idem, ibidem - p. 497.

32. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Op. Cit. Capítulo XIX, item 12, p. 377-378.

33. Idem - Item 7, p. 374.

34. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Op. Cit. Item: Esperança, p. 354.

35. XAVIER, Francisco Cândido. Mãos unidas. Pelo espírito Emmanuel. 24 ed. Araras [SP]: IDE, 2008. Capítulo4, p. 22-23.

36. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Op. Cit. Capítulo XIII, item 12, p. 270-271.


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